Foto: Óscar Cabrerizo.
No último dia 28 de janeiro, o músico catalão Pablo Hasel (32) foi ultimado a se entregar em um centro de detenção espanhol no prazo de 10 (dez) dias – a contar de sua intimação. A ordem da Audiência Nacional espanhola vem após o órgão máximo do Poder Judiciário (Supremo Tribunal de Espanha) declarar ilegal um recurso interposto pela defesa de Hasel contra sua condenação. A medida materializa anos de chantagens públicas de entidades chanceladas pelo regime central de Madrid, que fomentam a criminalização dos críticos à monarquia-constitucionalista. Republicanos, independentistas e comunistas são os alvos favoritos.
Em 2014, Hasel já havia sido tratado como réu por alegada ‘apologia ao terrorismo’. Entre as fundamentações, incluíam-se músicas que denunciavam o envolvimento da Espanha no tráfico internacional de armas, piadas contra a família real e menções a grupos como o ETA e o GRAPO. Em 2018, ‘provas’ supervenientes ao mesmo processo, como denúncias às forças de repressão, convocações para mobilizações e ironias ao rei emérito Juan Carlos I (Bourbon) numa rede social, fizeram Hasel ser novamente julgado pela Audiência Nacional. Desde 2011, o rapper coleciona uma série de detenções arbitrárias.
Curiosamente, no curso do processo em questão, Juan Carlos se mudou para o terceiro hotel mais caro do mundo, nos Emirados Árabes, após diversas evidências de corrupção que o envolvem estourarem – entre as quais, denúncias que já haviam sido feitas por Hasel, tratadas como ‘calúnias’. Juan Carlos, no entanto, possui imunidade legal sobre todos os anos de seu reinado (1975-2014).
‘INDOMABLE’
Em comunicado, Hasel acusou o regime espanhol de ser um ‘fascismo disfarçado’ e criticou figurões no entorno do governo de Pedro Sanchez (PSOE), setor eleitoreiro da ‘esquerda’, por seu falso progressismo que se limita a dar legitimidade ao regime e que nada faz pelos presos políticos que seguem encarcerados há décadas nas masmorras castelhanas.
Dezenas de manifestações estão sendo registradas por toda a Espanha desde a decisão. Para Pablo, isto se dá porque sua condenação não é pessoal, mas tem por objetivo, em essência, impor medo aos críticos da ordem. Ele é o mais notório rapper entre dezenas que enfrentam incursões criminais por conta do que cantam.
Somando todas as acusações que pairam sobre o combativo artista, algumas com recursos em andamento e outras pendentes de julgamento, inconstitucionais até sob um regime como o espanhol, Pablo Hasel pode ser condenado a passar quase 20 (vinte) anos preso, além de sofrer a aplicação de multas de dezenas de milhares de euros. Indomável, o rapper declarou que só será encarcerado sob sequestro, uma vez que não pretende se entregar.
Charge: Vinoli