Trabalhadores revoltados com o descaso do velho Estado e da empresas de transporte fazem ato em Belém. Foto: Redes Sociais
Por volta das 5h do dia 24 de agosto, dezenas de trabalhadores realizaram um ato interditando totalmente a estrada do Outeiro, na Ilha do Outeiro, em Belém, e somente a passagem de ambulâncias era liberada. Foram montadas rapidamente barricadas com pedaços de madeira, galhos de árvores e até blocos de concreto. Ônibus foram atacados pela fúria do povo, com o objetivo de dar prejuízo para a empresa e chamar sua atenção.
O ato iniciou-se após a pane mecânica do ônibus, em precárias condições, da linha Outeiro–Ver–o–Peso, durante a travessia da ponte que liga Icoaraci a Outeiro, no bairro do Fidélis. Pouco tempo depois, outro ônibus passou no local, mas como estava abarrotado não parou, seguindo viagem e deixando os trabalhadores ainda mais revoltados. A estrada é o único acesso rodoviário ao distrito do Outeiro, distante cerca de 30 quilômetros dos bairros centrais de Belém.
Durante grande parte do ato, os trabalhadores entoaram a palavra de ordem: Fora Belém–Rio!, referindo-se à empresa responsável pela linha.
Outros ônibus faziam a viagem de retorno para Outeiro, quando foram parados pelo ato dos trabalhadores revoltados com as precárias condições dos ônibus e com as promessas de melhorias. Os trabalhadores lançaram pedras no ônibus em pane mecânica e em mais outros três, quebrando várias janelas. Em pouco tempo várias viaturas da Polícia Militar (PM) apareceram no local, inclusive a Força Tática (Rotam) para reprimir o ato de fúria popular.
Os trabalhadores denunciam as precárias condições do transporte público em Belém, situação que se agrava ainda mais na periferia e nos distritos. As panes mecânicas são frequentes e, além disso, apesar da pandemia de Covid–19, a quantidade de veículos ainda continua reduzida, causando aglomeração e longa espera nas paradas durante a semana, sendo que aos finais de semana a demora aumenta.
Além disso vários ônibus chegam a circular sem janelas e com os bancos caindo aos pedaços. Apesar do forte verão amazônico, apenas os ônibus do Transporte Rápido por Ônibus, conhecido pela sigla BRT (do inglês, Bus Rapid Transit) possuem ar condicionado.
Ônibus foi destruído por passageiros cansados de serem transportados em verdadeiras “sucatas”. Foto: Redes Sociais
No mês de fevereiro em Outeiro, no bairro Água Boa, um ônibus da linha Outeiro–Maracacuera teve pane mecânica após a barra de direção cair no meio da rua; no quarteirão anterior havia caído um pedaço da descarga.
Em entrevista ao monopólio de imprensa TV Liberal, o trabalhador Fabrício denuncia que outras manifestações já foram realizadas cobrando melhorias no transporte, mas tanto a empresa como a prefeitura ignoraram os atos.
“Rapaz, é a mesma situação de sempre, né. Só que a gente vem sofrendo, mas não mostrava para a mídia essa situação. Já foi feito manifestação anteriormente, mas não resolveu. Olha, hoje deu prego [expressão para quando um veículo quebra] no ônibus do São Braz; o outro que veio atrás passou, ignorou, por isso a revolta. É uma falta de respeito enorme com a gente aqui, não tem horário”, desabafa.
Outro trabalhador, Valter, denunciou que a demora tem aumentado ultimamente. “Além do horário é porque os ônibus daqui, além de lotados, ficam no meio do caminho. Já tá uma coisa corriqueira para os moradores daqui. Agora só sai de 45 em 45 minutos o Presidente Vargas super lotado, e aí a gente fica inventando desculpa lá no trabalho”.
A trabalhadora Lourdes relatou: “O ônibus quebrou em cima da ponte, aí o pessoal se revoltou e começou a quebrar os ônibus. A população tá aqui querendo ir trabalhar e não pode porque a empresa não ajuda e a gente fica fumado aí, esperando ônibus, então a gente tem que fazer isso mesmo, tem que quebrar ônibus, fazer protesto mesmo, porque só assim pra ver se melhora”.
“Infelizmente esse problema não é de hoje, diariamente em torno de três a dez ônibus dão problema, e aí a população fica no meio do caminho. Já tivemos relatos de pessoas que perderam seus empregos por causa do desserviço prestado pela empresa Belém–Rio, que tem o monopólio do transporte no Outeiro”, explica outro morador da área, Alessandro, que esperava ônibus a caminho do trabalho.