Já tendo alcançado quase três semanas de greve e com adesão crescente de petroleiros de Norte a Sul do país, a paralisação já atingiu mais de 120 unidades do sistema Petrobras. Numa verdadeira batalha homérica, uma massa de mais de 20 mil petroleiros tem dado uma contundente prova de resistência aos propósitos reacionários do governo de Bolsonaro e seus generais vendilhões da pátria.
O monopólio de imprensa bem que tem tentado, sem pleno sucesso, abafar a greve, devido ao receio de inflamar outras categorias no sentido de uma Greve Geral. Entretanto, a greve dos caminhoneiros de Santos em 17/02 e o chamado a greve nacional desse segmento para os dias 18 e 19 desse mesmo fez com que as ações de cerco à luta se intensificassem, num movimento que não permitia mais o abafamento das notícias. Agora o monopólio de imprensa parte para o ataque, numa largada dada pelo editorial do jornal O Globo, de 17/02.
O judiciário tem sido a parte mais ativa nos ataques à mobilização, com o intento de cessar a greve a qualquer custo. Ives “Opus Dei” Gandra, ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), tem sido o artífice dos golpes, porém aparado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Após impor restrições e multas de até R$ 500 mil por dia aos sindicatos, o ministro ultrarreacionário lançou seu último recurso e decretou a ilegalidade da greve, autorizando a Petrobras a aplicar sanções disciplinares aos trabalhadores que não atendessem à convocação ao trabalho. Porém, os petroleiros rechaçaram as investidas de Ives e declararam a continuidade da greve, realizando um grande ato no Rio de Janeiro em 18/02 com a presença de cerca de 15 mil trabalhadores de várias partes do país.
A política do morde e assopra para encerrar a greve
Sem sucesso na contenção do movimento, o Judiciário passou a fazer concessões desde que os petroleiros retornassem ao trabalho. Tudo por conter a greve. Na tarde de 18/02, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) mandou suspender as demissões até 06/03, sem apresentar, entretanto, perspectivas da manutenção do emprego para os trabalhadores (só 70 antigos funcionários seriam mantidos). A condição para uma negociação, no dia 06/03, mediada pelo TRT do Paraná entre as partes para tratar como serão feitas as demissões, indenizações, etc. é a de que os petroleiros encerrem a greve imediatamente. Na noite do mesmo dia, Ives Gandra, por sua vez, percebendo a continuidade da greve e a decisão do TRT do Paraná, se propôs também a mediar a negociação entre as federações e a Petrobrás no dia 21/02, desde também que a greve fosse encerrada de imediato.
Nesse quadro, o objetivo fim da greve – cancelamento de 1000 demissões no Paraná e fim do desrespeito pela Petrobras ao Acordo Coletivo de Trabalho da categoria – segue sem qualquer recuo por parte da Petrobras. A empresa se limita às investidas de criminalização do movimento, se negando a negociar qualquer coisa e sequer aceitando se reunir com a comissão de negociação que ocupa há semanas uma sala do Edifício Sede da Petrobras.
O vício do cachimbo faz a boca torta…
Se, por um lado, há abundante disposição de luta dos trabalhadores, ocorre, por outro lado, uma grave debilidade na direção do movimento.
Durante os governos petistas as cúpulas sindicais consolidaram um determinado modo de realizar greves petroleiras. Por um lado, a Federação Única dos Petroleiros/Central Única dos Trabalhadores (FUP/CUT), atrelada ao governo de conciliação de classes, fazia a greve sempre com composições junto aos círculos palacianos de Brasília, e angariava com isso algumas migalhas oferecidas pela Petrobras do que sobrava das cifras astronômicas oferecidas às grandes construtoras da grande burguesia burocrática. Por outro lado, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e os partidos da pseudo-esquerda que atuam na mesma (PSOL, PSTU, PCB, etc.), apostavam na tática do desgaste do governo petista e da FUP/CUT, agindo claramente com pretensões eleitoreiras, ao apontar ações mais radicais que, entretanto, não conseguiam viabilizar.
Com a nova configuração do gerenciamento do Estado brasileiro, que levou à presidência o fascista Bolsonaro, rodeado por um corte de generais, milicianos, ultraliberais e toda sorte de gente reacionária que não negocia nem faz concessões quanto à pauta de ataques aos trabalhadores, as federações petroleiras não alteraram o modus operandi no qual foram adestradas durante os governos petistas. FUP/CUT seguem depositando seus esforços prioritários junto à institucionalidade (parlamentares, judiciário, lideranças partidárias) para conseguir uma mediação junto à alta gestão da Petrobras que promova o início de negociações para encerrar a greve. FNP, por sua vez, aposta somente no crescimento da adesão da greve sem propor qualquer medida que possa forçar a Petrobras a abrir negociações.
A saída é a radicalização da greve
A realização de greves prolongadas conduzidas por direções sindicais que não apontam um caminho efetivo para dobrar a intransigência patronal tornou-se já há algum tempo uma prática recorrente em mobilizações de professores e servidores públicos no Brasil. Nesses casos o passar das semanas vai provocando desgastes e muitas dessas greves acabam sem conquista alguma para os envolvidos. Apesar do tímido avanço com notícia da suspensão das demissões, o movimento petroleiro está próximo de alcançar três semanas de duração e corre o risco de chegar a uma situação semelhante à descrita acima.
Há uma lei social que determina que o capital só cede às exigências dos trabalhadores quando constrangido de alguma forma. No momento atual, em que a Petrobras conta com o apoio pleno do monopólio de imprensa, com a baliza do TST e do STF, além de um grande “exército industrial de reserva interno” (composto por um largo de efetivo de funcionários sem perspectiva de emprego futuro por serem lotados em unidades da empresa em vias de privatização), a margem para a Petrobras suportar os impactos da greve é demasiado grande. Com essa conjuntura, ela tem conseguido manter o fundamental de suas operações e ainda orquestrar ataques ao movimento sindical. É necessário, portanto, ir além do cruzamento de braços e radicalizar a luta.
Se não é possível ainda parar a produção é preciso tomar as ruas e instalações da empresa em combativas mobilizações que possam manejar com a opinião pública acerca do processo de entrega das riquezas nacionais em curso e atingir o processo de circulação do capital. A Greve Geral é uma necessidade para barrar a onda de ataques às classes trabalhadoras e os petroleiros podem lançar a faísca que incendeie as massas trabalhadoras numa ampla mobilização nacional. Mas para isso é preciso serem um exemplo de combatividade!
Desde 2019, as massas chilenas têm apontado o caminho da luta combativa como meio para frear o arrocho sobre os trabalhadores e arrancar conquistas!
O resultado da greve dos petroleiros terá repercussão geral nas mobilizações de trabalhadores que precisam lidar com um governo que tem como marca a intransigência contra tudo que se relacione à luta das classes exploradas. A vitória dos petroleiros significará um duro golpe aos intentos de Bolsonaro e seus generais. A derrota do movimento poderá, por outro lado, dar novo folego para o fascista avançar mais contra as classes trabalhadoras.
Até agora a greve petroleira só cresce e desperta solidariedade de imensos setores da sociedade. Quem assim prossiga, que ganhe combatividade e alcance a vitória!
Petroleiros protestaram no Centro do Rio, no dia 18 de fevereiro. Foto: Victor Prat/A Nova Democracia