Ontem conversamos sobre Nova Aurora, o primeiro dia em que nos encontramos: uma imensa e verde área, uma água gorjeando através dela e um cavalo pastando, pacificamente. Não éramos muitos neste primeiro encontro. Estávamos animados com os planos de companheiros que achavam que dali poderia se iniciar um bairro proletário. Olhávamos tudo com esperança e curiosidade. As lideranças nos explicaram os planos e preparativos e aos poucos a massa popular foi-se acumulando nos arredores, timidamente, receosa com a perspectiva de uma ocupação urbana. Mas se achegando.
Havia mais mulheres que homens. Ficamos sabendo mais tarde que eles enviaram as mulheres para dar uma conferida, saber se realmente iria acontecer, se valeria a pena. Talvez confiassem no poder de julgamento que nós, as mulheres, temos, mais do que eles o têm. O líder maior convocou todos, nos juntamos em torno dele e após sua fala as perguntas pipocaram. Havia uma atmosfera de júbilo, de conquista, de atrevimento, de ousadia, um ato de coragem. E um forte sentido de unidade que um mutirão traz.
Há quantos anos isto? Nem sabemos ao certo. Em algum lugar no passado de lutas. Mas naquele dia não sabíamos o marco que Nova Aurora iria estabelecer na vida de todos nós. A massa do povo tomando as rédeas de seu futuro e decidindo onde e como morar. E a construir suas moradias com os vizinhos e a construir as deles.
Foi assim que tudo começou. Muitas reuniões depois e as primeiras casas foram se erguendo. Mulheres, homens e crianças carregando tijolos, telhas, cimento e água. E felizes, brincando uns com os outros, uma festa. Trabalho duro, custoso. As cozinhas foram construídas primeiro, depois um ou dois quartos e, em seguida, uma saleta. Ainda dormiam amontoados, mas alegres, no que era deles, livres do aluguel. Finalmente.
Foi erguida uma sede. Com uma larga mesa onde as reuniões passaram a acontecer. Depois um grande espaço foi construído para acomodar as inúmeras pessoas que se aglomeravam para ouvir a boa-nova do mutirão. Às vez mais de mil delas! Gente de toda parte da Baixada Fluminense. E migrantes.
No fim das reuniões semanais a massa tomava a palavra, colocava seus problemas, tocava violão e hinos eram cantados. Depois as mulheres se reuniam – uma multidão, de todas as idades – com a liderança e foi criado o Movimento Feminino. Estava consolidado o Mutirão de Nova Aurora.
Anos se passaram, a falta de um encaminhamento mais sólido e robusto levou todos os planos água abaixo. O oportunismo chegou com seus candidatos e a intenção inicial foi-se desmantelando. Virou disputa de partidos interessados em abocanhar votos e a eleger candidatos. E de aproveitadores locais. Todos a querer tirar vantagens da luta, esforços e objetivos do povo.
O bairro está lá, com seus erros e acertos. Os bravos filhos e filhas de Nova Aurora! Uma experiência de vida e de luta.