‘Os ianques sofrerão mais do que ninguém’, afirma Talibã após Trump cancelar negociação de rendição

‘Os ianques sofrerão mais do que ninguém’, afirma Talibã após Trump cancelar negociação de rendição

Resquícios de um ataque talibã ao complexo militar ianque Green Village, em Cabul, capital do Afeganistão. Foto: Omar Sobhani/Reuters

No dia 7 de setembro, Donald Trump fez um anúncio inesperado ao cancelar as negociações entre o USA e o Emirado Islâmico do Afeganistão (Talibã), que vinham acontecendo desde 2018 a fim de retirar as tropas ianques do país. 

Segundo Trump, a decisão, sem nenhum efeito positivo prático para o USA, teria sido tomada após o Talibã assumir responsabilidade por uma ação armada que ocorreu na capital afegã Cabul, que matou um soldado ianque, bem como outros 11 soldados lacaios. 

O Talibã, por sua vez,  jamais alegou que interromperia seus ataques contra os invasores, e havia inclusive intensificado eles nos últimos meses, como forma de pressionar a negociação e achincalhar ainda mais os ianques em sua derrota contundente, além de servir também como resposta às agressões perpetradas pela ocupação estrangeira, que não cessou tampouco seus ataques à nação e ao povo afegãos. 

No dia seguinte ao anúncio, o Talibã declarou, em nota oficial, que a decisão de Trump significaria apenas uma perda ainda maior de vidas e riquezas para os ianques, e o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid, afirmou em um comunicado que “os ianques sofrerão mais do que ninguém por cancelar as negociações”. 

A nota publicada também afirma que “o Emirado Islâmico provou para o mundo por meio de contínuas negociações que essa guerra tem sido imposta a nós por terceiros e que se as negociações possuírem precedência sobre a guerra, nós seguiremos com elas até o final”. 

Além de suspender as negociações, Trump também anunciou que havia cancelado uma reunião secreta que, segundo ele, iria ocorrer com a presença de líderes do Talibã e o presidente fantoche do Afeganistão, o que em todos os 18 anos de guerra jamais ocorreu e seria um fato inédito. 

O representante do imperialismo ianque disse em sua conta oficial no Twitter, como de praxe, que “sem o conhecimento de quase todos, os líderes do Talibã e o presidente afegão, Ashraf Ghani, foram para o USA no sábado para o que seria uma reunião politicamente rica no acampamento oficial do presidente, Camp David, em Maryland”. 

Segundo o monopólio de imprensa internacional The New York Times, um alto funcionário do governo disse que a reunião secreta estava agendada para ocorrer no dia 9 de setembro, dois dias antes do aniversário de 18 anos dos ataques de 11 de setembro de 2001, episódio que marca o início da invasão do USA no Afeganistão. 

O Talibã tampouco negou a informação, ao lançar uma nota oficial chamada “Declaração do Emirado Islâmico sobre o tweet de Donald Trump sobre negociações”, porém declarou que: “Tamanha reação por um único ataque logo antes de assinar um acordo demonstra a total falta de compostura e experiência [de Trump]. Isso ainda quando os ataques do USA e seus apoiadores domésticos martirizaram centenas de afegãos e destruíram seus bens”, se referindo ao fato de que as agressões das tropas invasoras continuam acontecendo apesar das negociações.

‘Para cada ação, há uma reação oposta’

O ataque ao qual Trump atribui a suspensão da negociação aconteceu no dia 2 de setembro, em que o Talibã bombardeou um complexo militar em Cabul conhecido como Green Village (Aldeia Verde), onde se baseiam tropas ianques e do Exército fantoche afegão, bem como empresas de segurança privada. 

O ataque rapidamente passou a circular na imprensa nacional e internacional, e precipitou um protesto de civis afegãos no bairro que fica próximo ao complexo militar, em que os manifestantes exigiam que os invasores deixassem o Afeganistão, e chegaram a incendiar uma torre de guarda e diversos veículos blindados. 

O Talibã, em nota publicada no dia seguinte, declarou que o ataque ao Green Village estava sendo condenado pelo USA em um momento em que “os invasores estrangeiros e seus mercenários” continuam a perpetrar suas agressões contra civis, e que “aqueles que discordam em atingir um local militar como o Green Village devem entender que, para cada ação, há uma reação oposta. É impossível que criminosos estrangeiros e domésticos dentro de Green Village realizem massacres em massa nas aldeias do Afeganistão, mas eles mesmos permaneçam seguros dentro de centros militares”.

O Talibã reitera veementemente que as agressões praticadas sistematicamente pelos soldados ianques e seus lacaios, afegãos e estrangeiros, são direcionadas contra alvos civis, aldeias e mercados, enquanto o Talibã busca sempre atacar alvos militares, como bases e postos de policiamento da ocupação colonial. 

No dia 8 de setembro, por exemplo, os moradores de uma aldeia no distrito de Sayedabad, na província de Maidan Wardak, bloquearam uma importante estrada que conecta Cabul à Kandahar, gritando palavras de ordem anti-imperialistas, após os ianques realizarem um ataque aéreo contra um carro, que acabou matando nove civis, incluindo um pai e três de seus filhos, que estavam no veículo.

Apesar de ter um projeto político islâmico e feudal, o Talibã tem cumprido, temporariamente, a tarefa da Revolução Afegã de expulsar as tropas imperialistas, libertando o país do processo de ocupação colonial ianque. A emancipação cabal da nação e do povo afegãos, no entanto, depende da vitória cabal da Revolução de Nova Democracia, cuja direção só pode ser a do proletariado.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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