Trabalhadores do transporte público de Recife bloquearam o Terminal Integrado do Barro no dia 13 de abril durante uma manifestação por melhores condições de trabalho e infraestrutura dos terminais. O protesto sucede uma série de mobilizações dos trabalhadores na capital e região metropolitana no último mês contra atrasos no pagamento de horas extras e cobrança indevida de avarias pelas empresas.
A Região Metropolitana do Recife tem, atualmente, 10 mil rodoviários que enfrentam condições precárias de trabalho. Entre eles, 30% são motoristas que acumulam funções de cobrador. Os rodoviários também denunciaram que foram multados por fazerem suas refeições dentro dos ônibus, enquanto os próprios terminais não oferecem estrutura de cantina ou copa. Além dessa grave situação, os trabalhadores acusam que o terminal não oferece local próprio para descanso e os banheiros não funcionam.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Recife e Região Metropolitana de Pernambuco, Aldo Lima, afirmou sobre a situação: “Queremos mostrar o esgoto a céu aberto deste terminal, o mau cheiro, mostrar que os motoristas não têm refeitório, que precisam se alimentar dentro dos ônibus quentes, em locais inapropriados. Queremos mostrar o descaso com o profissional de transportes.”.
Rodoviários de Pernambuco se mobilizam pelos seus direitos
O bloqueio no Terminal de Barro se une a um conjunto de mobilizações dos rodoviários de Pernambuco. Nos dias 03/04 e 04/04, rodoviários realizaram protestos em Olinda, na região metropolitana, contra a situação precária de trabalho. Também no dia 04/04, os motoristas do Terminal Integrado de Rio Doce paralisaram a circulação dos ônibus ao realizarem um piquete em frente à garagem da empresa Grande Recife Consórcio de Transporte às 5h da manhã.. Já no dia 27 de março, uma nova manifestação ocorreu em Recife, no Terminal de Integração da Caxangá.
Segundo o Sindicato dos Rodoviários, os motoristas afirmam que realizarão uma paralisação caso as melhorias não sejam realizadas.
Trabalhadores dizem basta à superexploração
A profissão de motorista de ônibus é uma das mais estressantes no Brasil, segundo revela uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), cerca de 57% dos motoristas de ônibus urbanos consideravam a profissão desgastante e 35,9% acreditavam que ela é perigosa no ano de 2017.
Enquanto enfrentam longas jornadas de trabalho em situações precárias e são forçados ao acúmulo de funções, o salário médio nacional do motorista de ônibus rodoviário não ultrapassa nem a faixa de dois salários mínimos: em 2022, a média era de apenas R$ 2.125,31.
Além dos rodoviários de Pernambuco, motoristas de ônibus de todo o país têm realizado greves e protestos desde o início de 2023 contra as péssimas condições de trabalho e a superexploração promovida pelas empresas do ramo do transporte.
No mês de março, motoristas e cobradores de Teresina (PI) paralisaram 100% das frotas durante uma grande greve combativa de 12 dias. Eles conquistaram o aumento nos salários, auxílio alimentação e assistência à saúde. Além disso, receberam seus salários que estavam atrasados há mais de 40 dias.
Já em janeiro, os motoristas de ônibus de Belo Horizonte (MG) entraram em greve exigindo salários dignos. Eles recebiam quase 10% a menos que os motoristas de outras cidades da região metropolitana. Além da equiparação salarial, eles exigiram o aumento no intervalo de repouso, a diminuição da exaustiva jornada de trabalho e a volta do recebimento do tíquete-alimentação durante as férias, direito que foi cortado pelas grandes empresas do transporte mineiro.
São lutas que se somam às de todos os trabalhadores brasileiros que se negam a pagar o preço da crise e realizam greves e protestos contra o arrocho salarial, a superexploração e as péssimas condições de trabalho e de vida. São, desde o início do ano, milhares de greves realizadas por professores, profissionais da saúde – entre eles os enfermeiros na justa luta pelo piso salarial –, trabalhadores terceirizados, servidores estatais, entre outras categorias.