PE: 250 camponeses ocupam engenho em Timbaúba

Camponeses ocupam terra em Pernambuco. Foto: MST
Camponeses ocupam terra em Pernambuco. Foto: MST

PE: 250 camponeses ocupam engenho em Timbaúba

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No dia 3 de abril, em torno de 250 camponeses ocuparam uma região entre os engenhos Cumbe, Juliãozinho e Jussara, no município de Timbaúba, em Pernambuco. As informações são do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A recente tomada ocorreu dentro do acirrado contexto de luta pela terra no país, com aumento das ocupações de terra, por um lado, e da repressão e criminalização, por outro.

As terras recentemente ocupadas pelos camponeses em Timbaúba estão sob situação de “terras de utilidade pública, para fins de desapropriação”. A área pertencia à empresa Ugina Cruangi, mas foram desapropriadas pelo governo do estado em 2013. Quando somados, os três engenhos totalizam aproximadamente 800 hectares de terra improdutiva.

A ocupação em Timbaúba ocorreu dentro do que o MST chama de “Abril Vermelho”, mês em que o movimento intensifica suas atividades pelo país. Mais amplamente, a recente tomada de terra se soma às dezenas de ocupações realizadas no início do ano de 2023 por camponeses pobres em luta contra a crise.

Ocupação em Pernambuco. Foto: MST

Intensa luta pela terra

Entre os meses de janeiro e fevereiro, ao menos 9,5 mil camponeses se mobilizaram por terra Bahia. As mobilizações contaram com a ocupação no Vale do Jequiriçá, com as diversas tomadas e fechamentos de vias entre os dias 30 de janeiro e 13 de fevereiro e com as ocupações realizadas na Chapada Diamantina.

Além da Bahia, o latifúndio foi estremecido por ocupações em São Paulo e Paraná, durante o chamado “Carnaval Vermelho”, mobilizado pela Frente Nacional de Luta – Campo e Cidade (FNL).

Ocupação mobilizou cerca de 120 mulheres camponesas na Bahia. Foto: Reprodução
Camponeses tomam terra durante Carnaval Vermelho. Foto: Reprodução
Camponeses fecheiros protestam contra grilagem de terras. Foto: Reprodução
Camponeses ocuparam área de 3.200 ha na Bahia. Foto: Reprodução

As mobilizações prosseguiram no mês de março: entre os dias 1° de 8 de março, camponesas promoveram protestos e ocupações no Rio Grande do Sul, em Alagoas e na Bahia. Na Chapada Diamantina (BA), uma nova ocupação foi realizada no dia 12/03. Já no dia 25/03, 600 famílias camponesas ocuparam uma fazenda em Goiás.

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Latifúndio incrementa repressão contra ‘Abril Vermelho’

O robustecimento da luta pela terra por todo o país despertou profunda fúria reacionária entre os latifundiários. Segundo reportagem recente do monopólio de imprensa CNN, os latifundiários brasileiros têm preparado grupos em diferentes regiões do país para atuar na repressão e no despejo aos camponeses.

Atualmente, a aliança reacionária dos latifundiários já atingiu 130 municípios da Bahia, foco de atuação da articulação. As “células”, como são chamados os grupos, estão reunidas em sete núcleos: Itabuna, Ipaú, Itapetinga, Eunápolis, Santo Antonio de Jesus e Vale do Jequiriçá.

Núcleos organizados pelos latifundiários para reprimir camponeses. Foto: Reprodução

A primeira articulação do grupo se deu em Santa Luzia. Posteriormente, novos latifundiários, organizados em associações e “sindicatos”, e prefeituras se somaram à junta latifundista. Estão entre eles Wilson Paes Cardoso, prefeito de Andaraí e presidente do Consórcio Chapa Forte, e o Sindicato Rural Gandu.

Sobre o mês de abril, um dos latifundiários organizadores do grupo, Luis Uaquim, afirmou que “o dia 1° de abril é chave. O MST chama de Abril Vermelho porque gostam de deflagrar invasões. Então, estamos nos organizando e esse movimento está ganhando dimensão nunca antes vista”. Uaquim ainda comparou o movimento a uma “bomba pronta para explodir”, uma vez que, durante os despejos “pode haver conflito”.

Toda essa articulação do latifúndio ocorre entrelaçadamente aos pronunciamentos do governo federal de Lula/Alckmin favoráveis ao armamento dos latifundiários e da criminalização das ocupações. Antes mesmo de sua eleição, durante o período eleitoral, Lula tentou garantir a tranquilidade dos latifundiários ao afirmar, em entrevista ao Canal Rural, que “ninguém vai impedir que o dono de fazenda tenha uma ou duas armas em casa”.

Em evento mais recente, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro afirmou que “o cidadão que mora no interior tem necessidade de ter uma ou duas armas e um pouco de munição para fazer a primeira defesa. Imagina se [o camponês] tiver a certeza de que o homem do campo não tem uma arma. Vai barbarizar a propriedade dele”. A afirmação ocorreu após Fávaro taxar as ocupações de terra de “invasões”, e “[tão] abomináveis como foi a invasão do Congresso Nacional no dia 8 de janeiro”.

Assassinatos, despejos e prisões

Com o apoio contínuo do governo federal e enfurecidos com a robustez da luta dos camponeses, os latifundiários têm promovido o máximo de terror às famílias camponesas em luta pela terra. Já no primeiro mês do ano, três camponeses de áreas organizadas pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), em Rondônia, foram assassinados. São eles Patrick Gasparini, Raniel Barbosa e Rodrigo Hawerroth, Segundo a LCP, Raniel e Rodrigo foram torturados antes de serem executados.

No mês seguinte, o camponês e integrante da LCP Raimundo Rodrigues foi encontrado morto em uma região de conflito agrário, desta vez no Norte de Minas Gerais.

Camponeses assassinados em Nova Mutum (RO): Raniel Barbosa Laurindo (24) e Rodrigo Hawerroth (34). Foto: Reprodução
Raimundo Adalton Mendes Rodrigues, encontrado morto no norte de MG. Foto: Reprodução

Somam-se aos assassinatos as sucessivas fustigações do latifúndio aos acampamentos e ocupações de terra. Em março, no sul de Rondônia, o acampamento Escurão, dirigido pela LCP, foi alvo de ataques. No dia 19/03, a comunidade camponesa Baixão dos Rochas, em São Benedito do Rio Preto (MA), foi atacada por 15 homens encapuzados e armados com armas de grosso calibre. Os pistoleiros destruíram casas, assassinaram animais e queimaram roças. Já em Itabela (BA), cerca de 530 famílias afirmaram estarem sendo ameaçadas por bandos de pistoleiros a soldo do latifúndio. Os paramilitares têm usado mais de 35 caminhonetes para cercar o acampamento e promover terror às famílias.

Ainda como parte deste grave cenário de repressão da luta pela terra, a FNL anunciou em março a prisão de três de seus integrantes. São eles José Rainha e Luciano de Lima, lideranças do movimento, e o militante Cláudio Passos. Com a prisão, os três integrantes da FNL se juntaram à longa lista de camponeses e ativistas atualmente encarcerados pelo velho Estado brasileiro. É o caso, também, de Luzivaldo, da área da LCP de Campina Verde (MG), preso desde 2021.

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Indígenas também são alvo

Essa covardia desenfreada do latifúndio e velho Estado não se limita aos camponeses: no Maranhão e no Mato Grosso do Sul, indígenas também foram vítimas de prisões, assassinatos e intimidações. Em janeiro, os indígenas Benedito Gregório Soares Guajajara, de 15 anos, e Juninho Guajajara, de 15 anos, foram alvejados com tiros na cabeça na Terra Indígena (TI) Arariboia (MA), região que é palco de sucessivos crimes do latifúndio. Os tiros foram disparados por homens não identificados em um carro preto. Ambos os jovens sobreviveram ao ataque.

No mês seguinte, a mesma região já havia registrado mais cinco casos de violência contra indígenas e familiares. No dia 24/01, o indígena José Inácio Guajajara foi encontrado morto com marcas de violência próximo à TI Canabrava, no município Grajaú. Três dias depois, o corpo de Valdemar Marciano Guajajara, 45 anos, foi encontrado com marcas indicativas assassinato na cidade Amarante do Maranhão, divisa com a TI Arariboia. Já no dia 31/01, o trabalhador Raimundo da Silva, de 57 anos, foi assassinado a tiros na aldeia Abraão, na TI Arariboia. Raimundo era marido de uma indígena Guajajara e trabalhava no município de Arame como motorista do Polo da Secretaria Especial de Saúde Indígena. Por fim, no dia 23 de fevereiro, o indígena Jone Canaré Guajajara e um camponês foram baleados na TI Arariboia.

José Inácio Guajajara e Valdemar Marciano Guajajara. Foto: Reprodução
Jovens indígenas foram baleados na cabeça por carro não identificado. Foto: Reprodução

Além das execuções e assassinatos sistemáticos contra os indígenas, se destacam os casos de prisões e fustigações. No mês de março, após indígenas avançarem com a retomada de suas terras em Rio Brilhante (MS), uma ação conjunta da Polícia Militar e pistoleiros do latifúndio contra a Retomada Laranjeira Nhanderu, deteve três indígenas Guarani-Kaiowá de maneira arbitrária. Além das prisões, os militares confisaram tendas e bens (bicicletas e motocicletas) dos indígenas.

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Duas semanas depois, também no Mato Grosso, a comunidade Guarani-Kaiowá Kurupi foi atacada por policiais militares e bandos paramilitares do latifúndio. Os reacionários usaram caminhonetes e helicópteros durante a operação terrorista e dispararam tiros de arma de fogo contra os indígenas.

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