Na última quarta-feira (19/3), o Comitê de Apoio ao AND – Recife esteve presente para cobrir o ato realizado pelo Grêmio Livre Breno Roberto – IFPE Campus Recife, após a perseguição da direção escolar contra o movimento estudantil combativo, que ordenou a retirada das faixas e cartazes que denunciam a situação de precarização no ensino público e reivindicações por um restaurante universitário diante da constante falta de comida e água, contra a censura dos estudantes que lutam pelos seus direitos, e o passe livre imediato, por exemplo.
A ordem foi dada após a confirmação, na semana anterior ao protesto, de que no dia 12 de março o deputado estadual Gustavo Gouveia (Solidariedade) visitaria a escola, fazendo um breve passeio para identificar os problemas do campus. A diretoria afirmou no dia 11 de março que as faixas estariam “manchando” a imagem da escola, por isso, deveriam ser retiradas de imediato dos pátios e corredores.
A pressão da gestão do IFPE foi denunciada novamente pelos alunos, após a confirmação da visita da deputada estadual Dani Portela (PSOL), na manhã da quarta-feira (19/3). Foi puxada uma manifestação no mesmo dia às 11h para denunciar o sucateamento da escola e a perseguição da direção da escola ao movimento estudantil.
Os ativistas do comitê iniciaram a brigada por volta das 8h30, levando a edição nº 258 do jornal até os estudantes nos corredores, pátios, ginásio e áreas de convivência do local. Ao todo, foram vendidas 14 unidades entre os alunos e professores, que receberam entusiasmados o jornal e deixaram diversas declarações de apoio à imprensa popular e democrática.
Enquanto ocorria a brigada, era mobilizada uma verdadeira força-tarefa pela escola para tentar mascarar a aparência de descuido e sucateamento que toma as áreas de convivência, antes que chegassem os parlamentares. As gramas foram aparadas, os holofotes da quadra foram consertados, e até um tronco de árvore que ameaçava cair na cabeça dos estudantes, pendurado na árvore há um mês, foi retirado. Além disso, foram servidas frutas de boa qualidade na merenda, diferentemente do que vinha sendo denunciado pelos estudantes há pelo menos um ano. Tais mudanças ocorreram devido à mobilização estudantil, que pretendia fazer estas denúncias publicamente em manifestação com visita da deputada. O objetivo da direção era fazer parecer que a escola estava em perfeito estado e maquiar os problemas estruturais que os estudantes denunciam permanentemente. Os estudantes denunciaram ao Comitê de apoio de AND que as frutas em péssimo estado voltaram a ser servidas no dia seguinte.
Ao decorrer do dia, estava prevista uma roda de conversa aberta aos estudantes às 9h, no auditório do campus, com a Dani Portela. Entretanto, a comissão que acompanhava a parlamentar chegou ao instituto com mais de uma hora de atraso, por volta das 10h, deixando no aguardo diversos alunos e professores que estavam reunidos no local para o evento. Os participantes foram surpreendidos, mais tardar, com a notícia do cancelamento da reunião, uma vez que a deputada apenas tirou algumas fotos no hall do IF, teve um breve acompanhamento da gestão escolar e foi embora logo em seguida, sem nenhum contato com a comunidade estudantil.
Posteriormente, foi avisado aos estudantes, através do comunicado de um professor que articula a presença dos parlamentares na instituição, que o evento teria sido cancelado pela direção do colégio devido à “falta de segurança” da deputada, em decorrência da manifestação que havia sido comunicada nas redes sociais do grêmio e descrita pela gestão como de “intenções desconhecidas”, agravando ainda mais a situação de perseguição, ao imputar que o movimento estudantil estaria organizando um possível ataque à Dani Portela. Os estudantes relataram que foram convidados a participar da roda de conversa, e que participariam, mas não concordavam com o passeio dos parlamentares pela escola, mostrando uma escola supostamente sem problemas estruturais graves e sem movimento estudantil ativo que denunciasse. Relataram também que foram acusados de estar tramando um “motim” contra o evento durante a preparação do ato.
Os secundaristas relataram a um correspondente local de AND que, em decorrência da perseguição, ocorrera outro episódio, no qual a escola forjou um processo mentiroso e fraudulento a um gremista, por supostamente vazar um vídeo que atacava moralmente um estudante deficiente, mesmo sem ter prova alguma do ocorrido. De acordo com relato do estudante vitimado pela acusação, a gestão da escola teria continuado os ataques, trazendo os pais do aluno até a escola, numa tentativa de convencê-los a proibir o filho de participar do movimento estudantil: “na reunião que a diretoria teve com meus pais para tratar do assunto, foi pautada somente a opinião da diretoria de sermos ‘extremistas’ e sobre o Grêmio se portar de forma ‘violenta’ e ‘radical’. ”.
Longe de desmotivar-se pelo ocorrido, às 11h os estudantes seguiram para o início da manifestação, sob o reforço da fala de um membro do Movimento Ventania: “A ação da direção revela apenas uma coisa, que ou é possível estar ao lado dos estudantes ou a favor da burocracia e das medidas do governo federal contra o ensino público. Devemos seguir o caminho para impulsionar a luta dos estudantes!”.
No ato, foram erguidos cartazes e uma faixa contra a perseguição sofrida pelos estudantes, também trazendo suas reivindicações por um ensino público de qualidade. A manifestação seguiu combativa, com palavras de ordem em denúncia às medidas do governo federal para sucatear e privatizar a educação, como: “Que contradição! Tem dinheiro para banqueiro e não tem para educação!” “Ô, IF, presta atenção! Sem merenda, não dá pra estudar, não!” A intervenção encerrou por volta das 13h e contou também com jograis para comunicar aos estudantes a situação de descaso com o ensino público e perseguições sofridas.
Os brigadistas do comitê de apoio mantiveram a venda dos jornais durante a manifestação e acompanharam o ato fotografando e gravando a atuação dos estudantes, que pode ser conferida no vídeo disponibilizado.