Paramilitares dos bairros de Jardim Bangu e Catiri, na zona oeste do Rio de Janeiro, executaram a sangue frio o jovem Fábio Freitas Corrêa, de 17 anos, hoje (05/02). O jovem era morador da Vila Kennedy e foi para Bangu visitar parentes. Ele saiu da casa da família para comprar um refrigerante e, no caminho de volta, foi executado pelos paramilitares que estavam dentro de um veículo, na altura da Praça Jardim Bangu 2.
A morte do jovem revoltou os moradores da comunidade. O jovem era estudante, atleta e sonhava em ser MC e jogador de futebol. Ele já tinha treinado na escola de futebol IFB Soccer, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e era aluno do Movimento Desabafo Urbano (Modu), uma organização com projetos ligados ao hip hop e à produção artística e cinematográfica.
“Covardia, tirou a vida de um jovem cheio de sonhos. Cruel, frio, injusto. A dor e a revolta são imensas, mas sua memória seguirá viva em nós. Não vamos esquecer, não vamos nos calar”, disseram os integrantes do MODU, através de um post no Instagram.
A escola IFB Soccer publicou uma nota que diz: “É com enorme tristeza que nos despedimos do nosso ex-atleta Fábio. Sinônimo de alegria, bom atleta, educado, respeitador. Ele nos deixa tão jovem, sem ter realizado seus dois maiores sonhos: ser um MC e um jogador de futebol. Fábio se foi, mas sua família jamais irão esquecer. Luto pelo nosso eterno craque”.
Os moradores da Vila Kennedy marcaram um protesto para às 15h30 na Praça 12, no Leão. O protesto foi repercutido por páginas de Instagram como a Voz da Vila Kennedy e por movimentos como o Coletivo Cultural Renato Nathan (Corena).
Estado tem responsabilidade na guerra
De acordo com moradores, os grupos paramilitares da Vila Kennedy e da região de Jardim Bangu e Catiri estão em guerra por territórios. A região de Jardim Bangu é dominada pelos grupos chamados de milícias – corjas delinquentes que dominam territórios e impõem controle total sobre a vida das massas locais, com violações de direitos como a cobrança de taxas de moradores e comerciantes.
Esses grupos são conhecidos pelos vínculos e conchavos com a Polícia Militar (PM). O ex-chefe do grupo paramilitar do Catiri, Marquinho Catiri, foi assassinado por policiais integrantes de um outro grupo paramilitar, dentre eles Rafael do Nascimento Dutra, um PM do 15° Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Duque de Caxias, e um outro militar, preso em flagrante durante uma investigação após a morte de Marquinho por porte de munição e carregadores de uso restrito.
De acordo com informações recebidas pela Redação de AND, moradores da Vila Kennedy têm denunciado que a PM tem feito operações na Vila Kennedy para facilitar a entrada dos “milicianos” na favela e a expulsão do grupo que atualmente domina a comunidade.
Essas relações são importantes porque apontam para a responsabilidade do Estado no abastecimento dos grupos paramilitares, na guerra reacionária em curso e no assassinato de trabalhadores e estudantes moradores de favela.