No dia 6 de julho, militantes da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e familiares das vítimas da Chacina de Pau D’Arco estiveram presentes na redação de AND, ocasião em que concederam-nos com exclusividade entrevista exclusiva, na qual relataram a situação da retomada da Fazenda Santa Lúcia, a persistência das perseguições e ameaças de latifundiários e seus bandos de pistoleiros e policiais.
Um dia após o ato público de Lançamento do filme ‘Terra e Sangue’, eles também falaram sobre a importância dos eventos de solidariedade que estão ocorrendo por todo o país em apoio às famílias que seguem a luta dos seus companheiros e companheiras assassinados pelo velho Estado burguês-latifundiário. Reproduzimos a seguir a primeira parte desta entrevista.
O prosseguimento da luta
Pelé, liderança camponesa da LCP do Pará e Tocantins, relatou a importância da retomada da Fazenda Santa Lúcia e como tem sido a organização do acampamento.
– Ocupamos a Fazenda Santa Lúcia. Hoje temos lá umas 120 famílias e a proposta da área é para 210 famílias que cabem dentro daquela área. Vítimas, viúvas, filho que perdeu o pai, todos hoje se encontram no acampamento. Estão mostrando que não desanimaram, não desistiram da terra.
O dirigente camponês afirmou que as famílias estão dispostas a negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para que este regularize as terras em favor dos camponeses. Mas, se o órgão do velho Estado não agir, os camponeses irão realizar a distribuição das terras por conta própria.
– Demos tempo ao governo, mas se não resolver rapidamente, o nosso plano é colocar cada um nos seus lotes, para produzir, ter a sua roça de produção. E prosseguiu: – Nós sabemos que o país não tem uma reforma agrária, o povo entra na terra é na marra.
A ação audaz das massas camponesas de retomarem a Fazenda Santa Lúcia forçou o Incra a se posicionar sobre a situação legal das terras.
– Aconteceu o massacre no dia 24 [de maio]. No dia 27 [de maio] cobramos o Incra. Nós da Liga fizemos um compromisso, a Fazenda Santa Lúcia tem que voltar para as mãos dos camponeses. Nós levamos o Incra para o município de Redenção e discutimos a pauta e onde o próprio Incra colocou que lá era prioridade. Ele [o Incra] ficou de fazer a cadeia nominal [1] para ver se a fazenda tinha documento ou não. Se ela tivesse documento o Incra ficou de comprar. Então ficou marcado uma reunião no dia 7 deste mês de julho, mas ele [o Incra] não está cumprindo com a palavra. Então nossa proposta para os camponeses é, se o Incra não cumprir o papel, nós vamos fazer ela na marra, vamos ocupar a BR e cada um ir para a sua parcela, seu lote no Corte Popular – afirmou Pelé.
As terras do latifúndio Santa Lúcia já foram alvo de negociação com o Incra no final do ano 2015, quando o instituto tentou comprá-las por R$ 21,9 milhões. O ouvidor agrário regional do Incra em Marabá, Wellington Bezerra da Silva, revelou, em entrevista ao jornal Amazônia Real, que, naquele ano, a família de Honorato Babinski Filho não aceitou a proposta e fez uma contraproposta de R$ 22,6 milhões, mas acabou pedindo o arquivamento do processo administrativo sem dar uma explicação antes mesmo do Incra analisar esta contraproposta em Brasília.
Nota:
1- Levantamento feito junto ao Cartório de Registro de Imóveis da relação dos proprietários de determinado imóvel rural desde a titulação original até o último dono (atual proprietário).