Manifestação rechaça operação da Polícia Federal em Jacareacanga. Foto: Reprodução
No dia 26 de maio, ocorreu um protesto em Jacareacanga, município localizado no estado do Pará, para rechaçar a presença da Polícia Federal (PF) na região. Após interdição de estradas, rodovias e também ataques às bases da operação, a PF se retirou. A operação, intitulada “Mundurukânia” oficialmente combatia o garimpo. Frente a isso, pessoas foram organizadas para o protesto.
Entre os manifestantes estavam garimpeiros e indígenas. Na divulgação da manifestação é usada a frase: “Garimpeiro não é bandido”. Em áudios explicando o motivo das manifestações, um dos trabalhadores disse: “Jacareacanga depende do garimpo para sobreviver, se deixarmos mais um dia, amanhã são mais 15 máquinas que eles vão queimar. Quero ver se sai umas dez mil, trinta mil pessoas. Índio ou não-índio, hoje nós somos um povo só, todo mundo é igual”.
Dias depois, a operação, que contava com a participação da Força Nacional, Polícia Federal, Civil e Rodoviária, além do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foi suspensa.
Trabalhadores fecham vias da cidade e após protestos operação da PF é suspensa. Foto: Reprodução
O velho Estado buscava usar a Operação da PF para reprimir aquela parcela da população que utiliza a atividade do garimpo como forma de se sustentar. Entre os que valem-se da ocupação, ilegal, estão desde funcionários de empresas, pequenos proprietários, camponeses sem terra expulsos de outras terras e até mesmo indígenas.
Contradições no seio do povo
Em meio às manifestações, a casa Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn foi incendiada. A associação que reivindica a não exploração mineral das TIs também havia sido atacada em 25/03, durante um outro protesto ocorrido na cidade.
Na ocasião do ataque, uma carta assinada por diversos caciques do povo Munduruku denunciava um projeto de lei que visa regularizar o garimpo em territórios indígenas, que segundo os indígenas incentivará a entrada e destruição de seus territórios.
Casa de presidente da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn é incendiada. Foto: Apib
No dia 19/04, outro grupo de indígenas Munduruku foram até Brasília e em protesto exigiram a saída da Força Nacional e cobraram o direito de realizarem a exploração mineral em seu território. Uma das lideranças afirmou que não admite mais que os indígenas continuem a viver na miséria em uma terra com tantas riquezas.
Em abril de 2021, durante manifestação em Jacareacanga Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn é atacada. Foto: Reprodução
Outras rebeliões
Fato similar aos atuais conflitos que ocorrem em Jacareacanga aconteceram em outubro de 2017 quando manifestantes invadiram e atearam fogo em 37 balsas e nos prédios do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Eles também entraram no prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), onde funciona o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Sem ter acesso ao local, atearam fogo em veículos que estavam estacionados na área.
O protesto conhecido como “Rebelião dos garimpeiros” visava o fim da Operação “Ouro Fino” promovida pela Polícia Federal que combatia a atuação dos pequenos garimpeiros.
Conforme publicado pelo AND a respeito da rebelião, o mesmo não ocorria com grandes mineradoras monopolistas, citando o caso da mineradora norueguesa Hydro Alunorte, que contaminou com resíduos tóxicos igarapés e rios de Barcarena, região metropolitana de Belém. Somente após a descoberta de um terceiro ponto clandestino de lançamento de rejeitos, o judiciário do Pará determinou corte de apenas 50% da produção da empresa. O caso afetou mais de 40 mil pessoas que até hoje buscam por justiça.