Em 15 de junho, um comunicado do Exército Popular de Libertação (EPL), dirigido pelo Partido Comunista do Peru, que anunciava o êxito de uma série de ações armadas em Lima com o aniquilamento de várias agentes a redação, fazia a seguinte análise:
“Recentemente, o Peru tem sido palco de intensas mobilizações, como o amplo movimento grevista contra a mineradora Las Bambas no distrito de Challhuahuacho, província de Cotabambas (Apurímac). Os professores também sinalizam radicalizar sua luta e, no interior do movimento, há uma acirrada disputa entre a linha revolucionária e a falida linha oportunista de setores do SUTEP (Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação do Peru) ligados à Linha Oportunista de Direita (LOD)” que, como aponta a nota, sempre quer “trazer a cauda do revisionismo para o SUTEP” para desviá-lo do rumo classista e combativo: “A LOD procura contrapor as lutas dos professores com a luta do povo e tenta minar a reativação do SUTEP classista e combativo”.
Esta justa análise confirmou-se em fatos: a Greve Nacional por tempo indeterminado dos professores do Peru foi deflagrada em 12 de julho e avança por todo o país.
A direção classista e combativa dos professores vai se forjando, firmemente ligada às massas do magistério, no combate ao oportunismo e toda a reação. Particularmente em Lima e Huancavelica, os setores mais combativos do SUTEP desmascaram o oportunismo e combatem tenazmente as políticas antipovo e vende-pátria do velho Estado e seu gerente de turno Pedro Pablo Kuczynski (mais conhecido como PPK), aplicadas pela ministra da educação Marilú Martens Cortés, para a destruição da educação no país.
A Greve Nacional por tempo indeterminado conta com grande adesão das massas erguendo as consignas em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade; em defesa da dignidade dos professores. “Na costa, serra e selva a greve é total!”, agitam os trabalhadores em luta!
Saudações classistas
Em mensagem datada de 4 de agosto dirigida aos professores em luta, a Liga Operária e o Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (Moclate), enviaram desde o Brasil sua saudação à “massiva e combativa greve nacional de professores do Peru”.
“Saudamos calorosamente a justa revolta dos professores peruanos que durante os mais de 44 dias de paralisação protagonizam vigorosos protestos em várias regiões do país, como dezenas de cortes de vias públicas, como o da estrada de ferro que liga Cusco a Machu Picchu, importante destino turístico peruano, no dia 11 de julho, e a via de acesso ao Aeroporto Internacional José Aldamiz, de Puerto Maldonado, no dia 18 de julho, além de combativas manifestações, que têm enfrentado com destemor e bravura a repressão das hordas policiais.
Repudiamos veemente a decretação de estado de emergência em vários distritos, o que demonstra mais uma vez o caráter fascista do governo peruano gerenciado pelo PPK.
Saudamos a resistência dos docentes peruanos ante aos covardes ataques da gerência PPK que pratica uma violenta política de arrocho salarial contra o povo peruano e exige a aplicação de avaliações de desempenho dos docentes, política imposta por determinação do FMI visando a destruição da educação pública.
No Brasil, os gerentes de turno também desferem inúmeros ataques à educação pública. No estado do Rio de Janeiro, o ano letivo de 2017 na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) até hoje não se iniciou devido aos brutais cortes no orçamento da instituição; enquanto se mantêm os altíssimos gastos com os imorais juros da ilegítima dívida, propinas para os políticos etc. Na educação básica, em diversos estados e municípios, os trabalhadores do ensino sequer recebem o valor do arrochado Piso Nacional do Magistério, além das condições precárias em que estão a maioria das instituições de ensino.
As bandeiras de luta dos docentes peruanos são extremamente justas e nesse sentido o Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação e a Liga Operária se espelham na combatividade da atual greve nacional dos professores do Peru e continuam mobilizando e organizando os professores brasileiros na luta contra os ataques a educação pública, pelos direitos do povo e também no combate ao oportunismo.
Por uma educação que sirva ao Povo!
Viva a luta classista, combativa e independente!
Viva a greve dos professores do Peru!
Viva o Internacionalismo Proletário!
São Paulo, 04 de agosto de 2017.”
A greve avança
No início de agosto, em Huancavelica, os professores tomaram a praça de armas e ergueram barricadas enfrentando as forças de repressão do velho Estado. A greve nacional se estende a dezenas de escolas nas regiões andinas de Cuzco, Puno, Ayacucho, Ancash e Lambayeque e Piura do Norte.
Em Lima, as mobilizações são intensas, sobretudo em Villa El Salvador e Villa María del Triunfo, onde os professores do 13º setor do SUTEP desenvolvem persistente trabalho junto as massas aplicando a linha classista que vem ganhando a adesão parte por parte de novos setores, ampliando a greve que avança ao sul de Lima.
Sustentar a luta até a vitória
Em 4 de agosto, os professores rechaçaram as propostas do governo e do Ministério da Educação, ratificando que a Greve Nacional por tempo indeterminado continua “até que se atenda a totalidade das reivindicações” que são:
– Defesa da Escola Pública e Gratuita, contra a privatização das Instituições Educativas através das APP.
– Defesa da estabilidade no regime de trabalho e dos direitos conquistados sob a lei nº 24029. Pela revogação da lei de “Reforma Magisterial” nº 29944 e pela imediata reposição dos professores demitidos.
– Pelo pagamento imediato da dívida de bonificações pelo cumprimento de 20, 25 e 30 anos de serviços, subsídios por luto e funeral, 30% por bonificação de preparação de aulas, férias, transporte, etc.
– Aumento dos salários para todo o magistério em atividade e o incremento das pensões para professores afastados e jubilados.
– Nomeação automática dos professores contratados.
– Contra a perseguição política e criminalização das lutas populares.
No Peru, os professores de primeiro nível recebem um salário mensal de 1.780 soles (aproximadamente R$ 1.720,00). Os professores em greve exigem, entre outras reivindicações, um salário base de 4.050 soles (cerca de R$ 3.910,00).