Os candidatos da extrema direita e direita tradicional foram os vencedores da farsa eleitoral no Sul e Sudeste do Pará; o boicote, por sua vez, foi expressivo e aumentou em relação às últimas eleições municipais.
Enquanto o oportunismo mal conseguiu compor alguma chapa com suas siglas tradicionais e, quando o fez, perdeu de lavada a disputa, a direita e centro-direita vinculada a família Barbalho e/ou a extrema-direita capitaneada pelo discurso bolsonarista – mas não necessariamente amparada por Bolsonaro – foi quem disputou e arrebatou as prefeituras na região.
Comprovou-se o colocado no artigo de Jailson de Souza da edição impressa do AND 256, Levantar a bandeira da Revolução: “Não há dúvidas de que as eleições municipais refletirão o domínio objetivo que a direita latifundiária detém sobre o Poder Político. Com o ‘Centrão’ usurpando o Orçamento em beneficio de emendas parlamentares, teremos, neste ano, uma vitória revigorada do que se chama a ‘velha política’, as oligarquias do poder municipal, os latifundiários – onde grassam os valores políticos, ideológicos e morais bolsonaristas. […] O governo atual ao fracassar com o nome de ‘esquerda’, prepara o próximo governo bolsonarista. A sua primeira etapa será a derrota nas eleições municipais.”
A farsa eleitoral no Sul e Sudeste do Pará não foi diferente. Os grupos que aí venceram açambarcando todas as prefeituras transpiram e concentram ainda mais o poder nas mãos dos latifundiários e das grandes mineradoras atreladas ao imperialismo. Sai na ofensiva o latifúndio genocida dos povos indígenas e que mais assassinou lideranças camponesas no País nos últimos 50 anos, a base forte das organizações paramilitares de extrema-direita de ontem (UDR) e de hoje (Invasão Zero).
Boicote às eleições versus direita e extrema-direita nas prefeituras
Parauapebas, hoje o quarto maior município do Estado com pouco mais de 275 mil pessoas, registrou quase 38 mil abstenções, contra 18 mil em 2016 (sendo 131 mil votantes no total em 2016 e 162 mil na mais recente). Isto é: o dobro de abstenções com somente 20% de aumento do número de votantes.
Redenção registrou cerca de 12 mil abstenções, 1.143 nulos e 429 brancos, um total de mais de 21,8% de boicote. Conceição do Araguaia, 8.258 mil pessoas se abstiveram da farsa, 23,8% do total (número de votantes mais abstenção).
São Félix do Xingu, registra número semelhante: as abstenções sozinhas atingiram 22%. Estes dados ainda não computam a enorme quantidade de pessoas nestas regiões que não votam, por estarem desobrigados de fazê-lo ou por terem perdido seu título.
Em Marabá, onde todas as pesquisas apontavam como certa a vitória de Chamonzinho do MDB de Barbalho, foi Toni Cunha do PL de Bolsonaro que venceu no primeiro turno. O candidato do PT, Dirceu, mal alcançou 15% dos votos válidos: só o número de abstenções o superou em 13 mil votos.
Em Parauapebas, Aurélio Goiano, convidado a se retirar do PL no começo do ano após escândalo envolvendo suspeita de violência contra a mulher, angariou o eleitorado bolsonarista e venceu no primeiro turno. Ainda na esfera de domínio da Vale, em Canaã dos Carajás, com apoio da mineradora e de grandes latifundiários locais, Josemira do MDB ganhou do candidato bolsonarista assumido.
Segundo o imprensa local, o prefeito Vandin (União Brasil) de Água Azul, se reelegeu e já adiantou logo a primeira medida: mais que dobrou o seu salário que foi de R$ 14 mil para nada menos que R$ 30 mil por mês. Não podia ficar de fora o vice-prefeito e os secretários: enquanto o soldo do vice-prefeito foi de R$ 9.800 para R$17.500, os secretários dobraram seus salários de R$ 5.000 para R$10.000. Além do aumento salarial, os secretários vão receber em dezembro de cada ano junto com o décimo terceiro, uma parcela igual ao subsídio daquele mês.
Em Redenção, o bolsonarista Dr. Rener, ganhou do candidato de Barbalho do MDB, Gabriel Salomão, também apoiado pela esquerda eleitoreira.
Elida Elena em Conceição do Araguaia, ligada ao então prefeito bolsonarista Jair Martins, venceu. Este foi o mesmo prefeito que apoiou a atividade da mineradora Horizonte Minerals que já causara diversos prejuízos ambientais e sociais para a população local quando, alegando questões financeiras, foi obrigada a suspender sua operação.
Em Xinguara, apesar de ser forte reduto do bolsonarismo, onde se formou a organização de direita Xinguara, na qual membros participaram da bolsonarada de 8 de janeiro de 2023 o candidato “não tão” bolsonarista e ligado aos Barbalho, Osvaldino Assunção, venceu. Mais uma vitória da direita tradicional e das velhas oligarquias.
Compra de voto é a regra na farsa eleitoral
O Correspondente local de AND teve testemunho direto da lógica que permeia a farsa eleitoral na região, presenciando inúmeros casos e ouvindo relatos de compra de votos, que aconteceram na maior cara dura, a luz do dia e sem ruborizar ninguém.
Quando na casa de Dona Maria*, sua neta com o esposo chegou para lhe visitar e confessou: o candidato bolsonarista lhe deu 500 reais para votar nele. Após alguns minutos de discussão sobre o caráter farsante das eleições, concluiu: “peguei esse dinheiro, mas chegando lá não vou votar é em ninguém”.
Uma jovem que trabalhou na campanha de um candidato a vereador do PT, relatou: “a cada 10 pessoas que íamos na casa, 8 não nos atendiam”. Em uma das casas, uma senhora escaldada de falsas promessas declarou que não votaria em ninguém e estava farta dos politiqueiros.
Carlos*, que já trabalhou para ganhar um dinheiro na campanha de um vereador numa cidade do sudeste, afirmou: “O candidato que quer ganhar campanha e não sai com uma maleta com 20 mil, 30 mil no sábado antes da eleição, não vence nada”.
Segundo o monopólio de imprensa, no município de Parauapebas a Polícia Federal realizou quatro mandados de busca e apreensão em casas e comitês de candidatos, investigados por corrupção e compra de votos.
Foram apreendido envelopes com dinheiros em espécie no valor de 25 mil reais além de cestas básicas e vários vale-combustíveis. Também o G1 noticiou que em Ourilândia do Norte, o vereador irmão Edivaldo do MDB obrigou eleitores que comprou voto a usarem óculos-espião na hora de irem para as urnas a fim de efetivar a venda do voto.
Tais relatos mostram que única coisa que ainda dá sobrevida à farsa eleitoral é o dinheiro. É o que brincou o poeta Jessier Querino: “caminhão de eleitor com votos tudo vendido, isso é cagado e cuspido, paisagem do interior”.