O que a nomeação de Marco Rubio pode significar para a América Latina

A expectativa é que a nomeação de Rubio para Secretário de Estado fortaleça a política intervencionista, particularmente na América Latina.
Marco Rubio durante comício de Trump em 2024. AFP.

O que a nomeação de Marco Rubio pode significar para a América Latina

A expectativa é que a nomeação de Rubio para Secretário de Estado fortaleça a política intervencionista, particularmente na América Latina.

A expectativa para a nomeação do novo Secretário de Estado norte-americano está alta entre os círculos reacionários de Washington, na medida em que cresce a tendência de que o presidente eleito Donald Trump anuncie Marco Rubio para o cargo de principal diplomata do país, similar ao de Ministro das Relações Exteriores no Brasil.

Quem é Marco Rubio

Rubio, 53 anos, é senador pelo Partido Republicano, representando o estado da Flórida desde 2011. Filho de imigrantes cubanos, é conhecido pelas posições reacionárias, principalmente acerca das relações externas do EUA. Enquanto senador, Rubio teve uma trajetória marcada pela defesa de uma política intervencionista, ressaltando o papel dos EUA como gendarmeria internacional. As defesas das intervenções ianques pelo mundo foram a tal nível que mesmo a imprensa monopolista apelidou o senador de hawkish, do inglês falcão. 

Em 2011, Rubio incitou o Senado norte-americano a aprovar uma intervenção militar direta na Líbia contra o governo de Muammar Gaddafi. Também criticou inúmeras vezes o governo de Joe Biden pela derrota militar no Afeganistão e por não ser duro o suficiente com o Irã e seus aliados. Em declarações recentes voltou a criticar Biden pela condução da guerra (leia-se: genocídio) em Gaza. O senador disse que, se Israel tivesse seguido as orientações norte-americanas, não teria conseguido assassinar Yahya Sinwar e Hassan Nasrallah. Completou chamando os militantes do Hamas de “animais perversos”.

A respeito da guerra na Ucrânia, Marco Rubio adotou a política de Trump de criticar a Otan, afirmando que os aliados europeus do EUA não estão pagando sua parte da conta pela defesa do continente e que esta guerra deve terminar em um acordo com a Rússia.

Pressão máxima sob a América Latina

Uma vez à frente da pasta, a tendência é que Rubio tenha seus olhos voltados para a América Latina. Mesmo os analistas do monopólio de imprensa destacam esta característica “particular” de Rubio, diferente de outros secretários de Estado que focavam as atenções no Oriente Médio ou na Ásia. Com esse foco, Rubio deve ser o braço direito de Trump para a política de elevar a militarização, dominação e saqueio do subcontinente latino-americano. Trump afirmou, em sua campanha, que se tivesse sido eleito em 2020 teria “tomado a Venezuela” e “pegado todo o seu petróleo”, numa flagrante confissão de suas pretensões imperialistas na região. Depois de eleito, voltou a falar que colocará “pressão máxima” na questão venezuelana e que, inclusive, contará com o apoio de governos latino-americanos para isso, como  de Luiz Inácio (PT). Rubio também já deu várias declarações belicosas contra o país, inclusive afirmando que uma possível intervenção militar americana está na mesa. 

A mesma “pressão máxima” direcionada contra a Venezuela é prometida para Cuba, terra natal dos pais de Rubio. O ianque em várias ocasiões, criticou a administração de Obama por ter relaxado algumas das sanções que estrangulam a economia do país caribenho desde a década de 1960 – mesmo as medidas não tenham passado de maquiagem, sem suspensão do robusto embargo comercial à ilha. O mesmo tom pode ser esperado no caso da Nicarágua, com a proposição de mais sanções e a tentativa de isolar diplomaticamente o país.

Possíveis consequências para o Brasil

Para o Brasil, a possível nomeação de Rubio resultará na tentativa de fortalecer a extrema-direita e constranger o governo de falsa esquerda de Luiz Inácio, através de ataques às relações diplomáticas e econômicas que o país mantém com a China social-imperialista. 

Em um artigo publicado em fevereiro de 2023, o senador ataca a política de Biden para o Brasil ao dizer que: “Quando Lula precisa de grandes quantias de dinheiro e sem perguntas, ele recorrerá à China”. 

Em outro momento atacou nominalmente o presidente de turno, ao dizer que: “Biden deve adotar uma linha firme com o novo presidente do Brasil, responsabilizando Lula por sua simpatia pelo Partido Comunista Chinês, bem como por outras ditaduras sangrentas como as de Cuba, Nicarágua e Venezuela”. 

Atualmente, a contenda com o social-imperialismo chinês é um dos pontos-chave para o EUA, tanto na Ásia quanto na América Latina, onde a China tem avançado através da penetração do capital estrangeiro e iniciativas como a Nova Rota da Seda.

Rubio também já atacou diretamente o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, após a decisão pela suspensão da plataforma X. Em consonância com as críticas de Bolsonaro, do qual é amigo pessoal, o senador afirmou o seguinte: “Há algum tempo, tenho ouvido falar de uma campanha de censura governamental no Brasil. A recente decisão de banir o X é a mais nova manobra de Alexandre de Moraes para minar as liberdades básicas”.

O Itamaraty já expressou receio com a possibilidade de Rubio assumir o cargo. Em entrevista anônima à Folha de São Paulo, três diplomatas brasileiros qualificaram o clima atual como o de “cautela”, expressando o desejo da chancelaria em não se indispor com o próximo chefe da política externa norte-americana.

A eleição de Trump confirma várias das previsões feitas por AND quanto ao rumo que a situação política internacional está tomando. Não surpreende o fato de que muitos, de olho em 2026, agora já percebem que, assim como no EUA a política do Partido Democrata só fez robustecer a extrema-direita, também no Brasil a política de conciliação de classe levada a cabo pelo PT traça as mesmas conclusões. Bolsonaro e seus asseclas já congratularam o chefe do Norte por sua vitória eleitoral, e com a possível anistia, já preparam seu retorno ao Palácio do Planalto.

Para o subcontinente os tempos serão, por um lado, de maior explosividade das massas, uma vez que as questões fundamentais por trás da permanente crise política e social permanecem inalteradas e, por outro, de maior intervenção do imperialismo, principalmente ianque, que vê ameaçados seus interesses na região.

‘A gazela mais lenta morre’: Novo comandante do Comando Sul dá o tom da intervenção imperialista no subcontinente – A Nova Democracia
Em sua solenidade de posse o militar ianque ressaltou o papel de combater a “influência maligna” de Rússia e China na América Latina.
anovademocracia.com.br

Falcão ou peso pena?

A nomeação de Alvin Holsey para chefiar o Comando Sul das Forças Armadas Americanas, comprometido em combater a “influência maligna” de China e Rússia e agora a iminente nomeação de Rúbio como Secretário de Estado, preveem turbulência no horizonte. Ainda mais se as pugnas dentro do próprio sistema imperialista forem levadas em conta. Rubio, que agora comandará toda a chancelaria de Trump, foi adversário do magnata nas eleições primárias do Partido Republicano na Florida, em 2015. Na época, Trump não poupou ofensas: “[Rubio] é um peso pena que eu não contrataria nem para administrar uma das menores de minhas empresas. É um político altamente superestimado”.

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