Por Comitê de Apoio de AND de Cuiabá e região (MT)
Alguns povos indígenas do Brasil são comumente reconhecidos por sua história e tradição de guerreiros. Os tuxá na Bahia foram exímios guerreiros durante a resistência à invasão holandesa em 1640, ficaram conhecidos como rodelas, porque uma das táticas de dominação moral do inimigo era a de arrancar parte dos ossos do joelho dos inimigos derrotados e ostentar como colar. Outro exemplo, os tupinambás na Bahia, que expulsaram todos os não índios de suas terras recentemente. São muitas ações guerreiras que dão destaque aos kayapós, tupinambás, mundurukus, guarani kaiowá e os avantes. Sendo este último citado, os Xavantes, o objetivo desta matéria.
Ataques e tentativas de dominação não foram capazes de derrotar o ethos guerreiro do povo Xavante que segue resistindo e preservando sua organização social, sua língua e várias tradições fazendo frente a todos os ataques do Estado semicolonial e semifeudal brasileiro. O início da resistência deste povo indígena já soma mais de três séculos, quando eles combateram, no século XVIII, os bandeirantes paulistas após a descoberta de ouro na província de Goiás. Posteriormente, fizeram frente, a partir da década de 1930, às missões religiosas e ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI) – antigo órgão oficial do Estado que tratava questão indígenas substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1967 – dentro da famigerada “Marcha para Oeste” empreendida no primeiro gerenciamento de Getúlio Vargas (1930-1945), assassinando inclusive dois padres Salesianos (1932) e um membro do SPI (1941). Outro importante exemplo do ethos guerreiro do povo Xavante foi a combatividade, a partir da década de 1960, à expansão da pecuária sobre seus territórios, e nas décadas de 1970 e 1980 à expansão da monocultura de grãos (primeiro arroz, depois soja) através de incentivos fiscais. Essas lutas resultaram na demarcação de parte de suas terras, que representa apenas uma pequena parte do que é seu território original. Uma grande vitória dos xavantes, consolidada na década de 1990 com a demarcação da Terra Marawãitsede, foi a batalha pela retomada da fazenda agropecuária Suiá-Missu, um dos maiores latifúndios do Brasil na década de 1970, com cerca de 1,5 milhões de hectares.
Agora, o povo Xavante ou A’uwê, como se autointitulam, um dos maiores povos indígenas do Brasil com aproximadamente 25 mil pessoas, habitantes da região leste do estado do Mato Grosso denunciam mais um ataque contra a unidade do seu povo no seu território tradicional: a rodovia BR-080, que vai de Luis Alves (GO) a Ribeirão Cascalheira (MT) e corta o seu território, empreendida pelo velho Estado brasileiro serviçal do latifúndio através do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
No Mato Grosso é notório e descarado como as rodovias, suas pavimentações e melhorias atendem diretamente os latifundiários, como os benefícios “públicos” explícitos concedidos ao ex-governador do estado e atual Ministro da Agricultura do podre e desmoralizado governo Temer, o latifundiário Blairo Maggi. No caso em específico, o DNIT contratou a empresa Prosul para fazer o estudo do chamado “componente indígena”, empresa esta que responde a várias ações na justiça por perculato, participação em fraudes em licitação de ônibus e não acompanhamento de obras que estavam em sua alçada no estado de Santa Catarina [1].
O Ministério Público Federal notificou o DNIT sobre o processo, dando o prazo de 90 dias para uma nova consulta sobre o encaminhamento dos estudos do “componente indígena” à Funai. Enquanto isso, os xavantes seguem cimentando a sua resistência a mais este ataque a sua unidade territorial e política sem deixar de mirar o seu Maranã Bododi (Caminho na Mata) – como eles chamam todo o seu território tradicional esfacelado por rodovias, monocultura de grãos e hidrelétricas.
Vivo na sua memória o desejo de seu território, por onde realizavam suas longas excursões de caça por meses, e seu ethos de guerreiros são reforçados nos rituais de Oi’ó – quando meninos e meninas com menos de 7 anos se enfrentam com contendas com clavas; nas lutas corporais Wa’i, e nas corridas de tora de buriti, chamadas uiwede, onde chegam a percorrer 8 km. Rituais e cerimoniais de uma verdadeira escola de guerreiros e caçadores que prezam a resistência física, rapidez, agilidade, vigilância e agressividade.
NOTA:
Sobre o assunto ler as matérias abaixo:
http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2015/02/ministerio-publico-de-contas-investiga-desperdicio-de-dinheiro-e-falta-de-fiscalizacao-na-ponte-hercilio-luz-4692767.html
http://www.clicatribuna.com/noticia/geral/servidores-e-proprietario-de-empresa-sao-denunciados-por-peculato-15571