Ex-presidente fascista do Peru, Alberto Fujimori. Foto: Reprodução.
O ex-presidente fascista do Peru, Alberto Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000 após um auto-golpe, será julgado pela “justiça” peruana pelo plano de esterilização forçada de 350 mil mulheres e 25 mil homens camponeses e indígenas, prática prevista pelo “Programa Nacional de Planejamento Familiar”.
O julgamento teve início no dia 1º de março. Além do ex-presidente, também serão julgados três ex-ministros da Saúde: Eduardo Yong Motta, Marino Costa Bauer e Alejandro Aguinaga.
Entre as ações que serão julgadas está a prática utilizada pelos funcionários da saúde peruanos sob orientações do velho Estado de ameaçar fazer abortos em mulheres grávidas que não aceitassem a esterilização, outro, era ameaçar mães de recém-nascidos com a recusa ao registro civil do bebê.
Enfermeiras também visitavam as casas das mulheres e ameaçavam voltar “com a polícia” se as mulheres não aceitassem ir ao centro de saúde.
Ambulâncias passavam de casa em casa recolhendo as mulheres – “incentivos” econômicos eram pagos aos maridos para que assinassem uma autorização para que a mulher fosse submetida a uma esterilização “voluntária”.
Também eram oferecidos alimentos e remédios como mecanismo de captação de mulheres mais pobres. Em alguns casos, havia até o uso de força física para levar as mulheres aos centros de saúde.
Reportagens da época e o informe do congresso peruano, de 2002, concluíram que neste período foram estabelecidas “metas numéricas” e incentivos para a prática de esterilização desde os níveis mais altos do governo peruano.
Conheça os casos das mulheres esterilizadas forçosamente
Um dos casos conhecidos de esterilização foi de Josefina Quispe, de 33 anos. Em entrevista à BBC News, ela afirmou que foi submetida sem consentimento ao programa de planejamento familiar. “Eu estava grávida de 32 semanas e não me sentia muito bem, então fui consultar meu médico. Eles me avaliaram e decidiram realizar uma cesariana de emergência”. O bebê nasceu com dificuldades respiratórias e morreu pouco depois.
“Havia um médico tentando me consolar, dizendo: ‘Não se preocupe, você ainda é jovem, você pode ter outro bebê’. Mas outro médico respondeu: ‘Ela não pode ter mais filhos. Nós a esterilizamos’”, relatou.
Já Rute Zúñiga, da região de Cusco, no Peru, teve os pés e mãos amarrados e três enfermeiras e um médico realizaram o procedimento de esterilização sem seu consentimento depois de chantagens e assédio.
As autoridades locais ameaçavam Zúñiga com a proibição do registro de sua filha recém-nascida se não fosse primeiro ao centro de saúde.”Foi assim que me fizeram a laqueadura”, disse ela ao monopólio de imprensa BBC Mundo.
Seu caso é parecido com os de outras centenas de milhares de mulheres peruanas que, entre 1990 e 2000, foram submetidas a cirurgias esterilizadoras em regiões com níveis de pobreza elevados e onde a maioria da população é indígena.
Quando Zúñiga chegou ao posto de saúde e viu outras mulheres desmaiadas no chão, ela tentou escapar.
“Enfermeiras foram até minha casa me pegar e me levaram em uma ambulância. (Quando cheguei) No quarto, disse que queria ir ao banheiro, para poder fugir, mas nos vigiavam. Nos colocaram um cadeado para que não fugíssemos. Levaram minha filha. As mulheres tinham medo e choravam”, contou.
Outras mulheres que passaram por isso contaram suas histórias.
Em 1996, Esperanza Huayama foi esterilizada quando estava grávida de três meses. Teve que lutar para que os médicos não fizessem um aborto.”Não vão me tirar meu filhinho, disse a eles. Prefiro morrer do que me tirarem meu filhinho. Depois acordei com muita dor. Não conseguia me endireitar (na cama), estava fraca e encolhida. Meu filhinho nasceu fraco e até ficou doente”, afirmou.
Huayama foi enganada. Ela se lembra que uma “comissão” chegou a Huancabamba, noroeste do Peru, oferecendo alimentos, vitaminas e remédios para mulheres mas, na verdade, era um grupo para levar mulheres para os centros de saúde.
Como no caso de Zúñiga, Huayama foi trancada em um quarto.
“Fizeram o mesmo com muitas outras senhoras neste dia. Pelo menos cem. Nos trataram como animais depois que fecharam o posto de saúde. Algumas senhoras morreram e outras foram abandonadas pelos maridos”, disse.
Quem foi Alberto Fujimori?
Atualmente, Fujimori cumpre uma pena de prisão de 25 anos por corrupção e pelos massacres de Barrios Altos (1991) e La Cantuta (1992), nos quais os militares mataram cerca de 20 pessoas. Esses, porém, são somente alguns poucos dos inúmeros crimes contra o povo que o fascista cometeu durante o período em que esteve na presidência do velho Estado peruano (momento em que convergiu com o equilíbrio estratégico da Guerra Popular dirigida pelo Partido Comunista do Peru – PCP).
O processo judicial contra o ex-presidente começou em 2007. O tribunal que julgou e condenou o genocida e corrupto ‘el Chino’ Alberto Fujimori a 25 anos de cadeia foi parcial ao não inserir no contexto do julgamento o conjunto dos crimes do sanguinário ditador. O tribunal ateve-se aos dois massacres praticados através do ‘Grupo Colina’, que funcionava como comando de ‘operações encobertas’, no conceito ianque de guerra contra-revolucionária, e operava sob ordens diretas do general Nicolás Hermosa.
A “justiça” peruana não emitiu nenhuma palavra sobre os outros inumeráveis assassinatos praticados por esse grupo paramilitar e outras chacinas perpetradas diretamente por comandos militares das genocidas forças armadas peruanas. Em maio de 1992, por ordem de Fujimori, 50 prisioneiros políticos foram assassinados no presídio Miguel Castro Castro. Os sobreviventes foram brutalmente torturados e transferidos para presídios longínquos, aprofundando seu isolamento e aniquilamento. Tal política foi aplicada durante todo o período da gerência Fujimori, agravada ainda pela instituição da prisão perpétua, dos juízes sem rosto e dos tribunais militares para julgar civis. Some-se a isso os massacres de camponeses, a criação de grupos paramilitares no campo para combater o PCP. Além de toda a política de fome a que foi submetida toda a população, a formação de um império do tráfico de drogas dentro do Estado, etc.
O Grupo Colina, também autodenominado “Los Magníficos”, foi montado com o objetivo específico de realizar operações especiais. O esquadrão da morte foi criado em 1991 e desativado, hipoteticamente, em 1993, após denúncias do general Rodolfo Robles. Em 1995 todos os assassinos foram anistiados e tudo indica que seguiram executando os mesmos crimes.
O Colina praticou, entre seus inumeráveis e terríveis crimes, os massacres de Barrios Altos e de La Cantuta. Em Barrios Altos, o esquadrão da morte invadiu uma festa e matou ou feriu 20 pessoas, inclusive uma criança, todos acusados de serem “terroristas”. Em 18 de julho de 1992, sob o mesmo pretexto, invadiram a Universidade Nacional de Educação Enrique Guzmán y Valle (conhecida como La Cantuta) e sequestraram um professor e nove estudantes que, após serem barbaramente torturados, foram esquartejados, queimados e tiveram seus restos mortais ocultados até 1993, quando as valas foram descobertas.
Enquanto Gonzalo permanece incomunicável, Fujimori recebe regalías
O Professor Abimael Guzmán Reynoso, o Presidente Gonzalo, de 85 anos, encontra-se há 27 anos encarcerado numa cela subterrânea na base naval do Callao e em situação de completo isolamento. Condenado à prisão perpétua pelos tribunais do velho Estado peruano, ele se encontra separado do povo e do PCP, que dirigiu até sua prisão, em 1992.
Em 2020, foi-lhe negado o direito à prisão domiciliar, pedido feito por seu advogado face à pandemia da Covid-19 e a alta taxa de infecção dentro dos presídios peruanos.
Já Alberto Fujimori é o único prisioneiro na Prisão de Barbadillo. “O prisioneiro mais caro do Peru”, segundo José Luis Pérez Guadalupe, diretor do Instituto Penitenciário Nacional (INPE), é guardado por 17 polícias, quando a norma é um policial para cada nove reclusos.
Da sua “prisão” de 800 metros quadrados, com uma oficina de pintura, sala de visitas, cozinha e atenção médica permanente, Fujimori publicou uma carta na sua conta do Twitter na qual acusava o governo de “não seguir recomendações médicas”.
Manter o ex-presidente fascista preso custa o mesmo aos cofres públicos que 45,6 prisioneiros em prisões regulares.