Dados do IBGE sobre pobreza e renda na Paraíba revelam um cenário preocupante: enquanto a concentração de renda diminuiu em outras capitais brasileiras, em João Pessoa houve aumento, contrariando a tendência nacional. Essa disparidade é evidente na comparação entre os rendimentos dos 10% mais ricos, cerca de R$26 mil, e dos 40% mais pobres, aproximadamente R$900. Isso significa que os 10% mais ricos da cidade vivem em média com 26 vezes mais renda que os 40% mais pobres. Vale dizer que os dados reais podem ser ainda mais díspares, visto que o cálculo do IBGE é baseado em ganhos do trabalho e não do capital.
Esse processo encontra correlação com o acelerado crescimento populacional de João Pessoa, que a tornou a capital nordestina com maior aumento demográfico entre 2010 e 2022, ampliando sua população em cerca de 100 mil habitantes. Isso gerou especulação imobiliária, impulsionando a inflação dos imóveis e dos alugueis. A cidade, inclusive, registrou a segunda maior alta nos preços de propriedade no país, no acumulado entre outubro de 2023 e de 2024, de acordo com a FipZAP, evidenciando a intensificação desse fenômeno.
O aumento dos imóveis também foi acompanhado pelo dos víveres, o que resultou no aumento da carestia entre os pessoenses. Paralelamente, esse processo desencadeou um deslocamento populacional, com as camadas mais pobres sendo gradativamente empurradas para áreas mais distantes do centro e mais baratas. Um exemplo emblemático desse fenômeno é o bairro de Gramame, localizado no extremo sul da cidade, que nos últimos dez anos registrou um crescimento demográfico de 400%, consolidando-se como o segundo maior bairro do estado da Paraíba.
A Paraíba é, segundo o IBGE, o estado mais desigual do país. Além disso, como desigualdade e pobreza caminham juntas é imperativo dizer que, de acordo com parâmetros do banco mundial, aproximadamente 47% dos paraibanos vivem abaixo da linha de pobreza, o que corresponde a uma renda mensal inferior a R$665.
Fora da propaganda oficial, da prefeitura e do governo do estado, que João Pessoa e a Paraíba vivem seu melhor momento, o que se vê é um quadro de desigualdade e pobreza extrema generalizada. Tudo isso não é fruto do acaso, a Paraíba é um estado de fortes reminiscências feudais, o que se traduz em baixo desenvolvimento de forças produtivas, desemprego generalizado e elevada taxa de pobreza.