Familiares sepultam camponeses assassinados no Massacre de Pau D’arco. Foto: Lunae Parracho
Perpetuando o caminho sanguinário de injustiças cometidas pelo latifúndio em conluio com o velho Estado, em Pau D’arco no Pará, o camponês sobrevivente e testemunha do Massacre ocorrido em 2017, Fernando Santos do Araújo, de 39 anos, foi assassinado com um tiro na nuca durante a noite de 26 de janeiro.
Sobrevivente de um dos mais brutais crimes contra os camponeses no país, o Massacre de Pau D’arco, durante o fato Fernando conseguiu fugir e se livrar do cerco policial, não sem antes ver o próprio namorado ser executado pelos policiais durante a chacina. A partir de então ele se tornou testemunha chave no processo criminal que investiga policiais civis e militares.
Fernando foi um dos primeiros camponeses a integrar a ocupação, resistindo a inúmeras tentativas de despejo. Sob ameaças de morte, junto a outros sobreviventes do massacre se retirou do área que posteriormente foi reocupada de maneira vigorosa pelos camponeses no mesmo ano em que ocorreu o hediondo crime, formando ali o Acampamento Jane Júlia. Porém, retornou a região tempos antes de seu assassinato.
Durante uma audiência ocorrida em 2020, o camponês afirmou: “A gente já pagou por essa terra. Com nosso sangue!”.
Impunidade e conivência
O massacre de Pau D’arco ocorreu em maio de 2017, na antiga Fazenda Santa Lúcia, terra grilada pelo latifúndio localizada no Sul do Pará, área reivindicada pela família Babinski. Uma operação policial que envolveu civis e militares além de pistoleiros deu cabo a um massacre que assassinou 10 camponeses. Em meio a madrugada dois ônibus escolares com cerca de 30 policiais civis e militares dirigidos pela Delegacia de Conflitos Agrários (Deca), torturaram e assassinaram os camponeses.
Os 16 policiais denunciados pela participação no massacre seguem em liberdade já reintegrados às suas funções, aguardando o júri que não tem previsão para acontecer. Quanto aos mandantes, não houve sequer a conclusão do inquérito aberto.
Advogado dos camponeses é o único preso ligado a chacina
No dia 1 de janeiro, o advogado José Vargas Júnior foi preso, acusado de envolvimento em um caso de homicídio, cujo as provas são piadas enviadas por áudio a um amigo. Ele é a única pessoa ligada ao caso. No seu caso a ligação se dá por exercer sua profissão de defensor do direito dos camponeses.
Com sua prisão, celular e computador foram apreendidos, com estes era possível ter acesso a dados e denúncias sigilosas dos camponeses contra a polícia.
O advogado que atua em defesa dos camponeses que reocuparam a Fazenda Santa Lúcia, foi preso em meio a uma ordem de despejo emitida pelo judiciário. No dia 25 de janeiro após uma audiência foi determinado que ficaria em prisão domiciliar.