No dia 22 de março, um operário de 49 anos que não teve sua identidade revelada por motivos de segurança, chegou em aparentemente mais um dia normal de trabalho na loja de sucatas onde trabalhava, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. De repente, o trabalhador foi surpreendido pelo patrão com acusações infundadas de furto. O que se sucedeu, conforme relatado em vídeo pelo operário ao monopólio de imprensa GZH, foram 8 horas de torturas brutais.
“Quando eu cheguei no estabelecimento para trabalhar, ele (o patrão) disse que eu tinha roubado ele, que eu tinha entrado no ferro velho para roubar ele… Eu que acabei de sair de casa (…)” “(…) Nisso ele me pegou e me derrubou no chão e botou uma fita nas minhas mãos, por trás, e começou a me arrastar até os fundos da casa dele…e ai que começou a tortura”
O patrão o acorrentou nos fundos da casa e o espancou e torturou, decepando seus dedos, utilizando uma furadeira, um maçarico, alicates e água escaldante. De acordo com o operário, o torturador filmava tudo o que acontecia e enviava para pessoas desconhecidas. Uma mulher também observava as torturas:
“Ele me largou na parte da churrasqueira, me deitou ali e me chutou, botou a corrente no meu tornozelo e amarrou no fogão à lenha(…)” “(…) Foram torturas de choque, água quente fervendo, um maçarico na minha cabeça e dando chutes no meu rosto(…)” “(…) Tava ele e a namorada, e a mãe dele, tava só ele (praticando as torturas), o resto tudo viram(…)” “(…) Aí ele pegou um alicate de cortar cadeado, e mandou cortar meu dedo, se não cortasse ele ia arrancar minha mão com outro alicate grandão que tinha(…)” “(…) mas doeu muito cara, não consegui cortar meu dedo de uma vez só, aí quando consegui cortar o dedo, que caiu aquele pedaço do dedo no chão, ele pegava o dedo e mostrava na câmera… era tipo um troféu pra ele (…)” “(…) ele pegou a furadeira e encostava no joelho, ainda que não chegou furar, ai ele disse ‘olha, é só pra ti ter uma ideia do que eu vou fazer contigo, eu vou só encostar aqui e depois vou atravessar fora a fora o teu joelho’, falava ‘fala que tu me roubou’ e me dava chute na cara, pra não apanhar mais eu disse que roubei(…)” “(…) tô tranquilo porque ele tá preso mas tenho medo por receio de ele mandar fazer alguma coisa comigo de lá, porque ele ligava, mandava pros cara ‘olha aqui ó o que eu peguei’ ‘olha aqui o que eu faço com quem me apronta’, e eu falava, ‘eu não te aprontei cara’, a mulher dele disse ‘para com isso, chega chega, dá um tiro na cabeça dele e acaba isso de uma vez’ (…)”
Após isto, o operário relatou ainda que o casal começou a discutir. Foi quando ele aproveitou para pegar o alicate que havia por perto e cortar a corrente que o prendia, conseguindo escapar do local. Após incessantes 8 horas de torturas, o torturador foi identificado pelo monopólio de imprensa GZH como Ricardo Sodré Fernandes da Silva, que foi preso pouco tempo depois da fuga do torturado.
Realidade generaliada
Casos de violência contra operários e demais trabalhadores pelos patrões se amontoam conforme aumenta a crise geral do velho estado, sobretudo nos ambientes mais insalubres, onde predomina o trabalho informal ou servil.
No final do ano passado, veio a público que mais de 160 imigrantes chineses estavam submetidos ao trabalho ‘análogo a escravidão’ em uma fábrica da empresa imperialista BYD, na região metropolitana de Salvador, na Bahia.
No Rio Grande do Sul, em fevereiro, dezenas de imigrantes e camponeses foram encontrados em estado de servidão em latifúndios da região da serra gaúcha, onde sofriam constantes ameaças e violência pelos patrões.