Tinha que ser em pleno carnaval. Nesse sábado, 2/3/2019 faleceu Alfredo Jacinto Melo, o Alfredinho, proprietário e órgão vital do Bip-Bip.
A pequena porta do ainda menor bar de Copacabana, lá onde morava o samba de resistência do Rio de Janeiro. Lá era comum encontrarmos, entre os frequentadores, grandes nomes da música brasileira como Cristina Buarque, Paulinho da Viola, Walter Alfaiate, Elton Medeiros…
Tivemos boas horas de bons papos e fomos brindados com histórias da música e da luta de nosso povo.
Alfredinho era um sujeito simples, humilde. Pairava sobre ele uma aura de irritação, mas era a mais pura inquietação e indignação perante as injustiças.
Era um militante incansável das causas do povo, das crianças em situação de rua, da gente humilde. Promovia uma ceia natalina na rua para as pessoas simples. Mobilizava e brigava sem descanso com a “classe média”. Gritava até perder a voz em seus discursos nos intervalos das rodas de samba para que as pessoas se conscientizarem e ajudassem os pobres.
Alfredinho nos ouviu. Tinha divergências quanto ao nosso combate a farsa eleitoral. Tinha ódio à direita e aos fascistas.
Tínhamos muitos pontos em comum.
Quantas vezes passei por lá apenas para vê-lo, para trocar duas palavras. Algumas vezes tive o prazer de ser convidado para sentar com ele na pequena mesa de plástico para ouvir tantos sambas e choros.
“Ô, me passa a conta do nosso jornal, tenho que depositar um dinheirinho lá”. Fazia isso em apoio ao AND e a tantas outras iniciativas populares.
Tinha respeito pelos artistas populares e pela música brasileira. Quantas vezes interrompeu as rodas de samba para com sua voz rouca advertir. “Ô gente, silêncio (às vezes um palavrão) respeitem os músicos. Se querem falar alto e gritar vão para o botequim da esquina que é ótimo!”
Educou milhares de clientes do Bip a estalar os dedos ao aplaudir.
O Rancho Flor do Sereno, do qual era fundador e entusiasta, tocará à meia-haste nesse carnaval.
No nosso último encontro falamos do seu Botafogo e da juventude que se levantava nas jornadas de junho e julho de 2013 e 2014. Discordamos e concordamos naquela noite. Me lembro que ele disse. “Essa molecada tem raiva”. “Tem ódio de classe e é consequente”, respondi. Concordamos.
O Bip-Bip foi inaugurado em ato de resistência no dia da instauração do AI5 durante o regime militar-fascista. Alfredinho será sempre sinônimo de resistência.
Alfredinho, dono do bar Bip Bip. (Foto: Divulgação/ Botafogo)