Moradores procuram pessoas soterradas durante chuvas em Pernambuco. Foto: Severino Soares
Desde o dia 25 de maio o estado de Pernambuco tem sido atingido por fortes chuvas. Até o dia 01/05 já haviam sido confirmados os números de 106 pessoas mortas, 10 desaparecidas e cerca de 6 mil desabrigadas. Enquanto isso, gerentes de turno que utilizam a situação para culpar uns aos outros são denunciados pelo povo trabalhador que protesta e denuncia como crime premeditado a tragédia em Recife.
As cidades mais atingidas pelo temporal e onde houveram mais mortes foram a capital Recife, e as cidades da região metropolitana, como: Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Camaragibe. O bairro Jardim Monte Verde, na divisa dos municípios de Recife e Jaboatão dos Guararapes, foi o local que registrou mais mortes até o momento. Foram confirmadas 20 mortes na localidade.
Indignação toma forma de protesto
No dia 29/05, moradores da comunidade Bola de Ouro, em Jaboatão dos Guararapes, fizeram uma manifestação na altura do quilômetro 11 da BR-232. Com pneus incendiados, os trabalhadores bloquearam a pista para exigir a presença de militares do Corpo de Bombeiros para atuarem no resgate das vítimas de um deslizamento que estavam soterradas.
Durante a manifestação, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram enviados ao local para reprimir os trabalhadores e liberar a via.
Em tais protestos e nas entrevistas concedidas aos jornais do monopólio de imprensa por pessoas que perderam parentes e casas nos deslizamentos, todas foram unânimes em apontar o descaso do governo do velho Estado como principal responsável pelos crimes cometidos.
“Na verdade, isso não é uma tragédia. Isso é uma chacina. Porque todos os anos isso acontece, sendo que não tinha acontecido ainda nessa proporção. E isso, infelizmente, está longe de mudar. Se o governo e a prefeitura fizessem alguma coisa, isso não aconteceria todos os anos. Todo ano é família enterrando entes queridos. Isso não muda.” afirmou o mecânico Edson Souza, em entrevista ao monopólio de imprensa TV Jornal.
O trabalhador continuou denunciando as precárias condições de vida:
“O povo constrói casa em barreira, porque não tem onde morar. É a necessidade. O governo não dá suporte ao povo para uma moradia digna. Ainda tem gente que diz: ‘É perigoso fazer casa em barreira, e o povo faz’. Ou paga o aluguel ou come, essa é a realidade do pobre”, afirmou.
Edson é parente da jovem Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, que morreu junto com sua filha Beatriz, de um ano, após o deslizamento de uma barreira no bairro Jardim Monte Verde.
Inimigos do povo tiram proveito de mortes
Em meio a gigantesca “tragédia” com famílias inteiras sendo dizimadas ou tendo suas casas completamente destruídas, guardiões do velho Estado estão lutando para pôr a culpa um no outro. No dia 30/05, o presidente Jair Bolsonaro foi a Recife. O capitão falastrão disse em entrevista coletiva que: “Infelizmente essas catástrofes acontecem, um país continental tem seus problemas” e comparou o que aconteceu em Recife aos casos ocorridos em Petrópolis, no sul da Bahia e no norte de Minas Gerais, onde milhares de pessoas também morreram ou perderam suas casas.
Bolsonaro também criticou o governador do estado, Paulo Câmara (PSB), pois, segundo ele, Câmara não teve a iniciativa de pedir ajuda ao governo federal. O presidente também disse hipocritamente que não iria politizar a questão, logo depois de dar a entender que o governador estava sendo omisso. Já Paulo Câmara disse que Bolsonaro em nenhum momento ligou para ele para discutir a questão e nem o convidou para se encontrar com a comitiva presidencial que foi ao estado.
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Fato é que tanto o governo federal, quanto o estadual já sabiam da intempérie, pois o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta vermelho de fortes tempestades ainda no dia 27 de maio e mesmo assim nenhuma providência foi tomada para retirar as pessoas que moravam em áreas de risco de desabamento. Também nos dias anteriores ao temporal, a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) previu a chuva e divulgou alertas.
Além da Apac, o Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possuem estudos que apontam que o Brasil tem mais de 8,2 milhões de residências em áreas de risco. Nada, porém, foi feito e a tragédia anunciada se concretizou uma vez mais.
Crime contra o povo
Tal “negligência” e omissão dos gerentes do velho Estado frente a certeza de deslizamento e inundações em áreas pobres, é mais um crime de genocídio contra o povo. Mesmo sabendo da condição precária das moradias e do risco constante de desabamento, nada é feito para dar lares dignos e seguros a famílias que moram em morros e encostas. Pelo contrário, os sucessivos governos de turno limitam-se a emitir alertas e abandonar as pessoas à própria sorte, com elas tendo que sair às pressas de suas residências, deixando todos os bens que conquistaram com suor e sangue para trás.