No dia 26 de outubro, cerca de 600 camponeses marcharam pelas ruas do município de Jaqueira-PE e depois protagonizaram uma Grande Audiência Pública onde denunciaram a grilagem das terras das usinas falidas na Zona da Mata Sul Pernambucana e exigiram que os órgãos agrários do velho Estado regularizassem suas posses e entregassem todas as terras para os camponeses.
Após grande mobilização entre camponeses dos estados de Pernambuco e Alagoas, organizados pelos movimentos populares da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Liga dos Camponeses Pobres (LCP), Frente Nacional de Lutas (FNL), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), Federação dos Trabalhadores e Agricultores da Agricultura Familiar de Pernambuco (FETAPE), Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETRAF-CUT), Central Sindical e Popular CONLUTAS (CSP-CONLUTAS), além das associações de moradores e pequenos produtores das comunidades do Engenho Barro Branco, Engenho Fervedouro, Engenho Laranjeiras, Engenho Guerra e Engenho Várzea Velha. Toda a audiência foi acompanhada por uma comissão de advogados da Associação Brasileira de Advogados do Povo – Gabriel Pimenta (ABRAPO) cuja intervenção ratificou as denúncias de ilegalidade e grilagem de terras na região.
Preparada ao longo de meses, com realização de dezenas de reuniões, assembleias, agitações, lives etc, a união destas organizações populares conformou uma Comissão Organizadora, que coordenou uma magnífica manifestação que estremeceu as classes reacionárias e encheu de alegria todos que lutam e apoiam os povos do campo. Muitos fogos anunciavam a grande festa do povo, ao som das canções do Conquistar a terra e O risco, todas as organizações e demais representações camponesas fizeram suas intervenções se prontificando para apoiar decididamente os próximos embates contra os latifundiários nesta zona. Durante o vigoroso ato, tremulou altiva a bandeira da Heroica Resistência Nacional Palestina, numa demonstração classista de solidariedade internacional a este povo que luta de armas nas mãos em defesa de suas terras e por expulsar o invasor sionista.
A manifestação terminou dentro do Ginásio Esportivo Aécio Barros de Oliveira, porque era o único lugar no município que coube a multidão camponesa. Então, teve inicio uma solene homenagem a memória do Menino Jonatas, organizada pelo Movimento Feminino Popular (MFP), erguendo faixa e um banner vermelho com os dizeres “Menino Joantas: Presente na luta!”. Após intervenção de uma ativista do MFP, onde declarou que “nem esqueceremos nem perdoaremos os latifundiários por este crime brutal contra uma criança”, dezenas de mulheres camponesas cantaram O Risco. A homenagem foi concluída com aprovação da Grande Audiência Publica dos camponeses ser dedicada em homenagem a memória do Menino Jonatas.
A Comissão Organizadora convidou a Prefeitura e Câmara de Vereadores do município de Jaqueira-PE, Superintendência do INCRA Recife e Superintendência do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (ITERPE) para compor a mesa junto com os representantes dos movimentos, sindicatos e associações. Na pauta, os camponeses exigiram o fim dos leilões e arrendamentos fraudulentos, extinção dos mandatos de despejo, punição para os crimes do latifundiário Guilherme Maranhão e seus pistoleiros. Além da legalização de todas as terras da falida usina Frei Caneca para os camponeses que nela trabalharam durante décadas sem ter recebido seus direitos trabalhistas e das famílias posseiras que residem e trabalham nessas terras há pelo menos dois séculos.
O representante do INCRA afirmou que não tinha verba para desapropriar as terras da falida usina Frei Caneca para o povo e não poderia fazer vistoria das terras “invadidas”. Neste momento, a Prefeita Ridete Pellegrino-PSD, declarou que o INCRA não poderia se apresentar em uma Audiência Pública perante os camponeses e não garantir nenhuma solução e que os posseiros não eram invasores. A Comissão Organizadora apresentou um mapa do próprio sistema do INCRA que provou que a grilagem estava sendo apoiada pelo próprio órgão e sobre isso o representante também não deu nenhuma solução. Por fim, após muitas criticas, prometeu embargar os leilões das terras da falida Usina e requisitar as terras à Fazenda Nacional para entregar ao povo. Desta forma, a Comissão Organizadora determinou o prazo de até o dia 15 de novembro ou seria realizada uma Grande Jornada de Luta Camponesa na capital pernambucana.
Os representantes do ITERPE apresentaram relatórios parciais de vistorias técnicas das terras, denunciaram que pararam os trabalhos sob ameaças do latifundiário Guilherme Maranhão. Mas, poderiam retomar as viatórias técnicas caso fosse solicitado pelos camponeses. A Comissão Organizadora propôs que o ITERPE investigasse o valor das dívidas da falida Usina junto ao governo estadual para encaminhar a entrega das terras para o povo. A Prefeita declarou que poderá fornecer apoio logístico as equipes técnicas para realizar as vistorias.
Esta grande Audiência Pública demarcou uma nova fase na luta pela terra na Zona da Mata Sul de Pernambuco, nem os camponeses nem o latifúndio serão os mesmos depois desta atividade. Após anos de resistência, o campesinato pernambucano da Zona da Mata Sul iniciou sua contraofensiva de maneira decisiva e contundente, elevando sua luta pela conquista do sagrado direito à terra para quem nela vive e trabalha, e por derrotar os ataques do latifúndio coordenado e apoiado nas instituições do velho Estado. Assim, aos representantes dos órgãos agrários, coube o aviso: caso não cumpram sua obrigação constitucional de manter o latifúndio longe das terras do povo e seus pistoleiros fora das áreas camponesas, serão sacudidos igualmente pela grande resistência camponesa.