Massas se revoltam em Camaragibe contra transporte público precário. Foto: Reprodução/TV Globo
As massas de Camaragibe, região metropolitana de Recife, realizaram dois protestos e levantaram uma barricada em chamas às 5 da manhã do dia 23 de agosto após mais um dia de atraso e superlotação do transporte público no Terminal Integrado de Camaragibe. Os atrasos e problemas de estrutura do transporte público do terminal afetam 51 mil pessoas que o utilizam diariamente.
O protesto ocorreu após a paciência do povo esgotar-se, depois de meses de atrasos na abertura da estação de metrô e de ônibus que há no terminal, com atrasos de mais de 35 minutos entre viagens. Além da superlotação tanto no metrô quanto nos ônibus, luzes internas que não funcionam, estruturas quebradas, entre tantos outros problemas que o povo tem de enfrentar diariamente e que os monopólios do transporte e o velho Estado não resolvem nunca.
No início daquela manhã, a abertura dos portões e o início das operações na Linha Centro do metrô do Recife atrasou mais de 40 minutos e a demora afetou os demais ramais do metrô que atende a Grande Recife. Diante disso, as massas revoltadas bloquearam o acesso ao terminal com pedras e caçambas de lixo e mais tarde avançaram para a avenida Doutor Belmino Correia, onde construíram uma barricada com móveis em chamas.
Massas se revoltam em Camaragibe contra transporte público precário. Foto: TV Jornal
O operador do serviço que trabalha sob essas condições também denunciou a situação de precarização à Folha de Pernambuco: “É complicado, o serviço aqui às vezes está quebrado e muitas vezes nem avisam. Quando a gente chega vê o portão fechado. Como é que a gente vai trabalhar?”, questionou.
Usuário do transporte, o analista de contabilidade, José Lúcio da Silva, de 28 anos, também denunciou a situação: “Geralmente é sempre assim, sempre lotado, conturbado todo dia.” e prosseguiu seu relato de insatisfação: “Eles tratam a população como gado, vai todo mundo amontoado dentro de um ônibus só, com poucos ônibus rodando”, frisou.
Ele também discorreu sobre como os atrasos causados pela precarização afetam os empregos das massas: “A gente sai de manhãzinha cedo, sai para trabalhar, aí quando chega o ônibus está quebrado, o metrô está quebrado, a gente fica se preocupando e não sabe a hora que vai chegar no trabalho. O patrão da gente fica reclamando pela situação, querendo saber por que a gente está chegando tarde, por que a gente não vem. Aí não vê a realidade, né?”.
Ataque contra os direitos do povo
Policiais militares destacados para reprimir a manifestação carregam spray de pimenta para atacar as massas. Foto: Elvys Lopes/TV Globo
De acordo com uma pesquisa do Ipea em 2011, 65% da população das capitais usam transporte público para se deslocar. Os mesmos passam cerca de 2h do seu dia no trânsito, o que equivale a 21 dias/ano, de acordo com a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022. Além do tempo gasto, uma pesquisa do Ipea mostrou que em 2008 e em 2017, as famílias brasileiras comprometiam cerca de 14% da renda com gastos em transporte.
Uma pesquisa da FGV/DAPP de 2014 já revelava que 73% dos passageiros estavam insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o transporte público nas regiões metropolitanas brasileiras. Esse número chegava a 77% no Rio de Janeiro e 82% em Brasília.
Diante da precarização do transporte público, houve um retrocesso na utilização desse tipo de transporte: entre 2013 e 2017, os ônibus urbanos brasileiros perderam 25% de seus passageiros, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
Todos esses elementos mostram que a precarização do transporte público é um grande problema na vida do povo trabalhador, uma vez que as massas gastam grande parte do seu tempo e renda para se locomover em transportes indignos para o povo trabalhador. Enquanto isso, os monopólios do transporte apresentam sempre lucros máximos crescentes, que conseguem em cima da precarização crescente do serviço, diminuindo as linhas que circulam e deixando cada vez mais lotados os ônibus, não consertando os problemas de estrutura, entre diversos outros problemas.
A insatisfação do povo com o transporte público é tanta, que grandes rebeliões já se iniciaram no Brasil e no mundo por causa destes problemas, sendo uma chispa que incendiou a pradaria. As jornadas de protestos de junho e julho de 2013 no Brasil são um exemplo. A mais recente rebelião popular no Chile, de 2019, também se deveu a um aumento na passagem de metrô. Nas duas rebeliões populares, o rechaço à precarização do transporte público se transformou em rechaço completo à velha ordem de exploração e opressão.