Há tempos em que é necessário defender o óbvio.
Mais de 500 pessoas já foram assassinadas no Líbano pelo Estado sionista de Israel. Dentre elas, um brasileiro de 15 anos e dezenas de crianças. Outras mais de 2 mil ficaram feridas.
A base do conflito em curso é a agressão que o sionismo aplica contra o Líbano desde, pelo menos, 1978 – data da primeira invasão israelense ao Líbano.
Quando Israel invadiu o Líbano nesta operação, o Hezbollah ainda não existia. A organização só foi formada 7 anos depois, no fim da segunda invasão israelense ao Líbano, iniciada em 1982 e derrotada em 1985.
Mesmo assim, o colunista d’O Globo, Guga Chacra, insiste que a solução para “salvar o Líbano da guerra” é “o Hezbollah se retirar do sul do Líbano” e a “segurança (da região) ficar com o Exército libanês em coordenação com as forças de paz da ONU (Unifil)”, conforme dito em coluna publicada hoje (26) no jornal monopolista.
Mas isso é mesmo a solução?
A história mostra que não.
Hezbollah, força anti-imperialista
O imperialismo sempre buscou pintar o Hezbollah de um grupo violento, irracional e terrorista.
Vários eventos históricos desmentem esse discurso: o Hezbollah sempre usou suas forças militares de forma calculada para combater a invasão sionista no Líbano. Até 2000, data da retirada israelense do Líbano, o Hezbollah era a principal garantia de proteção do povo libanês no sul do país.
Uma força necessária contra os crimes cometidos pelo regime sionista, como por exemplo o bombardeio israelense em um bunker da ONU no Sul do Líbano, que matou mais de 100 pessoas.
Quando o então primeiro-ministro israelense Ehud Barak ordenou, em maio de 2000, a retirada das tropas israelenses do Sul do Líbano, muitos especularam que o Hezbollah lançaria uma onda de vingança e violência contra os colaboradores do regime sionista e soldados do Exército do Sul do Líbano (ESL; força alinhada a Israel) que ficaram no país após a saída do último soldado sionista.
Isso não foi feito. O Hezbollah manteve a ordem, ordenou a prisão dos soldados do ESL e entregou as tropas inimigas e colaboradores capturados ao governo do Líbano.
Ou seja, uma atuação que contraria diretamente o que o imperialismo diz sobre o grupo.
Violações da guerra de atrito
De 2000 em diante, o Hezbollah seguiu resistindo à ocupação israelense na área de pouco mais de 30 km² chamada de Fazendas Shebaa, enquanto Israel promovia uma guerra de agressão de atrito contra o Líbano.
Há um acordo de que, na guerra, os ataques são limitados à fronteira. Acontece que, de acordo com a própria Unifil, Israel já quebrou esse acordo dez vezes mais que o Hezbollah.
Isso nunca foi punido pela autointitulada Organização das Nações Unidas, ou revertido pela Unifil.
Apoio ao Hezbollah, ataques à Unifil
O apoio do povo libanês ao Hezbollah sempre oscilou. Mas uma regra histórica é que, nos momentos de agressão ao país, o apoio ao Hezbollah cresce. Foi assim nos bombardeios israelenses a plantas de energia em Beirute em 1996, 1999 e 2000 e na invasão de 2006. São dados comprovados por estudos no livro The War on Lebanon: a Reader (A Guerra no Líbano: Um guia).
E também é assim agora. E, ao mesmo tempo que o povo libanês apoia o Hezbollah, veículos da Unifil (a força proposta por Guga Chacra como a solução para a guerra) foram atacados por moradores do Sul do Líbano nos dias 17 e 18 de setembro, de acordo com a imprensa iraniana.
O motivo do ataque foi justamente a ineficácia da missão em conter a agressão israelense.
Isso não é específico do Líbano: em todo o mundo, é comum ver ataques das massas contra forças da ONU em seu país – uma vez que a organização serve como uma fachada à intervenção imperialista. É assim no Congo e no Haiti, para ficar em dois exemplos em continentes distantes.
Permissão libanesa para agir
Um outro dado importante é que, desde 2008, o parlamento libanês (dentro do qual atua o Hezbollah, desde a década de 1990, com uma das maiores bancadas) permite que o Hezbollah tenha uma força militar própria.
O que Chacra propõe, portanto, é que as resoluções da ONU atropelem as decisões do Líbano para a própria política e dinâmica internas libanesas. Isso não pode ocorrer.
Grupo político com força militar
O Hezbollah não é, como o monopólio insiste, uma milícia xiita que funciona como um tentáculo do Irã no Líbano.
É um grupo político, com diferentes iniciativas em setores como Educação, Saúde e Cultura, que conta com uma força militar permitida pela lei do país e, mais importante que isso, apoiada pelo povo para travar uma guerra justa contra forças invasoras.
Isso é importante porque, além do Hezbollah possui um contingente humano e militar (a nível de armas) igual ou superior ao do Exército libanês, o caráter irregular e de massas do grupo resistente permite que este trave uma guerra de guerrilhas contra Israel.
O Hezbollah pode, pelo seu caráter anti-imperialista e antissionista construído em décadas de luta, mobilizar as massas amplamente a seu favor, integrá-las na guerra anti-imperialista e, por diferentes táticas guerrilheiras, derrotar o inimigo sionista quando este intervir com tropas no país.
O Hezbollah é, por esses vários fatores, a maior garantia atualmente existente da expulsão de Israel do Líbano.
Insistir no desarmamento do Hezbollah e sua substituição pelas tropas da Unifil, mesmo que acompanhadas do Exército regular libanês, enquanto se lança apelos vagos para que Israel “respeite a soberania libanesa”, é garantir a dominação sionista no sul libanês.