PA: Liderança indígena é alvejado a tiros

Liderança indígena Lúcio Tembé, alvejado a tiros no PA. Foto: Reprodução

PA: Liderança indígena é alvejado a tiros

Lúcio Tembé, liderança indígena da aldeia Ture-Mariquita, foi alvejado por tiros na madrugada do dia 14 de maio próximo à cidade de Tomé-Açu, no estado do Pará. Os indígenas denunciam que o crime ocorreu como parte do conflito pela terra na região envolvendo áreas ricas em pés de dendê e localizadas nas imediações ou dentro das Terras Indígenas (TIs). Segundo eles, o atentado foi encomendado pela empresa latifundiária Brasil BioFuels (BBF). A empresa também foi denunciada por cometer diversos crimes contra os indígenas nas áreas que explora. A Polícia Civil afirma que prendeu um suspeito e acusa o “tráfico de drogas” como motivador do crime.

O crime ocorreu quando o carro que Lúcio Tembé pilotava de volta para a aldeia atolou. Enquanto tentava liberar o veículo, o indígena foi abordado por dois homens mascarados em cima de uma moto. Um dos pistoleiros disparou diretamente no rosto de Lúcio. Os homens não disseram e nem levaram nada. Após o ataque, o sobrinho de Lúcio carregou seu corpo até uma mata próxima e lá aguardou até o amanhecer, quando solicitou ajuda aos motoristas que começaram a passar pela estrada. 

Lúcio foi levado para o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), em Belém, onde ficou internado até às 12h30 do dia 15/05. Não há mais detalhes sobre seu estado de saúde. 

Polícia Civil isenta latifúndio do crime

O novo atentado contra o povo Tembé se insere no contexto de graves conflitos entre comunidades indígenas e populações tradicionais contra empresas latifundiárias da região, sobretudo do ramo do óleo de palma. As empresas são acusadas há anos de avançar sobre os dendezais próximos e dentro das TIs e territórios camponeses de ribeirinhos e quilombolas da região. 

No dia 16/05, agentes da Polícia Civil afirmaram ter prendido um suspeito de cometer o crime contra Lúcio Tembé. De acordo com os policiais, o suspeito foi encontrado com cerca de R$ 4 mil enquanto tentava fugir da área. A motivação para o crime seria, segundo a Polícia Civil, o tráfico de drogas na região, estimulado pelo suspeito e coibido pelo cacique Lúcio Tembé.

A versão dos indígenas e do Ministério Público Federal (MPF) contraria a investigação da Polícia Civil. Segundo o povo Tembé e outros moradores  da região, o principal motivo em torno do ataque seria a disputa de terras, promovida principalmente pela empresa latifundiária e produtora de óleo de palma e biocombustíveis Brasil BioFuels (BBF). 

Edvaldo Turyuara, cacique da aldeia Pintar, do povo Turyuara, afirmou ao portal Amazônia Real que: “Nós temos um conflito juntamente com a BBF e o único que a gente vê hoje que quer nos parar, nos matar, acabar com o índio, como eles dizem que querem, tirando o índio do lugar deles, é a empresa BBF. Nós não temos nenhum outro inimigo aqui, só eles”.  

O próprio MPF também afirmou em nota à empresa que possivelmente esse é “mais um episódio de violência que os indígenas Tembé de Tomé-Açu estão sofrendo por causa de conflito com empresas produtoras de dendê na região”. A instituição completa que “desde a instalação da empresa Biopalma ao redor da Terra Indígena Turé Mariquita, em Tomé-Açu, vários episódios de violência contra os indígenas já ocorreram, relatam os ofícios expedidos pelo MPF neste domingo”. A Biopalma, subsidiária da Vale, foi instalada na região em 2009, após intensos incentivos do governo federal da época, sob gestão de Luiz Inácio (PT), para a exploração de óleo de palma. Os ativos da empresa foram vendidos em 2018 para a BBF.

A BBF é acusada de diversos crimes contra os povos indígenas em todo o país. Em abril, o dono da BBF, Eduardo Schmmelpfeng da Costa Coelho, foi acusado de tortura em outubro de 2021 contra 11 pessoas de uma comunidade indígena no Vale do Bucaia. A empresa latifundiária também é suspeita de ter promovido um ataque com pistoleiros contra indígenas Turyuara em setembro do ano passado. Na ocasião, um carro com homens armados disparou contra veículos ocupados por indígenas no quilômetro 14 da rodovia PA-256. O ataque deixou um morto. No dia seguinte, em outro ataque, a casa do povo Turyuara foi incendiada. 

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