Guerreiros Munduruku realizam autodemarcação de seu território no Pará. Foto: Alessandra Korap Munduruk
Entre os dias 12 a 16 de agosto, 30 guerreiros do povo Munduruku do Médio Rio Tapajós, no estado do Pará, retomaram a autodemarcação da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu. Foram demarcados na ação uma extensão de 15 quilômetros (km) de terra. Placas de sinalização foram colocadas ao longo do percurso da autodemarcação. Os indígenas denunciam a criação de uma pista de pouso clandestina e também uma extensa área desmatada por garimpeiros.
Em entrevista à Amazônia Real, a liderança Alessandra Munduruku, afirmou: “Estamos protegendo aquilo que é nosso. Estamos lutando para garantir o futuro e para manter a floresta em pé, coisa que o governo não faz”. Há na região uma iminente ameaça de construções de hidroelétricas dentro da TI, além de ações do latifúndio através da grilagem e de madeireiras.
A autodemarcação feita pelos Munduruku teve início há seis anos e incentivou diversos outros povos a implementarem a ação. Ela se baseia em não esperar os órgãos governamentais (como o Ibama) e realizar por conta própria a delimitação do território indígena. Esse processo se dá de maneira independente do velho Estado, tendo como principal força os próprios indígenas organizados.
A criação de Sawré Muybu
A TI Sawré Muybu, fundada no ano 2000, está localizada nos limites do município de Itaituba, no sudoeste do Pará. Sua extensão se estende até a foz do rio Jamanxim e da Floresta Nacional do Jamanxim. O local onde sempre habitaram Munduruku possui 178 mil hectares.
“A gente está lutando para afastar os invasores das nossas florestas. A gente faz autodemarcação para garantir que as futuras gerações possam ter o direito de viver no nosso território, as do futuro e as de agora também, já que a Funai até hoje não demarcou nossa área”, disse também em entrevista ao portal, o cacique da aldeia, Juarez Saw Munduruku, que lidera a ação desde seu início.
A autodemarcação
Foi sob a gerência de Dilma Rousseff/PT que a autodemarcação teve início. O velho Estado colocava em curso um plano devastador proposto pelo Ministério de Minas e Energia que projetava construir um complexo de hidrelétricas previsto para o rio Tapajós onde, caso fosse implementado, alagaria grande parte da TI.
O nome da obra seria hidrelétrica São Luiz do Tapajós, licitada em 2015, com capacidade de produção de energia prevista de 6,1 gigawatts. O licenciamento do projeto de hidrelétrica foi suspenso em 2016. A ameaça mais recente além das invasões é a construção a ferrovia Ferrogrão, com potencial para impactar mais de 10 terras indígenas.
“A gente tem feito a autodemarcação do território por conta dos projetos de empreendimentos que ameaçam as terras Munduruku, como Ferrogrão, hidrovias, as hidrelétricas, os portos. Por isso, desde 2014 a gente vem falando que ali é um território indígena. E a gente está buscando isso, que todos saibam e que demarquem o território, porque ele já é reconhecido desde 2016, mas até hoje ele não foi demarcado”, afirmou ainda Alessandra Munduruku.