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Policiais militares à atiraram queima-roupa com balas de borracha contra camponeses que trabalham e moram no acampamento Osmir Venuto (antiga fazenda Surubim), localizado no distrito Gogó da Onça, em Xinguara, Pará, no dia 2 de dezembro. Os militares pertencem à patrulha rural do 23º Batalhão da Polícia Militar (PM).
O vídeo flagrando a ação covarde dos militares foi gravado pelos próprios camponeses. As imagens mostram o grupo de trabalhadores andando pela mata carregando sacos de castanhas quando são surpreendidos por três policiais fortemente armados. Estes mandam os camponeses colocarem as mãos na cabeça, mas os trabalhadores se recusam e dizem: “Não somos ladrões, somos trabalhadores”; então os policiais dispararam deixando cinco feridos.
Os camponeses se recusaram porque é de praxe, em abordagens como essa, os policiais e paramilitares roubarem a produção carregada pelos agricultores, dispensando-lhes ainda pancadas e toda sorte de agressões físicas.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os camponeses registraram o caso na Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca) e descobriram que não havia mandado judicial para a realização da abordagem. Os trabalhadores ainda denunciaram que sequer passaram pelo exame de corpo de delito.
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Polícia age em conjunto com latifundiários e pistoleiros
Há uma suspeita de que os policiais tenham agido em conluio com grandes fazendeiros e pistoleiros da região.
De acordo com uma testemunha que preferiu falar em anonimato para o jornal Brasil de Fato – pois está sendo ameaçada de morte após denunciar grilagens de terras na região -, todos sabem que a PM de Xinguara e do município vizinho, Eldorado dos Carajás, trabalha em conluio com pistoleiros da região. A pessoa relatou que tantos os pistoleiros quanto os policiais roubam as castanhas dos camponeses, além de agredirem e matarem os pequenos agricultores locais.
A testemunha contou ainda que, dessa vez, os camponeses foram agredidos pois se recusaram a entregar as castanhas aos policiais que trabalham sob a ordem do latifundiário da fazenda Surubim, Almikar Farid Yamim. “Os companheiros estavam saindo da mata e a polícia estava esperando por eles. A PM estava cumprindo esse trabalho para eles, para a fazenda”, afirmou.
A pessoa entrevistada prosseguiu dizendo que pistoleiros foram vistos conversando e comemorando a agressão dos camponeses. “Hoje eles estavam no Gogó da Onça [os pistoleiros], parece que eles estavam dando gargalhada relembrando o fato que ocorreu e falando: ‘Enquanto o dinheiro mandar, ‘nós’ tá com o juiz, polícia, comando, nós estamos com o poder no bolso, porque quem está no poder é Bolsonaro’”.
“Dessa vez os camponeses decidiram que não, que os trabalhadores não iam mais entregar a castanha, porque a castanha é difícil para você sair colhendo, caçando um ouriço aqui, outro ouriço ali. Depois você corta os ouriços todos para tirar a castanha de dentro para você trazer para casa para vender, para pôr o alimento na mesa para os filhos e simplesmente esses bandidos virem e tomarem”, disse.
Área Pública
A vara Agrária de Marabá, em fevereiro de 2018, deu decisão favorável aos camponeses no que tange à colheita de castanha na fazenda Surubim.
O juiz Amarildo Mazutti justificou sua decisão ao alegar que o proprietário da fazenda só apresentou o georreferenciamento de 13,5 mil hectares da propriedade, que ele diz ser de de 22 mil. Com isso, a parte da fazenda fora do georreferenciamento ficou reconhecida como área pública.
Histórico de violência na região
A região Sul do Pará foi palco de diversas chacinas realizadas pelas forças de repressão do velho Estado.
Em 17 de abril de 1996, em uma ação de “reintegração de posse”, 150 policiais sem identificação assassinaram 19 camponeses e feriram 69 em Eldorado dos Carajás, no episódio que ficou conhecido como “Massacre de Eldorado dos Carajás”. Na ocasião, os trabalhadores estavam ocupando uma área próxima a fazenda Macaxeira.
Outro episódio de repercussão nacional foi a chacina de Pau D’Arco, no dia 24 de maio de 2017, evento em que dez camponeses foram executados a sangue frio por policiais militares, na fazenda Santa Lúcia, na cidade de Pau D’Arco, no sudoeste do Pará. O filme produzido pelo jornal A Nova Democracia, Terra e Sangue: Bastidores do Massacre em Pau D’Arco, trata sobre o episódio.
Sepultamento das 19 vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás no cemitério de Curionópolis. Foto: João Roberto Ripper
Camponeses, sobreviventes e parentes das vítimas da chacina de Pau D’Arco fazem protesto exigindo justiça. Foto: Mário Campagnani