PA: Povo de Salvaterra tem vitória após combativa resistência contra a polícia

Enfrentando forte repressão policial, a luta teve sucessivos protestos em toda a região
Foto: Reprodução.

PA: Povo de Salvaterra tem vitória após combativa resistência contra a polícia

Enfrentando forte repressão policial, a luta teve sucessivos protestos em toda a região

Após forte unidade de luta em combativas e audazes manifestações entre o dia 17 e o dia 22 contra o aumento das passagens de caminhão de carga nas embarcações, entre Belém e Salvaterra, por parte da empresa Henvil Transportes, moradores de Salvaterra, remanescentes quilombolas e demais trabalhadores, na Ilha de Marajó, conquistaram a redução. 

Demais manifestantes, como lideranças quilombolas e indígenas, denunciaram a hipocrisia da medida enquanto o estado promoverá a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30). Em nota oficial, o grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi publicou a contradição: 

“O governo de Helder Barbalho quer posar de defensor da Amazônia, mas não escuta os povos que a protegem. A repressão contra quilombolas e indígenas expõe a hipocrisia de um Estado que busca reconhecimento global enquanto viola os direitos das populações tradicionais “, afirma o grupo em nota. 

Também em entrevista, a vice-presidente quilombola do Quilombo Boa Esperança ressaltou que “[…] estamos num protesto reivindicando o preço das passagens abusivas, não só da passagem de balsa e lancha, mas de toda a alimentação em um preço abusivo por conta da COP. A COP era para beneficiar o povo pobre da floresta, preto, pobre, do interior, mas, no entanto, está num preço abusivo. […]”.

As reivindicações dos quilombolas e moradores eram claras, foram apresentadas para diálogo com o governo do estado, como a revogação imediata do aumento das tarifas de transporte, com negociação justa e transparente, o fim do monopólio da Henvil Transportes, garantindo um serviço público acessível e de qualidade e o fim da repressão policial contra manifestantes, priorizando o diálogo e a construção de soluções para os problemas da população. 

Caso aplicado o aumento, todos os campos da economia da ilha aumentariam drasticamente, como alimentos, materiais de construção e demais itens de necessidade mais básica, prejudicando também o turismo da região. 

Jornada de Lutas 

Enfrentando forte repressão policial, a luta teve sucessivos protestos em toda a região. As mobilizações tiveram seu início quando os caminhoneiros trancaram o Porto Camará, no dia 16 de março, onde o reacionário governo do estado do Pará lançou prontamente viaturas da tropa de choque e helicópteros contra o povo. Os manifestantes não recrudesceram, mantendo firme sua justa causa. 

Em outros pontos da ilha, moradores das vilas quilombolas bloquearam a PA 154, nas imediações da Vila União, com pneus, galhos e paletes. Na ocasião, o povo continuou resistindo mesmo sob o ataque da polícia com gás lacrimogêneo, que atirou covardemente dentro de casas próximas e escolas, o que resultou no mal-estar de muitos idosos e na convulsão de uma criança. Também foram registradas prisões de trabalhadores. As massas enfurecidas responderam com fogo, bloqueando mais vias. 

Diversas manifestações continuaram, durante a noite, no dia 20 de março, com o bloqueio da ponte da Vila de Jubim. No dia anterior, foram registradas invasões da polícia em residências de moradores na mesma localidade, assim como provas da utilização de pistolas, com projéteis utilizados na Vila de Passagem Grande, onde também foi relatada invasão de terrenos e bombas dentro das resistências, por parte também dos militares. 

Jornais locais, como o Diário Pedro Samarajo, registram o momento em que a Polícia Militar ordena um verdadeiro campo de guerra contra uma escola infantil quilombola, onde os servidores e algumas crianças de 4 a 8 anos de idade precisaram se trancar em uma sala para não serem atingidas pelas bombas. 

Vitória Popular

Após cinco dias de incansáveis batalhas, com confrontos diretos contra a PM com foguetes, paus, pedras e bodoques, o estado cedeu e, conversando com as lideranças, foi acordada a retirada das Tropas de Choque da ilha. Posteriormente, o aumento das tarifas foi suspenso, principalmente a Linha Camará, operada pela empresa Henvil Transportes LTDA.  

Em postagem na internet, como a do Mestre Damasceno, grande figura da cultura popular de Salvaterra, reafirmou que, antes de tudo, o povo reivindicava o direito ao diálogo contra tais medidas truculentas: “Salve, salva terra! Salve os nossos cidadãos, que querem paz, mas querem também, sobretudo, direitos garantidos”. 

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