O monopólio da Rede Globo hoje se pretende “campeão” da democracia. O maior conglomerado de imprensa da América Latina vocifera afrontas e enxovalhos à extrema-direita golpista, sobretudo após a invasão aos palácios dos “três poderes” no dia 8 de janeiro. Aos que não têm memória de peixe, é evidente que essa súcia de extrema-direita foi amestrada desde sempre no anticomunismo pelo Grupo Globo, apontando-lhes alvos e dando-lhes palanques em suas coberturas, em especial, nos últimos 10 anos.
Em sua história, o monopólio de imprensa apoiou descaradamente o regime militar fascista de 1964 e, até o último minuto, defendeu a continuidade do regime: um ano antes da “reabertura”, quando 300 mil pessoas se manifestaram em São Paulo em defesa das liberdades democráticas, a Globo noticiou no Jornal Nacional uma “comemoração pelo aniversário da cidade”. Hoje, a Globo colhe os frutos de uma extrema-direita que alimentou e sustentou politicamente.
FOMENTANDO A EXTREMA-DIREITA
No ano de 2015, na cruzada da ética fascista conduzida pelo monopólio de imprensa, o jornal O Globo estampou em sua capa do dia 16 de março que a “Democracia tem novo 15 de março”, em referência a um dos multitudinários protestos dos que vieram a se radicalizar como bolsonaristas, financiados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e endossados pelos monopólios de imprensa.
Em artigos intitulados “O que pensam os organizadores dos protestos” e “Saiba quem são e o que pensam líderes de protestos neste domingo”, publicados na Época Negócios (do Grupo Globo) e no portal G1, entrevistaram golpistas de extrema-direita que pediam por intervenção militar, chamando-os de “líderes” dos protestos.
Marcello Reis, fundador do grupo Revoltados Online, quando questionado sobre seu posicionamento político pela Época Negócios, afirmou em 12 de abril de 2015: “Olha, a intervenção militar é o último vagão da nossa locomotiva. Está na Constituição. Mas é a última instância. Primeiro nós temos que ir pelos atos democráticos e temos que exercê-los. Mas não que a intervenção seja antidemocrática: se for preciso, as Forças Armadas têm que realmente se posicionar. Mas repito: é o último vagão da nossa locomotiva. Acredito principalmente em uma coisa quando vejo uma ação pedindo a volta dos militares: primeiro, não se pede para os militares cumprirem seu dever, como também não se pede para o médico [grifo nosso]”.
Já no portal G1, outra matéria que afirmava que “Defesa do impeachment e da intervenção militar dividem lideranças” apontava como liderança das manifestações Renato Tamaio, do grupo Intervencionistas Independentes – S.O.S. Forças Armadas. Descrevia-se a organização da seguinte forma: “[o] Grupo defende a intervenção militar e diz que somente a saída da presidente não será suficiente”. Renato Tamaio, quando questionado, afirmou que “o grupo defende uma intervenção militar no país para depor a presidente, os deputados eleitos e ainda os ministros do Supremo Tribunal Federal”. Segundo ele, o governo militar seria provisório, com o objetivo de fazer uma “faxina” e chamar novas eleições.
Na mesma manifestação – classificada como “democrática” e exemplo de “sentimento cívico e patriótico” pelo O Globo – estavam presentes cerca de 20 pessoas do grupo fascista “Carecas do Suburbio”, que carregavam rojões, explosivos e soco inglês.
A revista Istoé – que nas suas últimas edições exige a punição à extrema-direita –, escrevia sobre a manifestação do mesmo dia, sem ruborescer, o seguinte: “Os cartazes pediam desde intervenção militar à saída do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), taxado de ‘corrupto’ em palavras de ordem.”.
A fisioterapeuta Paula Rocha, de 39 anos, chegou a ser entrevistada pela revista, e dizia ser “100% a favor da intervenção militar”. Em um dos carros de som, o empresário Jonhyelson Pimentel, se pronunciava pelo grupo Movimento Brasil Melhor, que pedia a intervenção militar: “Todas as opções democráticas possíveis estão se esgotando e não podemos perecer num governo que vai implantar um ditadura comunista no país”, defendeu. Na manifestação, cartazes levantados diziam “S.O.S forças armadas” e “intervenção militar já”.
Ainda em 2015, a Globo fazia inserções durante sua programação habitual (em programas de esportes e outros), divulgando as datas e locais das manifestações, em clara propaganda dos atos.
Além disso, entre os anos de 2015 e 2016, nas páginas que veiculavam as opiniões dos leitores nos jornais O Globo e Folha de São Paulo – dois jornais de maior circulação nacional –, não faltavam opiniões anticomunistas, reproduzindo teorias reacionárias.
Em 2019, logo após a eleição de Bolsonaro, Merval Pereira escreveu para O Globo o artigo “Bolsonaro e os Militares”, onde se lê: “Ficou-se sabendo também que quando Bolsonaro fala em ‘livrar o país do socialismo’, não está falando à toa. Ecoa um sentimento arraigado nas Forças Armadas de que o PT tentou levar o país para o socialismo, num esquema regional montado pelo Foro de São Paulo, agrupamento de esquerda coordenado por Lula e Fidel Castro que chegou a ter quase o monopólio político dos governos da América Latina. [grifo nosso]”. E conclui: “Essa desconfiança em relação ao PT se deve a fatos concretos”, prosseguindo a destrinchar o que seria uma tentativa de golpe do PT para instaurar o socialismo em 2016.
Eis aí a direita liberal reacionária. Muito embora atualmente se choque com os atos da extrema-direita de 8 de janeiro, são os mesmos que, ano após ano, adestrou-os segundo os objetivos fixados pelas classes dominantes reacionárias – da qual são porta-vozes. Aferrados anticomunistas, os monopólios de imprensa estimularam e aprofundaram a atuação de grupos que estavam surgindo ao mesmo tempo que tentavam pautar os que já existiam. A intervenção militar estampada nas suas cobertura era o palanque dado às posições da extrema-direita. Arquem com a sua cota de responsabilidade pelo movimento de massas de extrema-direita, senhores.
Imagem em destaque: Bando segura faixa pedindo por intervenção militar em uma das manifestações na Avenida Paulista, financiada pela Fiesp e endossada pelo monopólio de imprensa, no dia 31 de julho de 2016. Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil