As famílias camponesas do Engenho de Roncadorzinho, localizado em Barreiros na Mata Sul de Pernambuco, que sofreram com o bárbaro assassinato de Jonatas de 9 anos, estão ameaçados de serem despejados em junho deste ano. Elas afirmam que vão resistir em defesa dos mais de 40 anos de história, trabalho e suor plantados nestas terras.
Os camponeses denunciam com indignação a decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) favorável ao latifundiário “Ricardinho”, proprietário da empresa latifundiária Agropecuária Jamari Ltda. Em meados de 2021, o TJPE aprovou o arremate das dívidas milionárias da falida Usina Santo André pela Agropecuária Jamari LTDA em um “leilão online”. Por esta razão, o latifundiário teria direito legal de expulsar os posseiros das terras do engenho Roncadorzinho. As famílias camponesas, que há mais de quatro décadas trabalham nestas terras, não foram comunicadas deste suposto “leilão online”. Por isso, justamente, questionam a legitimidade deste leilão, que negociou não apenas as terras, mas a vidas das dezenas de homens, mulheres, idosos e crianças. Prática comum deste velho Estado, semifeudal e semicolonial, criar diversos artifícios supostamente legais para expulsar camponeses da terra e garantir a manutenção da concentração de terra na mão dos mais ricos, latifundiários e grandes burgueses.
Em outubro de 2021, o sindicato dos trabalhadores rurais do município, filiado à Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape) conseguiu suspender a tentativa de despejo com uma liminar. O objetivo da liminar foi abrir uma negociação com Agropecuária Jamari Ltda, mediada pela Promotoria Agrária do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), presidida pelo promotor Edson José Guerra.
No dia 10 de fevereiro de 2022, segundo moradores da região, homens fortemente armados invadiram a comunidade do engenho Roncadorzinho e sem proferir o motivo do hediondo crime, balearam o camponês Geovane, presidente da Associação dos Agricultores da Agricultura Familiar de Roncadorzinho, e assassinaram seu filho, Jonatas, de 9 anos de idade. O advogado do caso cobra respostas das “autoridades” e a conclusão do inquérito com a punição dos criminosos, mandantes e executores.
Como a maioria dos camponeses de nosso país, a família de Geovane, sem nenhuma desavença, honestamente vive de seu trabalho na terra e luta para garantir este sagrado direito à terra. Em contraposição, este bárbaro crime ocorre em meio ao conflito agrário destas famílias com o latifundiário Ricardo Pessoa de Queiroz Filho (vulgo Ricardinho), dono da empresa Agropecuária Javari Ltda. Este que afirma ser proprietário dos mais de 900 hectares de terras do antigo engenho Roncadorzinho, pretende despejar as 76 famílias camponesas que vivem e produzem nestas terras há mais de 40 anos, desde que a Usina Santo André, pertencente ao Grupo Oton Bezerra de Melo, faliu sem pagar os direitos trabalhistas de seus funcionários.
Conforme noticiado por AND, no dia 4 de abril de 2022, mais de 400 camponeses dos municípios de Água Preta, Catende, Maraial, Jaqueira, Barreiros e Palmares se uniram para realizar uma manifestação em Recife-PE. A manifestação iniciou-se em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco e marchou até as portas do Palácio do Campo das Princesas (sede do governo estadual). Na oportunidade, cobraram justiça para o assassinato covarde do menino Jonatas e a suspensão dos “leilões online” das terras das usinas falidas Santo André e Frei Caneca, localizadas na Zona da Mata Sul de Pernambuco.
Atualmente, a Fetape, que organiza a defesa jurídica dos camponeses, já comunicou as famílias camponesas do engenho Roncadorzinho, que existe uma nova ordem de despejo para ser executada contra elas em junho deste ano.
Contudo, os camponeses de Roncadorzinho, apoiados na legitimidade de posse conquistada ao longo de anos de trabalho duro nestas terras, hoje posseiros destas terras, afirmam que defenderam suas posses. As famílias camponesas de Roncadorzinho afirmam a decisão de resistir e lutar pelo direito sagrado à terra.
Leia também: PE: Camponeses da Zona da Mata seguem na luta pela terra após assassinato de criança
Em protesto realizado 04/04, camponeses reivindicam terra. Foto: Vitória Silva