Para ‘adiar o fim do mundo’: os literatos de cocar (Parte 3)

Para ‘adiar o fim do mundo’: os literatos de cocar (Parte 3)

Dissemos nas Partes 1* e 2** desta matéria que enquanto o fascismo bolsonarista prega o ódio ao saber, ao trabalho intelectual, à pesquisa, à palavra escrita,os povos indígenas brasileiros trilham um caminho oposto e luminoso: estão registrando sua sabedoria em livros, como aquele que foi um dos mais procurados na última Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP): Ideias para adiar o fim do mundo, de autoria de Aílton Krenak.

Por mais de 5 séculos sem ter chance de se expressarem, os índios brasileiros estão, cada vez mais, escrevendo seus pensares e contares com qualidade insuspeita, pois colecionam elogios e prêmios. Entre eles, nos últimos anos, estão Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Cristino Wapichana, Marcia Kambeba, Olívio Jekupé e seu filho Werá Jeguaka Mirim (MC Kunumi), Tiago Hakiy e Adão Karai Tataendy (falecido).

Esta Parte 3 será dedicada aos intelectuais guaranis Adão Karai Tataendy Antunes, Olívio Jekupé e seu filho MC Kunumi.

Adão Karai Tataendy Antunes

UMA ETNIA NUMEROSA (E REVOLTOSA)

Eles fizeram a primeira greve que se tem notícia na América do Sul. Foi nos anos 1500, em protesto contra os espanhois dominantes, a quem deixaram de servir e de seguir sua religião católica (muitos índios se “desbatizaram”). Os guaranis, da família linguística tupi-guarani, foram (e ainda são hoje) uma das mais representativas etnias indígenas das Américas. Seus territórios tradicionais abrangem uma ampla região da América do Sul,constituída por Paraguai, Bolívia, Argentina e porção centro-sul do Brasil (à exceção de um pequeno núcleo no norte, na Amazônia). Aqui, onde habitam áreas dos estados de RS, SC, PR, SP, RJ, ES, MS e PA, somam mais de 85 mil pessoas. Mas no início do século XVI, época dos primeiros contatos com os invasores europeus,sua população provavelmente chegava a 1,5 milhão ou 2 milhões de pessoas.

A Antropologia os classifica em subgrupos (sendo os principais o mbyá, nhandeva ou chiripá, kaiowá ou paí tavyterã, avá chiriguano, guarayo, tapieté), mas a tribo tem preferido ser chamada apenas de guarani (ou de avá, sua autodenominação). Do período anterior ao seu contato com os europeus, sabe-se que formavam sociedades descentralizadas de agricultores, caçadores e coletores. Dedicavam-se ao plantio de grande variedade de vegetais, entre eles o milho, a mandioca, abóbora, batatas diversas, amendoim, feijões diversos. Eram grandes conhecedores de medicina fitoterápica.

O termo guarani, que significa guerreiro segundo o tupinólogo Eduardo Navarro, passou a ser mais empregado a partir do século XVII, quando a ordem tribal já estava bastante esfacelada por mais de 100 anos de exploração colonial. Apesar desse “desmonte”, desde o primeiro período de domínio estrangeiro movimentos de insurreição em massa dos combativos guaranis foram registrados. Vários tinham caráter religioso e eram, em grande parte, levantes surgidos em consequência da atividade de xamãs-profetas, os karaí, que, com a força de suas palavras, convenciam multidões de indígenas a abandonarem os lugarejos espanhois e seguirem dançando e cantando com o intuito de alcançar a liberdade na Terra Sem Mal, um paraíso mítico.

Atualmente, as populações guaranis vivem em pequenas áreas (legalizadas e não-legalizadas), em acampamentos à beira de rodovias ou habitam, ainda, espaços geograficamente isolados. Apesar do processo de aculturação que sofreram, essas populações conservaram uma etnicidade inesperada e vêm se recuperando demograficamente.

ADÃO, O MESTRE

Adão Antunes Karai Tataendy (Senhor Chamas Brilhantes) nasceu em 1957 na aldeia de Barra Grande, em Colombo/PR. E faleceu em agosto de 2015, na aldeia Morro dos Cavalos, em Palhoça/SC, perto de Florianópolis. Pertencia aos chiripá, mas foi “adotado” pelos mbyá, por ter casado em 1973 com dona Ivete, integrante deste subgrupo. Tiveram vários filhos, entre eles as líderes-cacicas Eunice Kerexu e Elizete Eliara e seus irmãos também ativistas, como Elizandro Antunes, professor da escolinha Itaty e Eliezer, cineasta da aldeia.

Tataendy amava crianças e ser seu professor, profissão que adotou em 1997, quando foi convidado a dar aulas na escolinha bilíngüe de Limeira/SP. A partir daí começou a frequentar cursos para ensino indígena,formação que durou sete anos.

Em 2000, mudou-se para a aldeia de Maciambu, município de Palhoça, onde foi professor até 2005. Um ano mais tarde, passou a lecionar na Escola Itaty, no Morro dos Cavalos, onde o conheci e nos tornamos parceiros em pesquisas sobre o Caminho de Peabiru. Adotou para uso da escolinha o nosso livro A saga de Aleixo Garcia – O descobridor do império inca (pois tudo indica que Garcia, nos anos 1500, conviveu justamente com os guaranis do Maciambu/Morro dos Cavalos, os quais foram seus guias até os Andes). O professor Adão, com o tempo, tornou-se leitor e admirador do jornal A Nova Democracia.

Em 2008 lançou seu livro Palavras do Xeramõi. No idioma guarani, “xeramõi” significa “meu avô”, “meu antepassado”, “meu ancestral”. A obra contém narrativas culturais, além de mitos inéditos, ouvidos de velhos indígenas e compilados por Karaí Tataendy. Ele contou com a participação de alunos de escolas guaranis catarinenses, que atuaram como seus auxiliares de pesquisa.

A antropóloga Flávia de Mello, doutorada pela UFSC, ressaltou o valor da obra do professor Adão: “O trabalho dele tem uma grande importância para a Antropologia, pois fala-se bastante da mitologia guarani, mas quase nunca a partir da perspectiva deles mesmos”. Para Tataendy, o motivo que o levou a escrever “foi que os juruás (os não-índios) estão invertendo nossa história cada vez mais, e eles fazem essa inversão com a finalidade de negar nossos direitos”.

Afirmou ele nas páginas finais da obra: “Hoje vivemos às margens das estradas, em pequenas áreas de capoeira, fazendo nosso artesanato, mas sempre cantando para Nhanderu e esperando por uma terra sem males. Cada hectare de terra, com uma aldeia formada por 4 ou 5 famílias, torna-se um pedacinho da terra sem mal. A maior fera que temos enfrentado até hoje é a cultura oposta à nossa, o capitalismo”.

Após seu falecimento e em homenagem ao mestre, foi criada pela tribo a casa cultural denominada Centro de Formação “Tataendy Rupá” (“Espaço do Tataendy”), onde são realizadas aulas e/ou oficinas de valorização da vida guarani, como Cinema Indígena, Produção de Alimentos Aplicando Agroecologia, Cultivo de Espécies Florestais Nativas da Mata Atlântica (uma boa quantidade dessas mudas foi doada pelos índios ao governo do Estado para a recuperação do Parque da Serra do Tabuleiro, que sofreu incêndio criminoso poucos meses atrás; ver reportagem em AND de 23 de setembro).

OLÍVIO, O FÃ DE NIETZSCHE

Olívio Jekupé nasceu em 1965, no Paraná. Começou a escrever em 1984. Iniciou o curso de filosofia na PUC-PR em 1988, vendendo artesanato para custear seus estudos. Também foi professor do ensino fundamental. Mudou-se mais tarde para a cidade de São Paulo, onde retomou os estudos, na USP. Mora na aldeia Krukutu, em Parelheiros, é casado e tem 5 filhos.

As dificuldades financeiras o impediram de terminar o curso na USP, mas permaneceu com um pé na filosofia. Virou admirador das ironias, das metáforas e do antimoralismo religioso do alemão Nietzsche. “Aliás eu sou aquele ‘índio nietzscheano’ que você leu no livro do Daniel Munduruku”, diz Olívio (OBS: Ele se refere à uma crônica de Daniel, onde aparece o diálogo entre um amigo “guaranietzscheano” e um pastor evangélico).

A família de seu pai é baiana, não-índia, mas a materna sim. Sua avó é de origem guarani-nhandeva de Piraju/SP. “Quando era pequena, teria uns cinco anos de idade – por volta de 1920, talvez – sua aldeia foi massacrada e os remanescentes fugiram”, informou a respeitada antropóloga Betty Mindlin no prefácio de uma das obras de Olívio, O Saci Verdadeiro.

Afirmou ainda ela sobre Jekupé: “Sendo escritor e poeta, o seu pensamento é plural, verdadeiro, quão semelhante ao ponto de vista do seu (personagem) pensador-curumim que expressa um ser à margem das raízes. Se as circunstâncias obrigam-no a sobreviver no contato com o outro (o não-índio), ele se nega a desistir, escrevendo. A ‘contação de histórias’ em Olívio Jekupé imprime-se numa atmosfera de respeito, liberdade e compromisso mútuo entre o ouvinte e o contador de histórias, no sentido de que aquele que ouve traz, também, à cena a história/memória para compreender o presente com os seus desafios e que exige de todos (brancos, negros e índios) o respeito à natureza e à pessoa humana. Nessa perspectiva, tudo faz parte de tudo. A cosmovisão indígena não separa o rio e a árvore, o saci negro e o (saci)indígena, o pajé e o poeta, a nuvem e a criança.”

Jekupé faz parte do Núcleo dos Escritores e Artistas Índigenas (NEARIN) e integrou o grupo fundador da Associação Guarani Nhe’en Porã. Publicou 16 livros, sendo que 2 deles, Ajuda do Saci e A mulher que virou Urutau, foram edições bilíngues, em português e guarani. Realiza palestras por várias regiões do Brasil. Em 2009 fez um levantamento sobre literatos índios e o publicou no livro Literatura escrita pelos povos indígenas. Nesta obra fala da importância das escolas nas aldeias para que além de contadores de histórias orais também surjam os escritores. Diz que “as histórias indígenas nesses 500 anos foram contadas pelos brancos”, porém que ninguém tem mais propriedade para discorrer sobre tais temas do que os próprios índios.

Contou Olívio à revista IHU OnLine, da universidade Unisinos, do RS, em 2018: “Eu era garoto, e sempre fui apaixonado por ler trabalhos e isso mexia muito comigo, me dava muita vontade de escrever. Tinha uma curiosidade, sempre ficava observando, pensando se havia escritores no Brasil, foi uma coisa meio impressionante porque eu não conhecia nenhum escritor. Foi uma época diferente (décadas de 1970-1980), a gente não sabia o que era um índio escritor. Quando comecei a escrever (1984) eu tinha uma preocupação porque a gente via muitos problemas. Naquela época, desde pequeno e garoto, via todos estes problemas no Brasil: a invasão de posseiros, o governo lutando contra os povos indígenas, índios sendo assassinados, índias sendo estupradas… vendo tudo isso, eu ficava muito preocupado. Então comecei a pensar, naquela época, que através de uma literatura nativa nós poderíamos conscientizar a sociedade, porque a sociedade precisa respeitar o nosso povo, já que nunca fomos respeitados”.

“Eu achava que através da escrita muitas pessoas iriam começar a nos entender melhor. Porque nós somos um povo sofrido, que desde 1500 temos perdido nossas terras, nossos rios, nossos pássaros, nossas matas. Então eu comecei a acreditar que uma literatura escrita por povos indígenas talvez pudesse trazer uma transformação para esse país. Os professores pouco sabem sobre os povos indígenas, então através de uma escrita diferente, talvez isso pudesse mudar. Eu comecei a pensar uma literatura nesse estilo. Por isso achava que uma literatura de nós, autores indígenas, era muito importante (…) Desde 1500 só se fala mal dos povos indígenas. Através dessa literatura eles poderiam começar a ter uma visão diferente e passar a falar uma coisa melhor sobre o nosso povo. A literatura nativa é uma grande arte em que eu acredito muito. Torço para que esses livros possam chegar às escolas. (Mas tem outro problema) temos escritores indígenas no Brasil, mas esses livros (quase) não chegam à aldeia. Estão faltando livros de muitos autores que precisam chegar às aldeias.”

Os livros (destaques): As queixadas e outros contos guaranis (organização) / Tekoa – Conhecendo uma Aldeia Indígena /O Saci Verdadeiro /A mulher que virou Urutau (coautoria com Maria Paulina Kerexu) / Ajuda do Saci /Verá – O contador de histórias / Xerekó Arandu, a morte de Kretã /Iarandu, o cão falante / O presente de Jaxy Jaterê / Literatura escrita pelos povos indígenas.

WERÁ JEGUAKA, O CURUMIM DO RAP

Ele surpreendeu a cartolagem, as autoridades, os convidados de honra e a equipe da Rede Globo na abertura festiva da Copa da FIFA em 2014, na Arena Corinthians (Itaquerão). Burlando a segurança e as normas internacionais do campeonato, o garoto guarani de 13 anos mostrou para a multidão, no centro do campo, uma faixa vermelha com a frase Demarcação Já. “Eu queria contar a nossa luta para o mundo”, diz Werá Jeguaka Mirim, que naquele dia levou o pano do protesto escondido dentro da cueca.

Em determinado momento da cerimônia de abertura, 3 crianças (negra, branca e indígena) soltaram pombas brancas do gramado para simbolizar a paz e a união de povos e culturas que supostamente reinava no Brasil. O que a transmissão de TV oficial não mostrou (Globo) foi que o menino, morador da aldeia Krukutu e filho do líder Olívio Jekupé, tinha uma realidade bem diferente a apresentar.

“Esse ato foi muito importante, porque a luta dos povos indígenas é, principalmente, a demarcação das terras”, afirmou Olívio, o pai orgulhoso. “Um garoto de 13 anos que não falou uma palavra conseguiu mostrar para o mundo que os povos indígenas continuam lutando, pedindo o direitos às suas terras. Eu fico feliz porque foi um ato de coragem.Também vi como um incentivo para as outras lideranças continuarem lutando. Se um garoto de 13 anos conseguiu fazer um ato, então os adultos também vão ter mais coragem. Isso foi importante para todos nós indígenas do Brasil. Muitas pessoas, hoje, perguntam sobre ele, querem conhecer o garoto da Copa, que ficou conhecido mundialmente.”

Passado um tempo Jeguaka adotou o nome de Kunumi MC (Curumim, que significa criança ou menino, no idioma da tribo),decidindo que o protesto da Copa teria continuidade através das rimas combativas do rap. “Então, isso tudo pode ser visto como um ato que não parou”, dizem pai e filho.

“Hoje quando eu vou escrever um rap, sempre escrevo pensando no meu povo, pensando na nossa luta.(Sempre me sinto) incentivado para falar sobre o racismo que a gente passa,o preconceito que os não- indígenas sentem sobre a gente”, explicou Kunumi à revista IHU Online em 2018.

Kunumi começou a ler e escrever aos 9 anos de idade na escolinha da aldeia e aos 13, junto com seu irmão Tupã Mirim,lançou seu primeiro livro Contos dos curumins guarani. Logo depois veio o infantil Kunumi Guarani.

Sobre sua opção pelo rap, ele conta: “(…) comecei a ler poesias do meu pai e gostei muito. Um dia eu estava escrevendo uma poesia, aí resolvi declamar, e vi que tinha muitas rimas, aí eu tentei cantar essas minhas poesias e deu certo. Eu vi que essas minhas poesias cantadas pareciam muito com o rap, e eu já ouvia rap. Eu ouvia o primeiro grupo de rap (indígena/guarani) que surgiu aqui no Brasil, o Brô MCs , que eu gosto muito (…) continuei escrevendo até hoje e isso eu transformo em rap.”

Seu álbum de estreia, Meu Sangue é Vermelho (My Blood is Red) é de 2017 e contém seis faixas, entre elas Guarani Kaiowá, Justiça , Tentando Demarcar.Ele também gravou com o cantor de rap Crioulo a canção Terra, Ar, Mar. O segundo álbum, lançado em 2018, foi Todo Dia é Dia de Índio.

“Tem que ter fé negô / Porque nela que estão as nossas forças / Tem que querer e querer! / Lutar pelo povo e ser o que é / Na multidão, você não é o melhor / Mas pode agir como ela / Sempre com humildade, raciocínio consciente / Grave isso em sua mente / Posso fazer um rap / Cantando / Rimando / Pedindo / Pela demarcação /Jovem negô rimando poeta eu sou! / Sou o Kunumi, luto pelo povo / E hoje eu sou assim / Luto por causa do meu povo / E por causa dos negros / Que são muito humilhados / Negô, o Kunumi chegou / E o que vale em cheque mate com meu povo hoje estou / Poesia / E um esporte corretiva poderá mudar o mundo / Sem briga e com democracia/Raciocínio consciente do “meu sangue é diferente” / Rimando, um índio consciente / Rap indígena / E o meu povo me inspira / Fumando petyngua encontramos bom lugar / Rimando, a rima consciente / Somos ‘o cara que defende’… é / Negô, o Kunumi chegou / Tentando demarcar e é zika para lutar / Negô o Kunumi chegou / Tentando demarcar e salvar o nosso estar” (Rap O Kunumi chegou).

AYVÚ RAPYTA, O HISTÓRICO DA LINGUAGEM

Na década de 1940 os guaranis ditaram ao pesquisador paraguaio León Cadogan a história da linguagem humana, até ali um dos saberes secretos da tribo. Em forma de um belo poema, o Ayvú Rapyta tornou-se uma das mais importantes obras de literatura de todas as Américas.

“Os Mbyá e os Guaranis em geral entram, através desses textos, dentro daquela categoria de pessoas das quais se pode dizer que, sem elas, o mundo do espírito seria mais pobre e menos luminoso. A literatura hoje retém esses textos como uma das grandes expressões da poesia americana”, afirmou Bartomeu Meliá. O jesuita Meliá, que faleceu há poucos dias, em 6 de dezembro, aos 87 anos,foi um etnólogo e antropólogo espanhol naturalizado paraguaio. Mesmo sendo um intelectual respeitado internacionalmente foi expulso do Paraguai pela ditadura de Stroessner em 1976, por denunciar o genocídio dos guaranis Aché-Guayaki.

A obra foi publicada com o nome completo de Ayvú Rapyta: textos míticos de los mbyá-guarani em 1959. Nela é relatada a aparição de um ser supremo e a cosmogonia seguinte, enfatizando a criação da alma da linguagem humana, o Ayvú. A seguir, um pequeno trecho do poema:

“Oh, verdadeiro Pai Nhamandu,o Primeiro! /Em tua terra o Nhamandu de coração grande / se ergue simultaneamente com o reflexo de sua divina / sabedoria (se refere ao Sol, que está nascendo) / Em virtude de tu haver disposto / que aqueles a quem tu provestes de arcos nos erguêssemos (se refere aos indígenas, aqueles que receberam arcos / flechas da divindade) / é que nós voltamos a nos erguer (‘erguer’, para o guarani, além de despertar, significa metaforicamente tornar-se gente) / Em virtude disso (recebemos) palavras indestrutíveis (refere-se ao dom da linguagem) / que em tempo nenhum, sem exceção, se debilitarão / nós, uns poucos órfãos do paraíso (Terra Sem Mal, paraíso indígena) / voltamos a pronunciá-las ao nos levantar / Em virtude delas (palavras/linguagem) que nos seja permitido / levantar-nos repetidas vezes,

Oh, verdadeiro Pai Nhamandu, o Primeiro!”


Notas:

* Parte 1: https://anovademocracia.com.br/noticias/12253-para-adiar-o-fim-do-mundo-os-literatos-de-cocar-parte-1

** Parte 2: https://anovademocracia.com.br/noticias/12362-para-adiar-o-fim-do-mundo-os-literatos-de-cocar-parte-2

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