Dezenas de estudantes indígenas e quilombolas ocupam a Pró-Reitoria de Gestão Estudantil da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), localizada na Unidade Amazônia, bairro de Fátima em Santarém, desde o dia 21 de janeiro.
A ocupação ocorre em protesto ao cancelamento do pagamento de bolsas para alguns estudantes indígenas. Em 2018, a reitoria, em reunião, afirmou que iria avaliar cada caso para evitar a desistência dos alunos. Os estudantes afirmam que a ocupação é por tempo indeterminado até que seja solucionado o cancelamento das bolsas, que são provenientes do Programa Bolsa Permanência, gerenciado pela Ufopa em conjunto com o Ministério da Educação, com recursos do governo federal.
A sede da Ufopa está localizada na cidade de Santarém, distante 1.374 quilômetros da capital Belém. Na região administrativa estadual, atualmente chamada de Baixo Tapajós, vivem 13 etnias indígenas: Apiacá, Arara Vermelha, Arapium, Borari, Jaraqui, Kumaruara, Maitapú, Munduruku, Munduruku-cara-preta, Tapuia, Tupaiú, Tapajós, Tupinambá e Wai-Wai, além de outras diversas comunidades quilombolas. De acordo com a reitoria da Ufopa, foram suspensas 42 bolsas e outras 54 foram canceladas. Cabe ressaltar que o valor da bolsa é fundamental para manutenção do estudante durante a graduação.
A acadêmica do curso de bacharelado interdisciplinar em saúde, Eli Tupinambá, relata que todos os estudantes foram surpreendidos com o cancelamento das bolsas, pois em 2018 a reitoria havia se comprometido com todos que iria analisar cada caso e comunicar previamente sobre qualquer cancelamento.
Um dos estudantes recebeu um e-mail diretamente do Ministério da Educação informando que sua bolsa foi cancelada. Desde então, os alunos indígenas e quilombolas decidiram ocupar a Pró-Reitoria contra esse cancelamento e permanecerão até a solução efetiva do problema. “Os estudantes precisam dessa bolsa para a permanência na universidade. Até solucionarem o problema dos 96 alunos, nós permaneceremos ocupando esse espaço que conquistamos e que nos pertence.”, diz um dos jovens.
A estudante indígena Auricélia Arapiuns afirma que a ocupação da Pró-Reitoria não é apenas contra o cancelamento das bolsas dos estudantes da Ufopa, mas também um recado de luta pela defesa dos direitos dos povos indígenas contra o descaso do velho Estado. “Diante das políticas públicas de desmonte dos direitos indígenas e quilombolas pelo governo federal e também por conta do corte das bolsas pela Ufopa, resolvemos fazer essa ocupação hoje. Sem as bolsas, os estudantes não têm como continuar na cidade. Fomos pegos de surpresa porque havíamos fechado um acordo com a universidade, agora descumprido pela pró-reitora de gestão estudantil. A única saída que tivemos foi ocupar a universidade e exigir uma solução para nosso caso.”, protesta.
A estudante Luana Kumaruara, do curso bacharelado em Antropologia, denuncia que essa decisão é um retrocesso que atinge os povos tradicionais amazônicos. Segundo ela, os povos indígenas vão lutar contra o avanço dos retrocessos. “É um total retrocesso, pois trata-se de um direito garantido. E nós, indígenas e quilombolas, somos os que mais sentimos. Não vamos permitir esse retrocesso.”.
A estudante quilombola Gerciane Betcel, oriunda da comunidade Tiningú, afirma que a ocupação é legítima e denuncia que a aprovação no vestibular é apenas o início de uma longa jornada de lutas diárias para permanecer na graduação. Ela denuncia ainda que alguns estudantes já estão deixando de frequentar as aulas por dificuldades financeiras.
“Isso é uma preocupação muito grande, porque no geral já são quase 20 bolsas quilombolas revogadas e nosso movimento é legitimado. Isso preocupa muito a gente, porque todos nós saímos das comunidades para tentar um espaço na universidade. Eles abrem o espaço, mas fazem com que nossa permanecia não seja útil aqui dentro. Nós estamos fazendo essa reivindicação, para ver o que eles vão falar a respeito disso tudo que está acontecendo, pois muita gente precisa pagar aluguel, precisamos nos deslocar de ônibus haja vista que muita gente mora longe do Campus. Isso sem falar que muitos estudantes não estão vindo mais para cá, devido não ter condições de pagar o transporte.”, expõe.