No dia 21/06, dezenas de comerciantes e pescadores do porto de Chancay protestaram em frente à embaixada espanhola em Lima, exigindo indenização pelos crimes cometidos pelo monopólio petrolífero espanhol Repsol, por um derramamento de óleo em janeiro que contaminou quilômetros de mar e praia na costa central do Peru.
Os manifestantes do porto de Chancay afirmam que o monopólio os excluiu de um programa de compensação econômica assinado com o governo pelo derramamento de mais de 10 mil barris de petróleo em uma área de 106 quilômetros quadrados.
“Nos abastecíamos com produtos claramente do Porto de Chancay que, como resultado desse derramamento, não conseguimos mais vender peixes, as pessoas não consomem produtos marinhos”, disse Perla Zamudio, vendedora de peixes, ao jornal Voz de América.
Os sindicatos de pescadores e associações comerciais estimam que 3 mil pessoas perderam seus empregos devido ao derramamento.
Além de não pagar as indenizações, as massas afirmam que nem a empresa, nem o governo se mobilizaram para limpar as áreas afetadas pelo óleo tóxico, tarefa que está sendo realizada pelas próprias populações locais, muitas vezes sem proteção adequada.
Em janeiro, quando ocorreu o derramamento, milhares de pessoas marcharam pelas ruas de Lima para protestar contra o crime e centenas de pescadores realizavam protestos diários em frente à refinaria La Pampilla.
Empresa tenta enganar camponeses
Protesto realizado por pescadores em março deste ano. Foto: Martin Mejia / Associated Press
Em um protesto realizado no mesmo local em março, os camponeses tornaram público e rechaçaram um documento entregue pela empresa – que ela os coage a aceitar pela necessidade –, que constava que o acordo sobre a transação seria feito de forma “voluntária e extrajudicial”. Sendo “extrajudicial”, os camponeses não poderiam recorrer de forma alguma aos tribunais sobre a sua indenização e ação contra a empresa.
“No documento que nos dão há uma palavra que não entendemos bem, que é de dois gumes, diz ‘transação’ e algo mais, queremos que eles esclareçam, o que eles não fazem”, acrescentou o pescador Mario Poma, que estava segurando uma placa que dizia “Repsol, por que você está abusando das minhas necessidades”.
Imperialismo espanhol explora e oprime países latino-americanos
Morador retira óleo da praia após derrame. Foto: GEC
O caminho de destruição da Repsol na América Latina é longo e perpassa vários países. Além do crime mais recente no Peru, o monopólio espanhol foi responsável por, por exemplo, praticar, em conluio com o governo do ultrarreacionário Álvaro Uribe, terror contra comunidades camponesas na Colômbia, em Arauca, na fronteira com a Venezuela, onde tinha seus maiores campos de petróleo.
Assim que a empresa demarcou seu interesse na região, camponeses que travassem luta contra a exploração do petróleo em suas terras eram presos ou assassinados. Além disso, militares do Exército reacionário eram destacados para realizar a segurança das instalações petrolíferas. Nessa época, a região registrou os maiores índices de “violência política” do país. A multinacional espanhola operava e opera até hoje na região em associação com a estatal Ecopetrol e a imperialista americana Oxy.
Além de seus impactos na Colômbia, o monopólio foi denunciado por operar em 17 reservas indígenas na Bolívia, de contaminar território mapuche na Argentina e território Huaorani no Equador, e de estender o projeto de gás Camisea por quatro áreas protegidas no Peru.
A sua atuação no Peru, especificamente, gerava uma receita de quase 3 bilhões de euros para a empresa.