Milhares de camponeses e caminhoneiros rumam juntos à Assunção. Foto: Reprodução
Mais de 5 mil camponeses pobres sem terra ou com pouca terra tomaram as ruas de Assunção, capital do Paraguai, no dia 24 de março, em uma grande marcha que exigia terra e crédito diante da crise. Eles receberam grande solidariedade dos caminhoneiros, que estão há mais de duas semanas em luta contra o preço dos combustíveis. Além de levarem os milhares de camponeses para a capital paraguaia em suas carrocerias, os caminhoneiros tomaram parte nos bloqueios de pistas realizados pelos camponeses rebelados.
Os protestos ocorreram durante a 28° Marcha Camponesa e as reivindicações principais eram o incentivo aos pequenos produtores (responsáveis pela produção de 48% da alimentação paraguaia), a legalização das terras ocupadas pelos camponeses pobres (foram mais de cinco mil camponeses despejados somente em 2021) e a derrubada da Lei Zavala-Riera, que tem sido utilizada para criminalizar a luta camponesa e indígena.
Com ações combativas, camponeses lançam suas exigências!
Os milhares de camponeses acamparam na praça O’Leary e realizaram manifestações em diversos prédios do velho Estado, como no Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert), na Secretaria de Emergência Nacional (SEN), no Ministério de Urbanismo e Habitat (MUVH) e no Ministério Público.
Ainda no dia 24 de março em torno de 70 pontos foram bloqueados em todo o Paraguai, em uma ação feita pelos camponeses e apoiada pelos caminhoneiros. Somente na Rota V, localizada entre a capital paraguaia e a cidade de Pedro Juan Caballero, no Mato Grosso do Sul, 11 pontos foram bloqueados. Segundo o portal Campo Grande News, a manifestação dos caminhoneiros e camponeses recebeu amplo apoio da massas das cidades onde ocorreram, e estudantes, professores e outros trabalhadores se uniram às reivindicações.
Milhares de camponeses e caminhoneiros rumam juntos à Assunção. Foto: Reprodução
Velho Estado legaliza ataque aos camponeses
Nos últimos anos, diante da crise e para garantir os superlucros do latifúndio, tem havido um aumento brutal da repressão do velho Estado paraguaio contra as massas camponesas e indígenas do país. Somente no ano de 2021, mais de cinco mil camponeses e indígenas foram despejados de suas terras em ações violentas ocorridas no campo. Segundo a revista BASE – Investigaciones Sociais (BASE-IS), essa situação se aprofunda ainda mais com a aprovação da Lei de Criminalização Zavala-Rieira.
Essa nova lei, proposta pelos senadores Fidel Zavala e Enrique Rieira e aprovada em setembro de 2021, teve como justificativa “combater o narcotráfico em terras destinadas à reforma agrária”. A lei tem sido usada, na prática, para combater as organizações camponesas de luta pela terra.
Principalmente, ela permite a prisão por 10 anos de camponeses e indígenas que ocupam terra, e tem sido usada pelo velho Estado para encarcerar lideranças dos movimentos. Mais de 50 dirigentes tiveram prisão por mais de 10 anos decretada somente nos últimos meses. Destaca-se que o senador Fidel Zavala é um importante latifundiário do Paraguai. É um dos 15 maiores detentores de terras do Paraguai e, durante o regime militar reacionário de Alfredo Storesnner (1954-1989), sua família ganhou milhares de hectares de terras públicas.
Segundo a ONG Ivy Jara, 90% das terras do Paraguai se concentram em 12 mil grandes propriedades, enquanto o restante das 10% estão distribuídas em 280 mil lotes de pequeno e médio porte. Esses dados escancaram a alta concentração de terras nas mãos de um punhado de latifundiários, situação que acontece não só no Paraguai, mas também que se reflete no Brasil e outros países da América Latina, uma vez em que nesses países se desenvolve um capitalismo burocrático agonizante, atrelado aos interesses do latifúndio e, consequentemente, do imperialismo (principalmente ianque).