Na madrugada do dia 26 de julho, data da abertura das Olimpíadas francesas, uma série de ataques levou apreensão ao governo francês. Cabos de fibra ótica foram incendiados e roubados, paralisando as linhas de trem que ligam Paris a diferentes regiões do país. Horas após os incidentes envolvendo os trens, o aeroporto de Basileia-Mulhouse foi evacuado por suspeitas de bombas.
As ações foram caracterizadas como “sabotagem realizada de forma preparada e coordenada” pelo primeiro-ministro reacionário Gabriel Attal. Já a ministra dos Esportes, no auge do ufanismo, afirmou que “jogar contra os jogos é jogar contra a França”.
Protestos pró-Palestina
Estamos diante das ações de protesto de maior vulto, até agora, contra a realização dos jogos Olímpicos na França. Porém, antes mesmo da abertura oficial, ativistas protagonizaram uma série de ações políticas, aproveitando-se do momento em que os olhos de todo o planeta estão voltados para o país.
Ativistas pró-Palestina divulgaram cartazes denunciando o genocídio do povo palestino. Os cartazes afirmam que “quando se trata de matar por esporte, não há competição”. Além disso, no primeiro jogo da seleção de futebol de Israel, torcedores franceses levantaram bandeiras da Palestina e estamparam, em suas camisas, letras que formavam a consigna “Palestina livre”. Vaias também foram ouvidas durante o hino “nacional” sionista.
Dias antes, o Comitê Olímpico Internacional (COI) negou o pedido da Comissão Olímpica Palestina em banir Israel dos jogos. No total, 400 atletas palestinos foram motos desde 7 de outubro de 2023. São esperados somente oito atletas na delegação Palestina.
São esperados mais episódios de solidariedade à Palestina e repúdio ao sionismo e ao COI por parte do povo francês até o fim dos jogos. Sobre os protestos anti-Israel, Macron afirmou que “atletas israelenses são bem-vindos”.
Massacre olímpico
As Olimpíadas trouxeram consequências nefastas para a população mais pobre antes mesmo de serem iniciadas. Segundo dados da ONG “O reverso da medalha”, 12,5 mil moradores de rua foram expulsos por Macron – o presidente reacionário que prometeu que um dos legados olímpicos seria “uma sociedade mais inclusiva”.
Os moradores foram retirados principalmente das ruas de Paris e da região de Seine-Saint-Denis (onde fica a Vila Olímpica), o que gerou protestos. Embora o número seja assombroso, a ONG calcula que o total seja o dobro por conta de debilidades na contagem oficial realizada pelo governo francês.
Na véspera da abertura, Macron afirmou que “os jogos olímpicos vão mudar a história da França”. O discurso ufanista do presidente imperialista foi motivado pela necessidade de mascarar a profunda crise que atinge a França – objetivo central do regime político francês, que tem os maiores índices de desaprovação da Europa.
Macron não conseguirá aumentar o prestígio do regime político
Foi pelo mesmo motivo de resgatar a legitimidade do Estado imperialista francês que Macron antecipou a eleição para a Assembleia Nacional, finalizada no dia 7 de julho. A coalizão apoiada por Macron saiu vitoriosa, porém, em números absolutos, quem mais cresceu foi a agremiação de extrema-direita “Reunificação Nacional” (RN).
Na farsa eleitoral francesa, ainda desempenharam papel tanto o Partido “Socialista” como o Partido “Comunista”. Protagonizando uma união da falsa esquerda com Macron, a falsa esquerda empenhou-se no discurso reacionário de “menos pior”. Dessa forma, os oportunistas aceitaram submeter-se à jogada política do imperialista Macron – que está à frente da França por sete anos, promovendo a continuidade da exploração do proletariado e massas trabalhadoras no país.
Macron e o regime político imperialista francês saíram imediatamente fortalecidos após o apoio da “Nova Frente Popular” e do “França Insubmissa”. Porém, tal fortalecimento não passa de um breve instante antes das futuras contestações e das novas manifestações populares que serão vistas nos próximos meses e anos na França.
Fascistização e militarização
Sobre a crise política, o jornal revolucionário francês Nova Época (“Nouvelle Epoque”) afirmou que “o resultado final é o mesmo: um falso bloco social-liberal, verdadeiramente imperialista”. Além disso, apontam que Macron é o principal responsável pela reacionarização do país, conduzindo uma política pró-Otan, uma legislação contra os direitos dos trabalhadores, a militarização reacionária contra as lutas populares e o apoio cada vez mais forte aos monopólios.
Em seu discurso “nem de esquerda, nem de direita”, Macron mascara precisamente esta política imperialista – que só pode conduzir a uma continuidade da exploração brutal contra os trabalhadores e contra os movimentos populares e revolucionários franceses.
Outro elemento destacado pelo jornal revolucionário é o crescimento da extrema-direita (o RN conquistou mais 3 milhões de votos em relação à NFP) e sua vinculação ao aparato estatal. O jornal revolucionário francês destaca que, por concordarem com a necessidade das “reformas” econômicas, a tendência é que Macron conte com a bancada da RN, “o que significa uma integração cada vez maior dos políticos ultrarreacionários no aparelho estatal”, afirmam.
Novas rebeliões
O “reforço” do discurso político reacionário dentro da França não passa de um suspiro momentâneo. O crescimento das esperanças com o “novo parlamento” se dá entre uma parcela cada vez menor da sociedade francesa, e não veio para ficar. No total, 87% dos franceses não se consideram representados nos resultados eleitorais. Dentre os países europeus, a França é onde se registram os menores índices de confiança nos políticos reacionários. Diante de um crescimento da crise de legitimidade do sistema político reacionário, o Exército se vê animado por reaparecer no cenário político como “um pilar não corrompido pela podridão parlamentar”.
Toda esta desilusão dará lugar a novas e maiores mobilizações em defesa dos direitos (que seguirão atacados), conformando, seguramente, uma base mais favorável à luta revolucionária na França, que seguirá sendo um exemplo desta situação explosiva de rebeliões populares.