Paraguai: Tropas do velho Estado assassinam dirigente do EPP

Paraguai: Tropas do velho Estado assassinam dirigente do EPP

Força Tarefa Conjunta (FTC) do exército reacionário do Paraguai assassinou dirigente e dois combatentes do EPP. Foto: La Nacion

Osvaldo Villalba, dirigente do Exército do Povo Paraguaio (EPP), e outros dois combatentes foram assassinados por tropas da Força de Tarefa Conjunta (FTC) do exército reacionário do Paraguai no dia 23 de outubro, em Cerro Guazú, departamento de Amambay, que fica na fronteira com o Brasil. O enterro do dirigente foi realizado no dia 26/10, em Assunção, após o corpo de Osvaldo ter sido levado para o presídio Bom Pastor para que sua irmã, encarcerada ilegalmente pelo velho Estado paraguaio, pudesse vê-lo. O presidente reacionário, Mario Benítez, condenou a atitude e demitiu a diretora do presídio e o ministro da Justiça por permitirem o velório.

Villalba tinha 39 anos e ingressou no EPP quando tinha 17. O dirigente participou de diversas ações do EPP contra os latifundiários em defesa dos camponeses pobres. Os outros dois assassinados pelo velho Estado eram Luciano Arguello, que entrou no EPP em 2017 após sair da Agrupação Camponesa Armada (ACA), outro grupo guerrilheiro paraguaio, e “Simón”, que não teve mais informações disponibilizadas.

A FTC é uma força de repressão do velho Estado paraguaio fundada em 2013 para combater o grupo guerrilheiro e atuar na defesa dos latifúndios do Paraguai. As tropas reacionárias da FTC conduzem patrulhas nas regiões de atuação do EPP e realizam a escolta de latifundiários, muitas vezes morando nos próprios latifúndios que defendem.

Velho Estado Paraguaio mantém Carmen Villalba presa ilegalmente e quis impedi-la de ver o corpo do irmão

No dia 26/10, familiares de Osvaldo Villalba levaram o corpo do combatente ao presídio de Bom Pastor, próximo ao cemitério onde o enterro seria realizado e onde Carmen Villalba, irmã de Osvaldo, está encarcerada ilegalmente. 

Ao chegarem no presídio, os familiares tiveram a entrada ao prédio interceptada por agentes da repressão do velho Estado paraguaio. Os familiares não se intimidaram frente à repressão e reivindicaram o direito de levar o caixão à Carmen. Dentro da prisão feminina, outras mulheres encarceradas demonstraram solidariedade com a presa política e ameaçaram realizar uma rebelião no presídio caso Carmen não pudesse ver o corpo de seu irmão. Ante à pressão popular, a diretora permitiu a entrada do caixão sob forte escolta policial. O caixão foi deixado com Carmen por cinco minutos antes de ser novamente retirado. 

Carmen Villalba está encarcerada pelo velho Estado paraguaio desde 2004, acusada de ter participado em ações armadas pelo Partido Pátria Livre (PPL) (à época, o EPP era um braço armado do PPL). Apesar de já ter cumprido os 17 anos da pena decretada, o velho Estado paraguaio se recusa a liberar Villalba. Durante esse período, os familiares de Villalba foram alvos de sequestros e assassinatos pelas tropas do velho Estado: em 2010, seu filho Nestor foi assassinado a caminho da escola; em setembro de 2020, duas de suas sobrinhas, Lilian Mariana e Maria Carmen Villalba, foram assassinadas por tropas paraguaias na fronteira da Argentina com o Paraguai. No mesmo evento, a filha de Carmen, Carmen Elizabeth Oviedo Villalba “Lichita”, desapareceu. Apesar disso, Carmen se mantém intransigente na defesa da luta popular-revolucionária no Paraguai e de outros ativistas e presos políticos pelo mundo. 

A luta popular-revolucionária no Paraguai

Duas crianças indígenas participaram do sequestro do ex-vice-presidente Denis, diz jornal

EPP organiza massas camponesas na luta armada pelos seus direitos e em ações contra o latifúndio e tropas repressivas do velho Estado paraguaio. Foto: ABC Color

A origem do EPP remonta ao ano de 1994, quando o Partido Pátria Livre (PPL) fundou o grupo como seu braço armado. Em 2001, os combatentes do PPL realizaram a sua primeira ação: o sequestro de Maria Edith Bordón de Debernardi, esposa do magnata Antonio Debernardi e nora de Enzo Debernardi, ex-diretor geral da Usina Hidrelétrica Itaipu e ex-ministro da Fazenda no governo do general Andrés Rodríguez. Em 2005, os guerrilheiros realizaram uma nova ação: o sequestro de Cecilia Cubas, filha do ex-presidente reacionário Raul Cubas.

Em 2008, a partir de um rompimento com o PPL, fundou-se o Exército do Povo Paraguaio, devidamente nomeado. No dia 16/03 daquele ano, os combatentes do EPP incendiaram o maquinário de um latifúndio em Concepción e deixaram panfletos denunciando a atuação dos latifundiários na região e convocando os camponeses a lutarem pelos seus direitos. Em dezembro, o EPP realizou um assalto e um incêndio em um quartel em Tacuati, San Pedro. Os combatentes renderam os policiais e roubaram o armamento das tropas de repressão do velho Estado. 

A partir de 2016, o EPP intensificou suas ações. Em agosto daquele ano, os combatentes realizaram a maior ação da organização contra tropas reacionárias do velho Estado paraguaio, deixando oito mortos em uma emboscada à uma viatura em Assunção. Nos anos seguintes, os guerrilheiros seguiram atacando latifúndios, matando agentes militares do velho Estado paraguaio e pistoleiros e realizando sequestros, sobretudo nas regiões de Concepción, San Pedro e Amambay. Em 2019, os guerrilheiros mataram um pistoleiro brasileiro durante uma ação contra um latifúndio no Paraguai. No ano seguinte, em resposta aos assassinatos das sobrinhas de Carmen Villalba, os combatentes sequestraram o ex-presidente paraguaio Oscar Denis. Na ocasião, os guerrilheiros reivindicaram uma doação de dois milhões de dólares em alimentos para as comunidades de San Pedro, Concepción, Amambay e Canindeyú e a libertação de prisioneiros políticos. 

Os combatentes do EPP defendem que a luta armada é uma necessidade para que as massas do país conquistem e defendam seus direitos, entre eles o acesso à terra, e destruam o latifúndio, se defendendo dos ataques das tropas do velho Estado e os grupos paramilitares organizados pelos latifundiários paraguaios e brasileiros fronteiriços. 

No Paraguai, 90% das terras aráveis estão concentradas nas mãos de somente 12 mil latifundiários. Os outros 10% se distribuem entre 280 mil camponeses pequenos e médios do país. Durante o regime militar no país (1954-1988), 6,7 milhões de hectares de terra foram entregues ao latifúndio em processos fraudulentos de “reforma agrária”. Entre 1989 e 2003, já após o fim do regime militar fascista, os latifundiários receberam do velho Estado 980 mil hectares de terra, totalizando 7,8 milhões de hectares de terra (um quinto do país) que foram entregues ao latifúndio. Em contrapartida, das 106 ocupações camponesas entre 2008 e 2019, somente 9% delas tiveram o título concedido pelo velho Estado.

Essa gravíssima concentração de terra nas mãos de poucos latifundiários é cercada de conflitos pela terra que constantemente levam à morte ou ao desaparecimento de camponeses que lutam pelo seu pedaço de chão. Entre 1989 e 2018, o país teve 124 ativistas assassinados ou desaparecidos. O ano com a taxa mais alta foi 2012, com 14 mortes ou desaparecimentos. Em 2012, o velho Estado paraguaio realizou um massacre em um latifúndio destinado à reforma agrária em Curuguaty. As tropas de repressão assassinaram 11 camponeses e levaram 14 presos. As massas resistiram ao covarde ataque e 6 policiais resultaram mortos.

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