O governo de Luiz Inácio prometeu várias vezes agir para conter a violência policial no Brasil. Quase dois anos de governo depois, a promessa está longe de ser cumprida.
“Nós queremos policiais bem preparados, com bastante inteligência. O que não pode é sair atirando a esmo”, disse Luiz Inácio, numa edição do “Conversa com o presidente” do ano passado.
“Nós, os governantes, prefeito, governador de Estado, presidente da República, a única coisa que nós temos que fazer é um esforço imenso para melhorar a vida desse povo. Fazer com que a mãe sinta a possibilidade de cuidar do seu filho, de dar comida para o seu filho, de levar o seu filho para a escola, de fazer com que seu filho de 5 anos não morra com uma bala perdida”, acrescentou ele, no discurso que nunca virou realidade.
Hoje, três trabalhadores foram mortos numa operação policial no Rio de Janeiro. Um no meio da jornada como motorista de aplicativo, outro no ônibus, em meio a um cochilo a caminho da empresa terceirizada onde trabalha e um terceiro no hospital, para onde foi depois de ser alvejado na cabeça dentro do caminhão da empresa.
Outros três ficaram feridos pelas balas que cruzaram a Avenida Brasil, principal avenida da cidade. Para justificar o desastre, um porta-voz da Polícia Militar (PM) disse que a operação “não tinha inteligência” o suficiente.
O responsável imediato pelo terror contra o povo carioca é o governador bolsonarista Claudio Castro, comandante-em-chefe da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e responsável por três das maiores chacinas policiais no Rio de Janeiro.
Por trás das cortinas, o governo federal é um responsável secundário. Já fazem quase dois anos de governo. O primeiro ano do mandato Luiz Inácio 3 foi marcado por níveis recordes de violência policial, com operações sangrentas em São Paulo (Operação Escudo), Rio de Janeiro e Bahia. O estado nordestino, governado pelo parceiro de partido de Luiz Inácio, Jerônimo Rodrigues, tornou-se o líder em mortes pela polícia.
No curso da gestão, o governo que prometeu inteligência entregou dinheiro, armas e viatura para os governadores responsáveis pela chacina. Era julho de 2023 quando o ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou projetos no valor de R$ 112 milhões para o governo do Rio, para comprar viaturas, armas, drones e sistemas de monitoramento, além de construir dois novos presídios. O jornal pró-governo “Vermelho” chegou a publicar uma reportagem com o nome “Segurança é vetor da aproximação dos governos Lula e Cláudio Castro“.
Dois meses depois, durante a alta da violência policial na BA, Dino e Luiz Inácio selecionaram alguns blindados da Polícia Federal (PF) que estavam no Rio para serem enviados às favelas baianas.
Já a chamada inteligência ganhou nomes chiques como “Gestão Integrada de Segurança Pública” e, nos raros momentos em que é usada, é para incrementar a única prática das polícias brasileiras: repressão aos pobres, mas agora por meio de técnicas avançadas e duvidosas como a inteligência artificial e o reconhecimento facial. O dia a dia, contudo, continua de guerra aos pobres, revistas arbitrárias, torturas sistemáticas e violação dos direitos mais básicos. Afinal, se a inteligência fosse usada de outra forma, coibiria as práticas ilícitas dos próprios militares, policiais de todas as corporações e magnatas, verdadeiros mantenedores de redes do tráfico de drogas e desvios de cargas.
No campo brasileiro não é diferente, como revelam as denúncias que policiais civis da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) torturaram e executaram camponeses durante o sono no Acampamento Terra Prometida, no Pará.
Na outra ponta da corda, a rebelião cresce. Somente em setembro, os correspondentes de AND noticiaram revoltas contra operações policiais em Porto Alegre, Salvador e Vitória. Na capital gaúcha, moradores do condomínio Princesa Isabel, onde trabalhador foi sequestrado, torturado e morto por policiais, bloquearam os portões do condomínio contra uma nova incursão e atiraram paus e pedras nos militares. Em Salvador, a rebelião foi no bairro Valéria. Os moradores incendiaram barricadas e revidaram a repressão dos militares depois do assassinato dos jovens Matheus dos Anjos Nascimento (21) e Wendell Aragão Pinto (18). No Espírito Santo a revolta ocorreu em São Benedito. “Não à criminalização do Território do Bem”, dizia uma faixa levantada por dezenas de moradores revoltados pela morte de dois jovens durante um treinamento da PM no bairro.