No dia 10 de abril, domingo de Páscoa, pistoleiros a serviço do latifúndio emboscaram e assassinaram o camponês Lindomar Dias de Souza, morador da ocupação Divino Pai Eterno, em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará. O assassinato ocorreu após uma tentativa dos camponeses de retomada de duas casas que haviam sido tomadas pelos pistoleiros há alguns meses. Uma delas era de Lindomar. As informações são da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Segundo a CPT, quando os camponeses se direcionaram para uma das casas que seria reocupada, os pistoleiros que ali se encontravam fugiram e deixaram para trás duas motos. Com a área livre de pistoleiros, Lindomar, entendendo estar seguro, saiu de moto em direção à vila da Lindoeste. Poucos momentos depois, os camponeses que estavam em uma das casas ouviram disparos de arma de fogo a cerca de 400 metros de distância. Após aguardar um tempo, os camponeses se direcionaram até o local dos disparos e encontraram Lindomar morto.
Lindomar é o sétimo camponês assassinado na ocupação Divino Pai Eterno. Nos últimos anos, as lideranças Osvaldo Rodrigues Costa e Ronair José de Lima, foram emboscados e assassinados em 16/11/2015 e 14/08/2016, respectivamente. Ninguém foi julgado e punido pelos crimes.
Latifundiários atacam camponeses há pelo menos 15 anos
A disputa pela posse do complexo Divino Pai Eterno, onde cerca de 152 famílias vivem e produzem, se desenrola desde 2008. A área é constituída de 9.700 hectares de terras públicas federais e foi objeto de grilagem, desmatamento e extração ilegal de madeira pelos latifundiários Edson Coelho dos Santos, o “Cupim”, Bruno Peres de Lima e Arnaldo Pereira Viana.
Desde o mês de novembro de 2022, os ataques da pistolagem na região recrudesceram. Segundo os camponeses, bandos paramilitares com logística de deslocamento (caminhonetes e motocicletas) e pontos de apoio (residência de dois moradores expulsos de casa), ameaçaram moradores, arrombaram e incendiaram casas e destruíram bens da ocupação.
Camponeses denunciam omissão do Incra e exigem terra
Os camponeses denunciam que a morosidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em ceder a titularidade das terras às famílias tem facilitado a ação dos bandos de pistoleiros a serviço do latifúndio. Além disso, a CPT denuncia a completa negligência do órgão estatal, relatando que este esteve presente na região, mas ignorou as manifestações e solicitações de reunião propostas pelos camponeses, evidenciando sua omissão perante os ataques do latifúndio.
Sul e sudeste do Pará teve doze camponeses assassinados desde a Chacina de Pau D’arco
Desde a Chacina de Pau D’arco, como ficou conhecido o crime das forças policiais do velho Estado latifundiário-burocrático que assassinou dez camponeses em 2017, até 2021, 12 lideranças camponesas foram mortas no sul e sudeste do Pará. Nas últimas quatro décadas a CPT registrou 29 massacres com 152 vítimas. Nesse período, 75 foram assassinadas no sul e sudeste do estado.