Reproduzimos informações do Comitê de Apoio à Luta dos Posseiros de Barro Branco (@comitedeapoiobarrobranco):
Os camponeses do Engenho Barro Branco conseguiram, após protesto contra a cobertura da Polícia Militar aos ataques dos pistoleiros da Empresa Agropecuária Mata Sul, a retirada da polícia da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, local na qual estavam acampados desde o dia 28 de setembro, quando ocorreu a Batalha Feroz de Barro Branco.
A presença da Polícia Militar na comunidade aconteceu a partir do acionamento do chamado “protocolo de conflito agrário”, que determina que a polícia deve ficar acampada pelo período de um mês no local onde ocorre o conflito, sob a justificativa de “proteger a população”.
No entanto, o que os camponeses relatam é que a polícia não só não tem garantido a proteção da comunidade contra os ataques do latifúndio, como tem dado cobertura a eles, como ocorreu no dia 28 de setembro, na qual ela nada fez contra a horda paramilitar do “Invasão Zero”, que disparou dezenas de vezes contra os camponeses e feriu 2 agricultores e uma estudante da UFPE, mesmo com a presença da polícia no local.
Além disso, a comunidade relatou diversas ações da polícia contra os próprios moradores do Engenho. O AND relatou essas denúncias ao comportamento dos policiais na região por diversas vezes: segundo os moradores, os policiais “passaram a assediar diariamente e interrogar as crianças para que estas entregassem seus pais, chegando a roubar o brinquedo de uma delas”. Não apenas isso, como quando questionados por uma camponesa, “um policial militar ameaçou tomar todas as motocicletas dos camponeses de Barro Branco, caso ela continuasse questionando sua presença na área.”
A Polícia passou também a abordar moradores. Chegou a apreender a moto de um camponês da região e revistar carros da comunidade.
A Polícia Militar é conivente com o latifúndio
A presença da polícia na comunidade não intimidou os funcionários da Agropecuária Mata Sul, que transitam tranquilamente pelo Engenho e ameaçam os camponeses sem jamais serem abordados.
A comunidade também relata que a presença da polícia acampada dentro da Escola da comunidade causou transtornos e atrapalhou as atividades da escola. Uma noite do pijama que seria realizada no Dia das Crianças do ano passado teve que ser cancelada por conta da presença da polícia nas salas que seriam usadas para a atividade.
A situação chegou ao estopim quando, em dezembro do ano passado, um jipe preto sem placa, com 4 homens encapuzados que afirmaram ser da “Polícia Federal”, passou a transitar pelo Engenho, pararam moradores, apontaram armas de alto calibre, questionaram sobre os camponeses mais ativos na luta e ameaçaram entrar no Acampamento Menino Jonatas e “atear fogo em tudo lá dentro”.
Os pistoleiros chegaram a abordar um adolescente de 13 anos e seu pai, na frente da escola onde estava acampada a polícia. Os homens encapuzados apontaram armas contra os camponeses, tiraram fotos deles e fizeram inúmeras ameaças, tudo isso à luz do dia e a menos de 20 metros de onde estava estacionada a viatura da Polícia Militar.
A Polícia foi questionada pelos moradores no mesmo dia: se estavam lá para garantir a segurança da comunidade, como eles afirmam, como que pistoleiros armados rendem e ameaçam os moradores em plena luz do dia e eles não fazem nada? Uma moradora afirmou que “eles estão aqui para dar cobertura para os bandidos e não para proteger a comunidade”.
Uma semana após a abordagem, o jipe voltou a transitar pelo Engenho. Quando os moradores se juntaram para expulsar os pistoleiros, eles saíram em arrancada, mas antes pararam novamente em frente à escola, renderam um camponês com uma arma contra sua cabeça e roubaram sua lanterna.
Diante dessa situação, que ocorreu novamente em frente às viaturas da Polícia e em plena luz do dia, os camponeses revoltados foram na escola cobrar a saída da polícia e resposta em relação a atuação dos pistoleiros.
Na ocasião, os policiais, que temeram a revolta das massas, se trancaram dentro da escola e se recusaram a falar com os camponeses até que o reforço de mais viaturas chegasse. A ação combativa das massas desmascarou a atuação da polícia, que, dias após o protesto, se retirou da escola. A retirada da polícia marcou a vitória da reivindicação das massas, de ter de volta para si a escola da comunidade, poucas semanas antes da volta às aulas.