No dia 18 de agosto, foi revelado um esquema envolvendo desvio de aproximadamente R$ 300 milhões destinados a hospitais públicos do Pará durante a pandemia. O crime que contava com a conivência do velho Estado tinha como um dos principais organizadores o latifundiário Nicolas André Morais, de 32 anos, um dos maiores pecuaristas do país.
Latifundiário Nicolas André Morais organiza esquema de desvio de verbas para combate a Covid-19. Foto: Reprodução
A comprovação dos fatos veio em meio a Operação “Reditus”, segunda fase da Operação “S.O.S”, deflagrada pela Polícia Federal (PF). De acordo com as investigações, o latifundiário era beneficiado po velho Estado, em um conluio onde quatro Organizações Não Governamentais (ONGs) indicadas por ele conseguiram fechar contratos ilegais com os governos, em valores que chegavam aproximadamente a R$ 1,2 bilhões. Eram essas ONGs que administravam os hospitais do Pará, sendo cinco hospitais regionais e quatro hospitais emergenciais de campanha no combate ao Covid-19.
Conforme vídeo divulgado pelo monopólio de imprensa G1, o latifundiário Nicolas Morais, que chegou a ter 180 mil cabeças de gado, se exibia frequentemente nas redes sociais, declarando frases como: “Gado extra, top, só têm de primeira”.
Situação do hospital de campanha de Santarém
Segundo as investigações, era destinado pelo governo R$ 8 milhões mensais para o hospital. Em uma conversa com seus aliados em vídeo, o latifundiário diz: “Vou precisar de 5 milhões, vai ter que dar um jeito de tocar o hospital com 3 milhões e pouco esse mês”.
Em outra conversa ele alega: “Vai ficar 1 milhão de reais para pagar as besteirinhas”. As “besteirinhas” ao qual o latifundiário se refere eram as despesas essenciais do hospital, como pagamentos de funcionários médicos, enfermeiros, remédios, etc.
Segundo a advogada Jyanny Dantas, 27 médicos ficaram sem receber. O médico Luiz Chaves, que trabalhou em um dos hospitais de abril a setembro do ano passado, denunciou as condições do hospital: “Era um grande galpão com uma lona cobrindo, com alguns ar condicionados espalhados, mas não suficiente para o calor que fazia lá dentro. Em alguns momentos a bomba e oxigênio falhava, entrávamos em desespero lá no hospital com as pessoas sufocadas era o caos, acabou que o hospital fechou e ficamos três meses sem receber”.
O esquema criminoso acontecia em vários lugares do Brasil
Além do desvio direto das verbas dos hospitais públicos, veio à tona também a maneira como o dinheiro era “camuflado”. Faziam parte do esquema de lavagem de dinheiro, o uso de notas frias e superfaturadas, além de serviços que não eram prestados. Também ocorreu a compra de equipamentos que nunca chegaram aos hospitais como, por exemplo, 11 ventiladores pulmonares que custaram o valor de R$ 480 mil.
A nota da compra está em nome de um posto de gasolina que pertence ao latifundiário Nicola. Porém o estabelecimento não funcionava na época da suposta negociação. Mesmo fechado movimentou o valor de R$ 100 milhões.
Outro fato que veio à tona com as investigações, foi que o esquema da organização criminosa era planejado pelos médicos Cleudson Garcia Montali e Lauro Henrique Fusco Marinho. Ambos são apontados pelo Ministério Público por desviar recursos destinados à saúde em Araçatuba, Barigui e Penápolis (SP). O latifundiário Nicolas Morais que lucrava exorbitantes montantes de dinheiro liderava o esquema segundo os indícios, apenas no estado do Pará.
Os criminosos transportaram para o estado de São Paulo, no avião particular do latifundiário Nicolas Morais, dinheiro em espécie que totalizava uma quantia de R$ 6 milhões.