Para livrar filho corrupto, Bolsonaro mobilizou órgãos públicos

O áudio implica Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem e Augusto Heleno por práticas nada republicanas. Contudo, não deve representar maior complicação para Jair.

Para livrar filho corrupto, Bolsonaro mobilizou órgãos públicos

O áudio implica Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem e Augusto Heleno por práticas nada republicanas. Contudo, não deve representar maior complicação para Jair.

Em 2020, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Receita Federal e a Dataprev (órgão responsável pela base de dados dos aposentados e pensionistas) foram mobilizados por Jair Bolsonaro para livrar Flávio Bolsonaro, seu filho, de investigações sobre corrupção quando este ainda era deputado estadual no Rio de Janeiro. Os planos do então presidente da república era conversar com os chefes da Receita Federal e do Serpro (órgão responsável por processar dados), além de membros do Dataprev.

Na reunião, ocorrida no dia 25 de agosto de 2020, estavam presentes Augusto Heleno (chefe do GSI), duas advogadas de Flávio Bolsonaro, além de Jair e Ramagem. O áudio, adicionado no inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre a chamada “Abin Paralela”, foi divulgado na íntegra no dia de ontem por decisão de Alexandre de Moraes. Até a divulgação, somente a defesa de Jair Bolsonaro havia pedido acesso ao material.

Por ser comprovação de uma atitude nada republicana, o áudio implica Jair Bolsonaro (investigado em dois inquéritos no STF), Alexandre Ramagem (que é candidato à prefeitura do RJ) e Augusto Heleno (general do Exército que é investigado pelas tramas golpistas de 2022). Ela foi gravada por Alexandre Ramagem (na época, era o diretor da Abin), que alegou que o objetivo era gravar uma “proposta nada republicana” de uma pessoa próxima de Witzel.

Trata-se, na verdade, de uma outra possibilidade para livrar Flávio, que foi descartada: segundo Jair Bolsonaro, o então governador do RJ, Wilson Witzel, poderia “resolver” a investigação contra Flávio em troca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, o processo corria na justiça estadual, que supostamente era “controlada” por Witzel (que nega as acusações).

O esquema de “rachadinhas” de Flávio Bolsonaro foi desvendado desde 2020, quando o Ministério Público fez uma denúncia contra ele e mais 15 assessores. Ao todo, Flávio recebeu 483 depósitos na sua conta bancária, contabilizando mais de R$ 2 milhões.

Extrema-direita fez pouco caso

Após a publicação do áudio, Flávio Bolsonaro afirmou que “a montanha pariu um rato”. Em sua interpretação, o áudio mostra “somente” como suas advogadas suspeitavam de que um grupo atuava desde dentro da Receita Federal para prejudicá-lo.

Contudo, é possível que um plano da família Bolsonaro tenha sido frustrado com a divulgação dos áudios. Isto porque, até a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de retirar o sigilo e divulgar a íntegra do áudio, impossibilitou que só a defesa de Bolsonaro tivesse acesso ao material. Neste caso, com o áudio em mãos, Bolsonaro faria surgir trechos do áudio (em “vazamentos” e “furos de reportagem”) de determinadas partes da gravação que blindam sua ilibada família e expunha ataques contra seus opositores políticos.

Dessa forma, o discurso de que Bolsonaro é, e sempre foi, “vítima de injustiças” teriam provas concretas. Cairia como uma luva no presente momento em que se aproxima da finalização dos inquéritos.

Corrupção, prisão e anistia

Seja como for, o áudio de 1h10 da reunião dificilmente representará maiores complicações para Jair Bolsonaro nas investigações que estão em curso. Há outros e mais robustos elementos como, por exemplo, a utilização do aplicativo espião israelense First Mile, cujo controle é das Forças Armadas reacionárias mas, apesar disso, estava nas mãos de Carlos Bolsonaro. Com este programa, o governo militar genocida de Jair Bolsonaro espionou à vontade grupos opositores, fornecendo a localização de muitos a partir de seus celulares.

É de se esperar que Jair Bolsonaro não se resigne e procure novas ações, tanto no objetivo de livrar a si e sua família da pecha de corrupto, como também para não ser preso e nem se tornar inelegível, pressionando por uma anistia junto ao sistema político reacionário.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: