PE: Em Audiência Pública, camponeses de Barro Branco desmascaram as mentiras do INCRA e denunciam as ações terroristas do movimento Invasão Zero

A desapropriação de todas as terras da falida usina Frei Caneca para distribuir a todos os posseiros do municipal de Jaqueira-PE foi a cobrança principal dos camponeses e suas organizações presentes, além da punição para os bandos do latifúndio.
Foto: Reprodução

PE: Em Audiência Pública, camponeses de Barro Branco desmascaram as mentiras do INCRA e denunciam as ações terroristas do movimento Invasão Zero

A desapropriação de todas as terras da falida usina Frei Caneca para distribuir a todos os posseiros do municipal de Jaqueira-PE foi a cobrança principal dos camponeses e suas organizações presentes, além da punição para os bandos do latifúndio.

Uma Audiência Pública para discutir sobre o ataque terrorista do movimento Invasão Zero e da empresa Agropecuária Mata Sul contra os posseiros do Engenho Barro Branco foi realizada no dia 09/12, no município de Jaqueira-PE. Compareceram cerca de 200 camponeses de todas as comunidades instaladas há séculos dentro das terras da falida usina Frei Caneca. A luta pela terra em Barro Branco é reconhecida e comprovada como o maior conflito agrário do estado de Pernambuco.

A desapropriação de todas as terras da falida usina Frei Caneca para distribuir a todos os posseiros do municipal de Jaqueira-PE foi a cobrança principal dos camponeses e suas organizações presentes, além da punição para os bandos do latifúndio que executaram ataque contra comunidade de Barro Branco no dia 28 de setembro.

Esta Audiência foi provocada pela Associação de Moradores e Agricultores de Sítio Grande e Barro Branco (AMASGBB) e pela Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste (LCP-NE), realizada pela Comissão Parlamentar de Cidadania, Participação Popular e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco e presidida pela Deputada Estadual Dani Portela – PSOL. 

Estiveram presentes na mesa da audiência a deputada Dani Portela, que dirigiu a audiência; o Presidente da Associação de Barro Branco; um advogado da Associação Brasileira dos Advogados do Povo – Gabriel Pimenta (ABRAPO); a Deputada Estadual e ativista do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) Rosa Amorim – PT; Geovani Leão, ativista da Comissão Pastoral da Terra (CPT); a Prefeita do município de Jaqueira-PE, Ridete Pellegrino – PSD; o Vice-Superintendente do INCRA de Pernambuco, Joilson Barreto Costa; a Promotora de Justiça do Forúm de Maraial – PE, Adna Leonor Déo Vasconcelos; um representante do Instituto de Terras de Pernambuco (ITERPE); a Secretária Executiva de Direitos Humanos do Estado de Pernambuco, Gláucia Andrade; o Delegado da Polícia Civil de Jaqueira, Paulo Sergio de Mattos FIlho; e o Major César, representante do 10° Batalhão da Polícia Militar de Palmares. 

Além disso, estiveram presentes o Professor Frederico Caheté da Associação de Presos e Anistiados Políticos de Pernambuco (APAP), que falou em nome do Comitê de Apoio aos Posseiros de Barro Branco, a estudante de Pedagogia da UFPE Ana Cecília, ferida à bala na Batalha Feroz do dia 28 de setembro, representantes do Movimento Feminino Popular (MFP) e um correspondente local do Jornal A Nova Democracia. 

Faixa em apoio aos posseiros de Barro Branco. Foto: Reprodução

Após as saudações de abertura das Deputadas Dani Portela e Rosa Amorim, o Presidente da Associação de Barro Branco, fez uma intervenção em denúncia aos crimes cometidos pela Agropecuária Mata Sul e o movimento de extrema-direita Invasão Zero no dia 28 de setembro. Denunciou também a falta de ação e morosidade do INCRA para desapropriar as terras da falida usina Frei Caneca. Relembrou as diversas vezes que o INCRA esteve presente em reuniões e audiências e as inúmeras promessas nunca cumpridas. Ressaltou que há mais de um ano que os camponeses aguardam a vistoria técnica do INCRA, prometida na Grande Audiência Pública realizada pela LCP, em 26 de outubro de 2024. Na oportunidade, foi cobrada satisfação pelos mais 360 cadastros realizados no começo de setembro deste ano, além das reivindicações apresentadas através de um abaixo-assinado no dia 17 de setembro.

Na intervenção do advogado da ABRAPO foi denunciado o avanço de grupos paramilitares bolsonaristas no campo, expresso pelo crescimento das ações do movimento de extrema-direita Invasão Zero e as consequências dos crimes deste bando. Tratou também da crescente criminalização da luta pela terra, explicitada pelos ataques à Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que taxam as organizações de luta do povo de “terroristas”, quando os verdadeiros terroristas são, na verdade, as hordas paramilitares do latifúndio. Apontou que isso nada mais é do que resposta dos reacionários contra o avanço da luta pela terra em Barro Branco e na Zona Mata Pernambucana e as vitórias jurídicas que são expressão disso. Por exemplo, a conquista da suspensão e recolhimento de mandados de reintegração de posse (despejo) contra uma área com mais de 600 hectares de posseiros antigos em Barro Branco.

No meio da atividade, foi lida uma nota enviada para a mesa em nome da Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste (LCP-NE), que foi ovacionada pelas massas presentes da Audiência, agitando a seguinte palavra de ordem: “um, dois, três, quatro, cinco mil, avança a Liga, por todo o Brasil!”.

Antes da intervenção do Major César, do 10° Batalhão da Polícia Militar de Palmares, que atua nos conflitos agrários no município de Jaqueira-PE e de outros da Zona da Mata Sul Pernambucana, foi apresentada uma série de denúncias feitas pelos camponeses de Barro Branco sobre a atuação da PM-PE no dia da Batalha Feroz contra o movimento Invasão Zero, incluindo as intimidações e perseguições contra os camponeses em luta pela defesa de suas terras e interrogatórios ilegais feitos com crianças dentro da Escola Municipal da comunidade, na qual a PM-PE está instalada desde o dia 28 de setembro. O Major Cesar negou ter conhecimento de qualquer denúncia e defendeu a atuação da PM-PE no dia da Batalha Feroz. Por causa disso, o Major foi rechaçado e questionado pelas massas presentes, gaguejou e se perdeu nas respostas. Os camponeses da plateia denunciaram que “Nenhuma polícia protege o povo, eles só protegem o latifundiário”. Denunciaram que os policiais militares acampados na Escola Municipal de Barro Branco só fazem dormir e atrapalhar as atividades escolares. Uma camponesa gritou “Queremos a polícia fora de Barro Branco!”.

As representações do INCRA e do ITERPE nada apresentaram a não ser mais promessas e as mesmas desculpas de sempre: “Não temos dinheiro, não temos técnicos e o Governo Bolsonaro desmantelou o INCRA”. Ora, já são dois anos do gerenciamento de Luiz Inácio- PT! Onde está a tão falada “prateleira de terras”, que acabaria com a necessidade dos movimentos de realizarem novas ocupações? Ainda tiveram a coragem de prometer que fariam 11 novos assentamentos no Estado de Pernambuco (7 pelo INCRA e 4 pelo ITERPE), mas nenhum nas terras da falida Usina Frei Caneca, onde existe o maior conflito agrário de todo estado! 

A Deputada Estadual Rosa Amorim-PT criticou a fala do INCRA e cobrou celeridade, não só para os camponeses de Barro Branco, mas também para as mais de 16 mil famílias que esperam há mais de 20 anos para serem assentadas apenas no Estado de Pernambuco. 

Apesar das promessas vazias de alguns representantes dos órgãos do Velho Estado, a audiência foi marcada por inúmeras denúncias contra o latifúndio e contra as tentativas de criminalização da luta pela terra. A combatividade dos camponeses e do conjunto das intervenções marcou o tom da Audiência Pública, demonstrando a disposição crescente das massas a lutarem até o fim pela conquista definitiva de suas posses de terra e pela destruição do latifúndio. 

Camponesa baleada na Batalha Feroz fala em audiência. Foto: Reprodução

As consignas de “É terra para quem nela vive e trabalha”, “Viva a Revolução Agrária!” e “Morte ao latifundiário, viva o poder camponês e operário!”, bradadas diante dos órgãos do velho Estado e de representantes dos comandos das polícias civil e militar, em meio a faixas e bandeiras da LCP e da Heróica Resistência Nacional Palestina, ecoaram como o prelúdio de novas lutas e deixaram o recado: Nada nem ninguém poderá deter o avanço da Revolução Agrária!

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: