A mídia monopolista burguesa tem elevado vários personagens à categoria de heróis durante a cobertura jornalística brasileira da pandemia do Covid-19. Ou, como bem falou AND dias atrás, existem vários lobos ferozes que o monopólio transformou de repente em dóceis cordeiros. Um deles é o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, talvez o preferido da Rede Globo.
Ex-médico militar, o deputado federal pelo DEM do Mato Grosso do Sul além de ter dado seu apoio a todos os projetos anti-povo já tramitados no Congresso, em Brasília, tem ficha suja como delinquente envolvido em assassinato de indígenas e numa fraude, cometida por ele na Prefeitura da capital Campo Grande, que prejudicou os cofres públicos em 14 milhões de reais, conhecida como “escândalo do GISA”.
MORTE DO íNDIO SIMEÃO
Em agosto de 2015, conforme noticiou AND, uma sequência de ataques de caráter paramilitar conduzidos por fazendeiros, pistoleiros pagos, aliados e policiais culminou com o assassinato do indígena guarani-kaiowa Simeão Vilhalva, 24 anos. O jornal informou que o atentado (na aldeia Nhanderu Marangatu, município de Antonio João, MS) contou inclusive com participação de parlamentares do velho Estado. Pois bem, o deputado Mandetta era um deles.
Tudo começou quando a presidente do Sindicato Rural de Antonio João, Roseli Ruiz, conclamou outros fazendeiros vizinhos para atacar um grupo de guaranis, para impedir que invadissem “suas” terras. Mandetta participou da reunião preparatória ao ataque aos índios, na manhã do sábado 29 de agosto, com a presença de quase 60 fazendeiros.
Alguém apareceu, durante o encontro, com a notícia de que os índios iam entrar na casa de Roseli. Armados, furiosos, tripulando uma frota de caminhonetes, fazendeiros e seus capangas partiram para o confronto, acompanhados por Mandetta. Deram tiros na direção dos guaranis, que causaram uma morte (a do jovem Simeão) e diversos feridos. Uma repórter do El País-Brasil relatou ter visto, no mesmo dia, “dezenas de outros indígenas, incluindo mulheres e crianças, feridos a pauladas ou por tiros de bala de borracha, que deixaram marcas pelo corpo”.
Conforme reportagem de Renan Antunes no Diário do Centro do Mundo, “não foi possível comprovar se ele (Mandetta) estava armado ou se disparou contra os índios, mas mesmo assim ele teve um papel importante no embate: foi a maior autoridade a servir de testemunha em favor dos fazendeiros”.
Foi ele quem afirmou que, pela rigidez do corpo, Simeão Vilhalva estava morto desde horas antes do confronto (“Isso eu posso afirmar, aquele homem não morreu nesse momento em que ouvimos o tiro, mas não sei dizer como e quando foi”). Só que ele mesmo também relatou após, numa entrevista, que não conseguira se aproximar do corpo, e só o vira a 10 metros de distância. Depois, o laudo médico desmentiu sua versão: a morte tinha sido mesmo no período em que o conflito acontecia.
Ou seja: Mandetta teve atitude de cúmplice. Por isso é que indígenas do MS, estado onde se comete a violência mais bárbara contra as tribos, dizem que Mandetta costumava estar (antes de assumir o Ministério em Brasília) sempre envolvido em ações dos latifundiários, seus protegidos.
PLANOS DE SAÚDE E “CASO GISA”
Mandetta é um dos mais importantes nomes da Frente Parlamentar da Saúde, que reúne deputados que representam os interesses dos poderosos e endinheirados planos de saúde privados. Ortopedista de formação, Mandetta presidiu a Unimed de Campo Grande entre 2001 e 2004. Durante a campanha de 2014, quando foi reeleito deputado, Mandetta recebeu doação de R$ 100 mil da Amil.
Por outro lado, o “Escândalo Gisa”, no qual esteve envolvido, aconteceu quando assumiu a Secretaria de Saúde da capital sul-matogrossense a partir de 2005, durante gestão dos prefeitos Nelsinho Trad (MDB) e André Puccinelli. Foi acusado de provocar um prejuízo milionário na fracassada implantação do Gisa (Gestão de Informações em Saúde). Ele respondeu inquérito por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação desse sistema de prontuário eletrônico. Segundo uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), o pagamento foi feito, mas o sistema não foi instalado, com prejuízo de R$ 6 milhões, hoje recalculado em 14 milhões.
CAIADO, UDR E COCAÍNA
A indicação de Mandetta para o Ministério da Saúde de Bolsonaro foi feita pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, também médico e fazendeiro como seu protegido. Caiado “rompeu” com o capitão fascista recentemente, para defender a posição de Mandetta sobre as normas de combate ao Covid-19, que o bolsonarismo ironiza e despreza.
Vale a pena falar do “padrinho” de Mandetta. O sítio da internet De Olho nos Ruralistas (um observatório crítico sobre o agronegócio) fez um pequeno dossiê, que resumimos a seguir.
“Ronaldo Caiado ilustra como poucos a ascensão da bancada ruralista no Congresso. O fundador da União Democrática Ruralista (UDR) é, desde os anos 80, um dos principais porta-vozes dos latifundiários na guerra – por vezes, literal – contra a reforma agrária. Não à toa, Caiado está entre os políticos que mais recebem dinheiro de empresários do agronegócio.”
“A influência de Caiado no meio latifundiário foi consolidada ao longo de cinco mandatos representando os interesses do setor na Câmara e, desde 2014, no Senado. Mas vem de sua atuação à frente da UDR. Criada em 1985 como uma resposta da elite rural contra o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a entidade é dona de um passado sombrio.”
“Entre as vítimas da UDR a mais famosa é o líder extrativista Chico Mendes. O tiro de escopeta que matou um dos maiores símbolos da luta pela reforma agrária – conhecido no mundo por sua face ambientalista – foi encomendado por Darly Alves, representante da organização no Acre.”
“No auge da UDR, entre 1985 e 1989, a violência no campo atingiu seu ponto mais extremo, com 640 assassinatos. Mas não parou por ali. Em 1996, com a intensificação das ocupações pelo MST, o número de mortes voltou a crescer. Antenor Duarte do Valle, um dos personagens centrais do massacre de Corumbiara, foi fundador da UDR em Rondônia.”
“Apesar de ser formado em Medicina, a fortuna do governador de Goiás foi construída na pecuária, dentro de uma tradição coronelista. Durante a Primeira República, o avô de Ronaldo, o senador Totó Caiado, era famoso por indicar aliados para cargos-chave no estado, então chamado Goiás Velho.No livro 1889, Laurentino Gomes cita uma carta enviada pelo ex-senador do Império Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso ao filho Joaquim Inácio Cardoso, um dos líderes da Proclamação da República ao lado de Ruy Barbosa: “Vocês fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado”.
“Na eleição de governador, a lista de doadores a Caiado contou com nomes conhecidos. Como Alexandre Funari Negrão, ex-piloto de automobilismo e pecuarista em Nova Crixás. Xandy, como ficou conhecido nas pistas, é dono da fazenda Conforto, de 12 mil hectares, grande fornecedora de gado para a JBS-Friboi, de Joesley Batista.”
“Fundador da Medley, empresa farmacêutica comprada pela francesa Sanofi por US$ 664 milhões (OBS: Donald Trump é um dos sócios dessa empresa, fabricante da cloroquina, o medicamento propagandeado pelo ianque e por Bolsonaro) o empresário paulista foi indiciado em 2000 pela CPI do Narcotráfico após ser flagrado fornecendo produtos químicos para o refino de cocaína, através do Instituto de Química de Campinas.”
Mandetta e Caiado representantes do Latifúndio dentro do eleitoralismo burguês. Foto: Banco de Dados AND