Unindo conteúdos teóricos das chamadas Ciências do Comportamento (Psicologia e outras), mecanismos militares, truques de espionagem, além de conhecimentos de jornalismo (confecção de notícias mentirosas ou falsas, as famosas fake news), informática (algoritmos e outros) e redes sociais, empresas direitistas-fascistas desenvolveram algo que pretende ser uma “máquina” de ganhar eleição e de obter seguidores fiéis.
Elas criaram um modelo, denominado “Ocean”, para estabelecer parâmetros de personalidade de votantes/eleitores, produzindo materiais específicos para pessoas mais (ou menos) “neuróticas”, “amáveis”, “extrovertidas”, etc, fazendo com que seja aumentada a chance de que cada eleitor vote em determinado candidato ou tema, ou seja, vote no cliente que contratou a empresa (ou escritório/consultoria) para aplicar seu marketing.
O “Ocean” é um conjunto de traços psicológicos que são medidos pelo escritório/consultoria para atingir seu alvo. Cada letra tem um significado, em inglês.
Vejamos: Letra O = Openness (Abertura – Abertura do indivíduo a novas experiências); Letra C= Conscientiousness (Consciência – Nível de preocupação do indivíduo com organização e eficiência); Letra E = Extroversion (Extroversão – Nível de sociabilidade do indivíduo, além de sensibilidade e cooperação com questões relativas a outras pessoas);Letra A = Agreeableness (Simpatia ou Amabilidade – Nível de confiança com que o individuo recebe as notícias) Letra N = Neuroticism (Neurose ou Instabilidade Emocional – Nível de intensidade emocional com que o indivíduo reage ao receber informações).
Escândalo fogo de palha
Esse modelo, embora lembre um teste de almanaque antigo, uma psico-tolice, uma sondagem mental de araque, ao ser vitaminado com outros ingredientes (notadamente com TI, Tecnologia de Informação), produziu efeitos danosos em parcelas da população mundial submetidas a ele. Tais efeitos foram denunciados no primeiro semestre deste ano, como sendo o “escândalo do Facebook”. Descobriu-se que empresas/escritórios/
Foram apontados como culpados o Facebook (que por causa disso teria perdido parte de seu valor econômico) e a empresa Cambridge Analytica (CA). Porém foi tudo fogo de palha e simulação: o Facebook perdeu só umas migalhas de seu poderio e a CA, embora tenha anunciado falência, parece ter seguido em seu trabalho, de modo disfarçado.
A Cambridge é uma agência de publicidade anglo-ianque que analisa dados de eleitores ou consumidores para executar “planos de comunicação estratégica”.
Inicialmente, para montar seus primeiros planos, ela usou os resultados de um questionário aplicado por pesquisadores da Universidade de Cambridge (Inglaterra) em 50 mil voluntários usuários do Facebook.
As respostas do questionário permitiram à CA usar algoritmos e avaliar a intensidade com que cada item do “Ocean” estava presente na personalidade (ou comportamento) das pessoas. Antes do escândalo, afirmou o gerente da Cambridge no USA, Alexander Nix: “Após milhares e milhares de americanos responderem ao questionário, nós desenvolvemos um modelo capaz de prever a personalidade de cada um dos adultos que vivem nos Estados Unidos”.
E mais: a CA além de anunciar que possui controle/predição sobre os habitantes do USA, parece controlar o próprio presidente do país. Sim, a empresa não é um business qualquer. Ela é praticamente “a dona” de Donald Trump, pois foi a principal patrocinadora financeira da candidatura, através do seu trilionário fundador/presidente Robert Mercer.
Mercer, ex-programador da IBM que fez uma imensa fortuna descobrindo usos para algoritmos complexos (em computação, trata-se de sequência-ritmo finito de instruções para executar determinada tarefa, repetindo passos para isso), hoje é um ancião judeu recluso e fascista. Conforme artigo do repórter Matt Forney, publicado na internet em 12 de outubro de 2017, ele é um fervoroso apoiador do estado sionista de Israel.
Assim fica fácil entender o motivo pelo qual Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel, confrontando a ONU e a maioria das nações do mundo, que vêem a cidade também como capital palestina-árabe.
Chantageando com prostitutas e espiões
Bob Mercer e sua Fundação têm aberto generosamente os cofres para a direita do USA, da Inglaterra e de outros pontos do planeta (comenta-se que o dinheiro chegou até o Brasil). Desde 2010, só no USA, eles doaram 36 milhões de dólares para candidatos do Partido Republicano e grupos reacionários variados.
Eles são, por exemplo, os mantenedores de um site de notícias agressivo e odiado pelo povo estadunidense, chamado Breitbard News e de uma organização policialesca chamada Secure America Now, dentre outras. Anos atrás foram parceiros dos Irmãos Koch no financiamento de entidades de jovens direitistas, principalmente na América Latina.
Portanto os dólares de Mercer também aparecem em nosso país como incentivadores/criadores do MBL (Movimento Brasil Livre), conforme denúncia do jornal The Guardian acerca das ações dos Koch. O MBL era coordenado por Kim Kataguiri, um quase adolescente acusado de mentiroso por seus professores, e de cometer ilegalidades na internet, como perfis falsos e páginas sustentadas com fake news, que lhe valeram punições. Mesmo com o MBL moribundo, na última votação Kataguiri elegeu-se deputado federal pelo DEM (ex Arena ou PDS/PFL, partidos de sustentação da ditadura militar).
Mercer também bancou um grupo que produziu anúncios anti-muçulmanos para redes sociais e Google na eleição de 2016 no USA.
Sócio de Mercer além de gerente da Cambridge antes do escândalo Facebook, Alexander Nix foi filmado por uma emissora de TV britânica falando sobre o uso de chantagem para encurralar políticos, através da contratação de prostitutas e espiões. Nas imagens feitas pelo Channel 4 ele aparece se gabando de seus métodos (e da empresa CA) para desacreditar adversários políticos (competidores de seus clientes por certo), envolvendo espionagem e prostituição.
Mudança comportamental em 60 países
Embora grande e forte, a CA é apenas um braço de outra companhia, o SCL (Strategic Communication Laboratories). Sediada na Inglaterra, essa empresa-matriz prepara estratégias políticas para governos e empreendimentos particulares baseada na análise de dados. Conforme seu site, já “conduziu programas de mudança comportamental em mais de 60 países”, e tem escritórios na Ásia e América Latina.
O SCL tem duas vertentes: SCL Defesa e SCL Eleições. Já prestou serviços para os Departamentos de Defesa da Inglaterra, e do USA no Oriente Médio (incluindo o Afeganistão, onde as tropas do Tio Sam estão tomando um suadouro e não conseguem ganhar a guerra).
Segundo informou ao jornal The Guardian o ex-funcionário Christopher Wylie, a especialidade do SCL “são as operações psicológicas”, que procuram mudar as crenças e os pensamentos políticos das pessoas-alvos por meio da “dominação informativa”, técnica que inclui rumores, desinformação e circulação maciça de notícias falsas.
Wylie, que foi o principal denunciante do vazamento de dados do Facebook, que deu origem ao escândalo, disse ao jornal que as “operações de informação” fazem parte da doutrina militar do USA. Outro funcionário do SCL comparou a empresa a um “MI6 de aluguel” (leia-se “mercenário”), referindo-se ao nome do famoso serviço secreto britânico. Mas é como um MI6 sujo, porque você não é tolhido e não precisa estar subordinado a controle (para trabalhar em atos de espionagem e similares).
Mark Block, estrategista do Partido Republicano do USA afirmou certa vez que o SCL “faz guerra cibernética para (vencer-se) eleições”.
O dono do SCL, fundado em Londres em 2005 é o milionário britânico Nigel Oakes, um dos irmãos Oakes, ligados à nobreza, aos ricos e poderosos da terra-da-rainha. Nigel foi também o fundador do Behavioral Dynamics Institute. Como o nome indica, esse Instituto realiza Dinâmicas Comportamentais, que são práticas psicológicas ou técnicas utilizadas para identificar diferenças no “funcionamento” dos seres humanos. Essas técnicas foram resultado de um estudo psicológico iniciado há décadas pelo ianque MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) com mais de 200 mil pessoas de 25 culturas.
Agora esses conhecimentos estão sendo usados para manipular eleitores e ganhar rios de dinheiro com campanhas eleitorais, em favor de teses ultradireitistas/fascistas.
“Estamos indo para o Brasil”
Um aliado de Bob Mercer e integrante da CA foi assessor da campanha eleitoral de Trump e, depois da vitória, fez parte de sua equipe de governo. Seu nome: Steve Bannon.
Em agosto último, Eduardo, um dos filhos do candidato Jair Bolsonaro, informou em rede social que se encontrou com Bannon no USA. Feliz da vida postou uma foto de ambos, sorrindo juntos, e anunciou que o assessor iria atuar como conselheiro da campanha de seu pai.
No entanto, essa relação da Cambridge com nosso país (na verdade o interesse da empresa em “participar”, leia-se lucrar financeiramente ou ideologicamente, da eleição brasileira de 2018) começou bem antes.
Em 2016, segundo a BBC Brasil, um especialista nacional em marketing, André Torretta, foi procurado por um emissário da CA, do qual ele não informou o nome, pretendendo criar estratégias de comunicação adequadas ao candidato brasileiro que contratasse o serviço, pois a firma “tinha especial interesse nas eleições de 2018”.
Animado, em 2017 Torretta concordou em abrir uma filial no país, que se chamaria CA Ponte (junção dos nomes Cambridge Analytica e Ponte Estratégia). Passados alguns meses, o Estado de S.Paulo de 21 de janeiro de 2018 publicou que membros da equipe de Bolsonaro tentaram contratar a CA, mas que o trabalho não teria sido acertado.
O tempo passou, até que dois meses depois, em 21 de março, o acerto parece ter sido realizado, pois O Globo publicou o seguinte: “Estamos indo para o Brasil”, diz diretor da Cambridge Analytica – Empresário da consultoria que coletou dados do Facebook para Trump miram o ano eleitoral no país.
Quem veio foi Mark Turnbull, diretor de gestão da CA, confirmando que a companhia efetivamente iria atuar no Brasil, e que inclusive uma filial estava em funcionamento aqui.
Ao iniciar o serviço, os executivos da CA Ponte planejaram utilizar cerca de 750 informações sobre cada eleitor brasileiro freqüentador de redes sociais, para direcionar a propaganda adequada à personalidade/comportamento de cada um. Isso porque o uso de Big Data (grande volume de dados) é o principal instrumento da CA em atividades políticas. No USA foram mais de 1000 informações por eleitor. O que se viu, em seguida, foi a vitória do improvável Donald Trump.
O que se viu aqui foi um enorme crescimento da candidatura Bolsonaro, alimentada por 40 mil robôs atuando no Twitter, 100 mil contas no WhatsApp, 68 páginas no Facebook gerando mais de 12 milhões de interações via perfis falsos e spams.
Em outubro, quando acontecia o primeiro turno, a revista Fórum divulgava a bomba sobre a ajuda de Steve Bannon ao candidato: Guru da ultra-direita mundial e ex-assessor de Trump atua na campanha das redes sociais de Bolsonaro – Divulgando fake news e material misógino, xenófobo e racista, Steve Bannon concentrou o movimento de extrema direita nos EUA.
Bannon parece ter dado conselhos proveitosos. O candidato venceu a eleição no segundo turno. Antes disso, o jornal Folha de S. Paulo noticiou, possivelmente indicando o papel que o guru estrangeiro estaria desempenhando na campanha brasileira, que empresários estariam comprando pacotes de disparos em redes sociais de milhões de mensagens contra o adversário.
Seria uma ação ilegal, por ser considerada doação financeira disfarçada. Segundo o jornal, essas empresas estariam usando bases de dados vendidas por agências de estratégia digital, o que também é fora da lei. As normas eleitorais permitem apenas o uso de listas de apoiadores do próprio candidato, com números cedidos de forma voluntária.
Robert Mercer