Nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro, o Festival Cultural da Memória Camponesa, que ocorre anualmente na cidade de Sapé (PB), trouxe as comemorações do centenário de Elizabeth Teixeira.
Elizabeth e seu marido, João Pedro Teixeira, assassinado pelo latifúndio em 1962, foram importantes lideranças das Ligas Camponesas do estado no final dos anos 50 e começo dos anos 60. A história de combatividade de João Pedro e Elizabeth pode ser conferida no filme documentário “Cabra Marcado para Morrer” (1984), considerado pela ABRACCINE o quarto melhor filme da história do Brasil.
Ainda viva e completando 100 anos em 13 de fevereiro de 2025, Elizabeth confunde-se com a história de Sapé, que também celebra seu centenário em 2025. Diante de tal simbolismo, era inevitável que figuras do oportunismo eleitoral marcassem presença no evento. Como, por exemplo, o ministro Paulo Teixeira (PT) do governo de Luiz Inácio (PT); o prefeito da cidade, Major Sidnei (Republicanos), ex-policial militar do Rio de Janeiro e admirador de Bolsonaro; lideranças nacionais do MST, da CPT regional e de partidos como UP, PCBR e PSOL.
No evento, a cada oportunidade, a imagem de Elizabeth foi instrumentalizada. Vestiram-na com bandeiras e símbolos que ela e João Pedro, em sua juventude combativa, possivelmente rejeitariam. Em contrapartida, movimentos sociais e camponeses de Barra de Antas estão mantendo o Memorial das Lutas Camponesas em Sapé (antiga casa do casal) praticamente sozinhos, enquanto o poder público negligencia o espaço com quase nenhum auxílio.
Os “velhos” problemas perduram
Mesmo com o reformismo e o tom eleitoreiro, o festival revelou contradições entre aqueles que apoiavam Luiz Inácio e os que proclamam falas como: “Lula ama o agronegócio” (de uma liderança regional) e “Falta coragem ao governo” (de um componente regional do MST). E ainda, algum elemento da plateia que citou o Plano Safra bilionário para o latifúndio e a paralisia da reforma agrária — abandonada pelo PT há tempos.
Além disso, algumas lideranças regionais denunciaram que os conflitos da época de Elizabeth ainda perduram, pois a família Coutinho, a qual foi mandante do assassinato de João Pedro, destacadamente o Pedro Ramos Coutinho, ainda ameaça os camponeses em Barra de Antas, uma comunidade de Sapé (PB).
Em duas reportagens do ano de 2022, o portal “De olho nos Ruralistas” deu destaque para a situação dos camponeses, relembrando os conflitos e ameaças que tiveram na região, incluindo ameaças de possível despejo, pois, desde os anos 2000, existe a possibilidade da construção de uma barragem no local. A partir de 2017, tal ameaça tomou alguma forma, sendo colocada como uma contrapartida do governo estadual para a Transposição do Rio São Francisco. O único documento obtido pelos camponeses foi uma foto do mapa dos topógrafos.
Se confirmada a veracidade do projeto, e não sendo só uma maneira de amedrontar os camponeses, vê-se que a intenção do governo estadual é justamente favorecer os latifundiários da região, como foi, em última instância, a obra da Transposição do Rio São Francisco.