Palestina: Sionismo promove repressão e massacre durante o Ramadão

Palestina: Sionismo promove repressão e massacre durante o Ramadão

Palestinos cantam palavras de ordem e erguem bandeiras do Hamas durante um protesto contra Israel no complexo da Mesquita Al-Aqsa. Foto: Mahmoud Illean.

Dezenas de palestinos foram assassinados pelas forças de repressão coloniais de Israel e outras centenas foram presos desde a metade do mês de março, durante as comemorações do ramadão*. O Estado sionista tem realizado operações nas mesquitas, campos de refugiados palestinos e cidades ocupadas, principalmente naqueles de maior histórico de resistência. As forças reacionárias também invadiram casas, prenderam arbitrariamente palestinos e assassinaram adultos e jovens. Cerca de 25 palestinos foram mortos desde o início daquele mês. 

Mais de 150 palestinos feridos em Al-Aqsa

Mais de 150 palestinos ficaram feridos e outros 300 foram presos após resistirem a uma incursão sionista no início do Ramadão na mesquita de Al-Aqsa, Jerusalém, no dia 15/04, antes das primeiras rezas do dia. A polícia israelense invadiu a mesquita atirando bombas de gás e balas de borracha contra os palestinos, que resistiram atirando pedras e fogos de artifício. Durante a invasão dos policiais israelenses, o local sagrado para os muçulmanos foi vandalizado pelos militares reacionários, que derrubaram portas e quebraram azulejos.

A mesquita de Al-Aqsa é o único lugar na Palestina que permanece com soberania, ou seja, que a Palestina tem poder de decisão sobre como opera e é, desde a ocupação sionista desatada em 1948, visada pelos invasores como um ponto a ser tomado, ou, no mínimo, o local ser dividido para reza entre israelenses e palestinos, como num apartheid. Toda esta área de Jerusalém ocidental, à parte da Mesquita, já é ocupada pelos israelenses.

Em 1967, quando da ocupação israelense no território Palestino, os colonos ocuparam a cidade, hastearam a bandeira de Israel na mesquita, e proibiram a oração muçulmana por uma semana. Em 1982, um militante de origem estadunidense-israelense que fazia parte de um grupo sionista de extrema-direita entrou no complexo com um fuzil automático e disparou indiscriminadamente dentro da mesquita, assassinando dois palestinos. 

Em 1990, um grupo sionista tentou iniciar o processo da construção de um Terceiro Templo judeu no complexo da mesquita e a subsequente destruição de Al-Aqsa. Manifestantes palestinos se insurgiram contra a ação. Em resposta, as forças armadas reacionárias israelenses responderam aos manifestantes palestinos com tiros de armas de fogo, matando mais de 20 e ferindo pelo menos 150.

Foi na mesquita Al-Aqsa também que em 2000 foi desencadeada a segunda intifada palestina (que durou até 2005), após um político Israelense adentrar a mesquita com diversos policiais fortemente armados. Os protestos de 2021, que deram início a bombardeios de mais de duas semanas por Israel e que gerou uma onda de solidariedade internacional com a Palestina, também começaram a partir de ataques de milícias sionistas à Al-Aqsa no ramadão.

Outro ataque comum do sionismo contra os muçulmanos é a polícia israelense expulsar todos os fiéis muçulmanos do local durante feriados judeus e, neste ano, a páscoa aconteceria ao mesmo tempo que o Ramadão. Os conflitos na mesquita continuam acontecendo.

Rebelião contra Israel

A luta palestina por libertação nacional tem se agudizado cada vez mais com a chegada do feriado religioso do ramadão. Tanto os muçulmanos quanto os cristãos estão sendo impedidos de realizarem suas festividades pelo Estado fascista sionista.

Com a chegada do feriado sagrado para os muçulmanos e em face à repressão em décadas contra essa comemoração, diversos palestinos realizaram ataques a cidadãos israelenses e membros da reação, deixando cerca de 14 pessoas mortas, a partir do dia 22/03.

Um dos casos de ataques a sionistas foi durante uma revista de um homem de 40 anos palestino do campo de refugiados de Jenin contra um policial israelense, em meio a uma operação de captura, no dia 08/04. Diante da brutalidade da polícia, para se defender, o homem esfaqueou o policial e foi assassinado na hora pelo agente. Outro caso foi o de uma adolescente palestina de 15 anos que esfaqueou um homem israelens de 47 anos na perna, na cidade de Haifa, no dia 15/04.

Na cidade de Hebron, no sul, uma mulher palestina esfaqueou e feriu um policial da fronteira israelense, antes de ser morta pelas forças israelenses, de acordo com um comunicado da polícia israelense, em 10/04.

Estado sionista restringe trânsito de palestinos

O primeiro-ministro reacionário israelense, Naftali Bennett, ameaçou que, diante desse cenário que teve início no mês de março, “não haveria limites para esta guerra” contra os palestinos.

Uma organização de juventude palestina afirmou que tanto cristãos quanto muçulmanos estão arriscando suas vidas só para poder praticar sua fé: “quase 500 palestinos foram presos desde sexta-feira [15/04] enquanto tentavam rezar em al-Aqsa”.

O Estado sionista de Israel disse que proibiria os palestinos de entrar na Cisjordânia do dia 15 à 16/04, início do Ramadão. O Exército reacionário disse que estava destacando forças adicionais para a Cisjordânia e, durante o feriado judaico da Páscoa, ele impôs um bloqueio geral na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e não foi permitida a entrada ou saída de pessoas.

Palestinos mortos

Barricadas de pneus em chamas são construídas no campo de refugiados palestinos de Jenin após operação israelense. Foto: Jaafar Ashtiyeh

Apenas na noite do dia 08/04, quatro palestinos foram mortos durante as operações do Exército reacionário nas cidades de Ramallah, Nablus e Belém da Cisjordânia, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

Uma mulher palestina foi baleada por forças israelenses perto da cidade de Belém, disse o Ministério da Saúde palestino em 10/04. A mulher, com cerca de 40 anos, morreu depois de ter uma artéria rasgada por conta da bala disparada pelos sionistas e ter uma perda maciça de sangue, disse o ministério. Ela era viúva e mãe de seis filhos.

O campo de Jenin também sofreu uma série de incursões a partir do dia 08/04 em operações de captura de supostos “militantes” que poderiam ter levado à cabo os ataques com arma de fogo contra israelenses no dia anterior.

Um dia depois, um jovem de 17 anos morreu por ferimentos sofridos durante o ataque das forças de repressão sionistas em Jenin, na Cisjordânia ocupada. Uma rebelião geral se instalou no campo de refugiados de Jenin após o assassinato do homem que esfaqueou um policial durante uma revista.

Entre os mortos naquelas 24 horas após o assassinato estava o irmão de um dos prisioneiros palestinos que conseguiu escapar da prisão de Gilboa no norte de Israel no ano passado e foi capturado depois de uma caça em todo o país.

Quase todos os que foram mortos em Jenin nas últimas semanas tinham 30 anos ou menos, tendo vivido apenas no período após os “acordos de paz” de Oslo, entre a Organização de Libertação da Palestina (OLP) e o Estado sionista de Israel, evidenciando como o “acordo de paz” foi, na verdade, a paz das prisões e cemitérios.

Já no dia 14/04, Muhammad Hassan Muhammad Assaf, um advogado palestino de 34 anos, também foi assassinado pelos militares na cidade de Nablus. O Ministério da Saúde disse que Assaf trabalhou para um departamento da OLP.

Palestinos protestam no Dia dos Prisioneiros Políticos

Manifestação pela liberdade dos presos políticos palestinos na cidade de Nablus. Foto: Reprodução/ @Days of Palestine

Protestos foram realizados em diferentes partes da Palestina ocupada por ocasião do Dia dos Prisioneiros Políticos no dia 17/04. Manifestantes se reuniram em Gaza, Ramallah, Nablus, Jenin e outros locais, cantando palavras de ordem de solidariedade com os palestinos nas prisões israelenses e exigindo sua libertação imediata. 

Existem cerca de 4.450 palestinos em diferentes prisões israelenses, de acordo com Addameer, a associação de apoio aos prisioneiros palestinos. Mais de 530 desses prisioneiros palestinos são os chamados “detentos administrativos” que são mantidos por anos sem julgamento ou acusação. 

Pelo menos dois palestinos, um em Belém e outro em Hebron, na Cisjordânia ocupada, ficaram gravemente feridos depois que as forças israelenses abriram fogo contra as manifestações do Dia dos Prisioneiros Políticos. Ambos sofreram ferimentos a bala e se encontram no hospital, de acordo com o Crescente Vermelho.

Um manifestante em Nablus afirmou que “o povo palestino lamenta todos os dias os mártires que defenderam suas terras e santidades diante da arrogância da ocupação e de seus colonos” e outro manifestante declarou que diante de todos os abusos sofridos pelos presos políticos nas prisões, eles continuam orgulhosos.

Mais de 200 feridos em protesto em Beita

Confrontos entre manifestantes palestinos e forças de segurança israelenses em Beita, na Cisjordânia ocupada, em 15 de abril de 2022. Foto: Wahaj Bani Mufleh

O Exército reacionário israelense reprimiu violentamente palestinos na Cisjordânia ocupada no dia 15/04, após ataques anteriores na mesquita de Al-Aqsa. 

A organização popular palestina Crescente Vermelho disse que seus médicos trataram de 224 feridos após ataques das forças armadas reacionárias israelenses em várias cidades. Acrescentou que o Exército reacionário israelense atacou seus funcionários e impediu seu trabalho de fornecer primeiros socorros aos feridos. 

O Exército reacionário disparou com armas de fogo contra uma ambulância e danificou sua estrutura externa em Beita, perto de Nablus. 

Dezenas de moradores de Beita realizaram orações no início do ramadão em suas terras que estão ameaçadas de serem tomadas por assentamentos israelenses em Jabal Sabih. Após as orações, as forças armadas reacionárias israelenses atacaram os moradores e tentaram expulsá-los da área.  

Os confrontos de Jabal Sabih e se deslocaram para a entrada principal da cidade, onde as forças armadas reacionárias israelenses estão constantemente presentes. O Exército reacionário usou uma enxurrada de bombas de gás e armas de fogo para reprimir os manifestantes e um morador local foi assassinado.

Em outros lugares também ocorreram confrontos devido às forças armadas reacionárias israelenses reprimir a prática religiosa muçulmana, como em Beit Dajan, Qaryut e Qasra, fora de Nablus; na entrada norte de Belém; na aldeia de Kafr Qaddoum, a leste de Qalqilya; na entrada norte da cidade de Al-Bireh; e em Bab Al-Zawiya no centro de Hebron.

Gaza apoia Al-Aqsa

Palestinos em Gaza protestam contra os ataques à Mesquita Al-Aqsa pelas forças de repressão israelenses, 15 de abril de 2022. Foto: Mohammed Asad

Centenas de palestinos na Faixa de Gaza saíram às ruas para protestar contra as forças armadas reacionárias israelenses que invadiram a Mesquita de Al-Aqsa, no dia 15/04. Ayman al-Athamneh, 36, de Beit Hanoun, que se juntou ao protesto no norte de Gaza para mostrar seu rechaço ao que está acontecendo na Mesquita Al-Aqsa em Jerusalém Oriental ocupada e na Cisjordânia afirmou o seguinte: “Asseguramos a todo nosso povo na Cisjordânia que as massas de Gaza estão de todo o coração com você e com a resistência. Nós em Gaza estamos prontos para quaisquer sacrifícios em prol da Mesquita Al-Aqsa”, disse ele à ao monopólio de imprensa Aljazeera.

Ashraf Awad, 43 anos, também expressou sua raiva pelo acontecimento Al-Aqsa: “O que vimos hoje é muito provocativo e doloroso. O espancamento de mulheres, meninas e fiéis não pode ser tolerado. Exigimos à resistência que responda. Israel não conhece nada além da linguagem do sangue”.

Umm Raed Hajj Salem, 57 anos, disse que sente como se houvesse “um fogo ardendo em seu peito por causa da raiva” após a invasão isrealense: “Gostaria que as travessias estivessem abertas e pudéssemos ir de Gaza para a Mesquita Al-Aqsa para defendê-la”, denunciou a palestina.

A mulher afirmou que “Al-Aqsa é uma linha demarcada e qualquer violação e agressão contra ela é um ataque a todos os muçulmanos como um todo. Sacrificamos nossas almas, nosso sangue e nossos filhos pela Mesquita Al-Aqsa”. Esperamos que Deus nos fortaleça e a liberte em breve”.


* O ramadão é o o nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o seu jejum ritual, assim como realiza uma série de comemorações coletivas e estudo do Corão.

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