A repressão atroz às manifestações populares contra o achacante aumento no preço das passagens em São Paulo é um absurdo completo, não apenas pela truculência típica das tropas policiais – quem é que pode esperar algo diferente? –, mas o que mais chama atenção são as acusações aos detidos, inclusive presos antes de chegarem à manifestação, que se quer havia se iniciado. Em um único dia a PM paulista deteve 50 estudantes; 7 deles foram acusados de “tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito” por não aceitarem – pasmem! – o aumento da tarifa do transporte. Alguns atribuem o absurdo ao fato de São Paulo ser governado pelo ultrarreacionário Tarcísio de Freitas – o bolsonarista envergonhado. Todavia, a coisa é mais séria, e antes fosse esta a raiz de todo o problema.
Em que pese todas as mudanças nas estruturas de governo, do nível municipal ao federal, com a “alternância de poder” entre todas as siglas do Partido Único, há uma coisa intocada: a lógica da repressão. Vejamos: dez anos atrás, Rio de Janeiro, no rastro da repressão mais bestial da PM, o Ministério Público pedia a prisão preventiva de 21 ativistas acusados de “formação de quadrilha” e identificava movimentos populares como “organizações criminosas”. Acaso o governo estadual era de extrema-direita? Não. Era um governo, inclusive, aliado de Dilma, que então encabeçava o governo federal.
Vejamos, então, a situação no Pará, em 2007-2008. Durante a Operação “Paz no Campo”, a PM, forças federais e até as Forças Armadas reacionárias executaram incursões que impuseram, por dois anos, uma intervenção militar contra milhares de famílias camponeses no Sul do estado, prendendo, torturando, assassinando e desaparecendo com dezenas de trabalhadores. A governadora era do PT – Ana Júlia Carepa – e o governo federal era o de Luiz Inácio (em seu segundo mandato). Em que pese a diferenças das siglas à frente dos governos, não há diferenças fundamentais no conteúdo da repressão.
Em que pese as promessas vazias de toda sorte de politiqueiros em época de eleição – agora, muito em voga, a promessa de “barrar retrocessos” –, o fato é que o bolsonarismo como ideologia e a tendência ao fascismo em geral sempre estiveram entranhados na estrutura repressiva, ainda que como germe. O fato de a extrema-direita ter alcançado a presidência, de 2018-2022, se deve a que foi religiosamente alimentada por todos os governos anteriores que, acossados pelo protesto popular e por crises políticas, recorreram ao fortalecimento da repressão e a justificaram, sob intensa campanha dos monopólios da imprensa.
Os democratas de fancaria que encabeçam este velho Estado e recorrem sempre à repressão contra o protesto popular, fingindo-se de tolos, escandalizam-se com a aparição, na cena política, de figuras esdrúxulas como Bolsonaro e sua legião de policiais-milicianos, como se elas surgissem aqui vindas de Marte. Não, senhores: elas surgem das entranhas dessa velha democracia ditatorial, reacionária, de grandes burgueses e latifundiários serviçais do imperialismo, principalmente ianque, corrupta desde a medula, que recorre à repressão porque desprovida de qualquer trato democrático para com as massas, especialmente para as que se levantam, como os camponeses pobres pelo seu direito a um pedaço de terra, as insatisfeitas com tanta crise, revoltadas com a inoperância e precaridade dos serviços públicos, com a pobreza e fome, o desemprego e a violência policial. Por isso, as massas do povo devem elevar seu protesto popular belicosamente e não confiar nas promessas mentirosas e demagógicas de manipuladores que se alternam no gerenciamento do velho Estado através da farsa eleitoral. Apenas uma nova ordem social, uma república popular de nova democracia, pode mudar de fato a realidade de nosso País e impor a democracia baseada na economia nacional autocentrada, na independência e soberania da Nação e no bem-estar geral do nosso povo trabalhador.