Quisera ter a alegria de falar nos ataques da oligarquia financeira sobre o orçamento das famílias como algo do passado, uma bolsonarada destinada a ser revogada pelo governo dito de oposição a essa canalha.
Mas não! Este governo não deixa!
Passou um pouco despercebido, mas em agosto deste ano o Tesouro Nacional, leia-se Fernando Haddad, lançou no mercado títulos financeiros denominados Educa +, destinados às famílias custearem a formação acadêmica dos seus filhos, inclusive ensino superior e cursos de especialização. O valor inicial do investimento é de R$ 30,00, ou seja, viável para famílias de baixa renda. Segundo um dos financistas que oferecem o papel um aporte de R$ 80 mensais em dezoito anos daria R$500, 00 por mês durante 05 anos. Parentes e amigos podem ajudar a pagar o título.
Tal forma de financiar educação superior é bastante usada num país onde o ensino superior não é gratuito, os Estados Unidos, os College Saving Accounts., onde se constitui na maior fonte de financiamento. É bastante documentada as dificuldades de famílias pobres em manter essas contas. Para as de classes médias e trabalhadores com maiores salários é um item importante do seu consumo.
Que os bancos em seu afã por lucro máximo queiram obter recursos das famílias inclusive das mais pobres das formas as mais bizarras não temos dúvidas, inclusive enganando-as quanto às possibilidades de pagar um curso superior que aumente as chances de empregabilidade com uma mensalidade R$ 500,00. E se essa poupança, ao final, não cobrir as mensalidades, ela pode ser resgatada, com perdas, porém, para os que contribuíram. Ora, quem quer cobrar consignado de bolsa família já mostra que quer especular até com centavos.
Que o governo Lula protagonize tais inovações acende uma luz vermelha em relação às suas intenções a médio e longo prazo quanto a educação universitária pública e gratuita. Um grande processo de privatização mantem-se em curso através de programas como o FIES que estimularam a expansão e concentração do ensino privado em poucos conglomerados financeiros. Aqui, entretanto, foram recursos públicos tirados das universidades públicas que vem sofrendo com cortes orçamentários e contingenciamento de verbas. Quererá o governo Lula substituir esses subsídios públicos por poupança educação, mesmo que algum incentivo fiscal às famílias possa ser dado para estimular essa compra? Trata-se de mais uma ajuda ao capital rentista, nada estranho para quem foi o candidato preferencial do capital financeiro. Fortalece todos os indícios que será leniente com os projetos que a direita já apresenta de instituir mensalidades nas universidades públicas que poderão ser pagas com essa poupança?
Bolsonaro/Paulo Guedes fariam o mesmo, mas para que, então, uma parcela importante da população que não é dona de banco e nem de grande empresa quis mudanças?