Uma pesquisa recente do Arab World for Research and Development (AWRAD ou “Mundo Árabe para Pesquisa e Desenvolvimento”) revelou aquilo que esta tribuna sempre vem enfatizando: o amplo apoio popular à Resistência Nacional Palestina. O instituto de pesquisa da cidade de Ramallah, na Cisjordânia, foi o responsável pela pesquisa mais recente e até então a única depois de 7 de outubro a captar o sentimento do povo palestino com relação a nova etapa de sua luta de libertação nacional em curso. Realizada entre 31 de outubro e 7 de novembro, a pesquisa entrevistou 668 pessoas (391 na Cisjordânia e 277 na Faixa de Gaza) com 23 perguntas gerais e 6 voltadas apenas aos moradores de Gaza.
A partir dos dados completos, observa-se que 75,5% dos entrevistados mostraram bastante apoio (59,3%) e algum apoio (15,7%) a operação militar de 7 de outubro liderada pelo Hamas. Descontados os 10,9% que não apoiaram nem se opuseram e o 1,3% que não respondeu, apenas 12,7% foram contra de alguma forma (5,4%) ou totalmente (7,3%). Em consonância, a grande minoria (18,6%) compreende que a guerra de Israel seja apenas contra o Hamas, enquanto 63,6% entende que o ataque é dirigido contra todos os palestinos.
Alguns ainda acreditam que Israel se direciona contra a inteireza do “Mundo Islâmico” (5,2%) e do “Mundo Árabe” (2,1%) e outros vem um sentido mais amplo do conflito ao considerar que é uma batalha entre o “Mundo Ocidental” e o “Mundo Árabe e Islâmico” (9,4%). É válido ressaltar como a divisão entre o “mundo ocidental” e o “mundo árabe e islâmico” reflete, constantemente, tanto para as massas populares em geral quanto para as organizadas em grupos armados, um conteúdo anti-imperialista contrário às potências imperialistas europeias e, principalmente, ao imperialismo ianque. Portanto, as respostas dos 16,7% dos entrevistados que apontaram o conflito baseado nessa divisão não deixam de contar com um sentimento patriótico e anti-imperialista.
É claro que esses dados foram utilizados pelo monopólio de imprensa sionista e imperialista para dizer que “os palestinos normalizaram o genocídio” (The Jerusalem Post, Israel) ou que eles “são o impedimento para a paz, não a guerra de Israel” (National Post, Canadá). Fato é que, na verdade, o povo palestino tem a clareza de que o dia 7 de outubro não começou a guerra e 89% deles entenderam o ato como uma resposta à opressão histórica e contemporânea: 35% opinaram que a razão principal para a Operação Dilúvio de Al-Aqsa foi deter as violações à Mesquita Al-Aqsa, enquanto 28,9% entendiam que o ato buscava uma Palestina livre e 21% disseram que o objetivo era acabar com o cerco de Gaza. Os outros 4% citam a libertação dos prisioneiros, a revitalização da causa palestina e o fim dos assentamentos israelenses. Como desfecho do conflito, a maioria espera a libertação dos presos políticos (79,4%) e a retirada de Israel de Gaza (75,3%). Ou seja, os entrevistados concordam e entendem um ou mais dos três objetivos centrais elencados pelo Hamas para sua grandiosa operação militar: 1) levantar alto o direito do povo palestino a uma pátria, 2) libertar os mais de 10 mil palestinos presos e 3) recuperar a Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém.
Nesse mesmo sentido, a pesquisa também deixou visível o nível de consciência do povo palestino e o rechaço deste às conclusões e mentiras do monopólio de imprensa sionista e sabe bem sobre o contexto internacional que envolve seu país. Apenas 5,1% acreditam que a vitoriosa ação do dia 7 de outubro servia aos interesses do Irã, como vem propagandeando o monopólio de imprensa imperialista na tentativa de deslegitimar a Resistência Nacional Palestina. Por outro lado, perguntados sobre a origem do apoio do imperialismo ianque (USA) e das demais potências imperialistas europeias, a grande maioria entende que o principal são os seus interesses políticos e econômicos na região (96,3%) e o lobby israelense (91,5%). Os entrevistados colocam isso inclusive acima do ódio aos muçulmanos (89,5%) ou aos árabes (85,5%), sinalizando que, apesar de enxergarem o chauvinismo e o racismo como elemento componente da agressão sofrida pelo povo palestino pelo imperialismo ianque e sionismo, a maioria das massas da Palestina entendem os fatores econômicos como determinantes.
Além disso, o que demonstra que os palestinos sabem discernir os povos das nações que os agridem são os 78,4% de entrevistados que se sentem esperançosos sobre o futuro da humanidade devido ao apoio internacionalista que seu povo vem recebendo ao redor do mundo.
Apoio à luta armada e rechaço a alternativa dos dois Estados
O povo palestino também tem clareza de que o único caminho para sua libertação e para uma Palestina livre do rio ao mar – o desejo de 74,7% – é a luta. Apesar da ampla maioria aprovar um cessar-fogo mútuo (90,2%), a convicção de grande parte em uma solução pacífica com Israel diminuiu (86,7%) e apenas 32,1% acreditam que a guerra irá acabar com um acordo de paz. O apoio ao cessar-fogo mútuo também não é surpreendente, sobretudo no cenário de destacadas vantagens militares e políticas por parte da Resistência Nacional Palestina (mesmo no período em que a pesquisa foi feita), o que favorece um acordo de cessar-fogo nos termos dos palestinos.
O apoio a uma solução de dois estados diminuiu em 68%, o que é defendido apenas por 17,2% dos entrevistados e só não fica atrás de um só Estado para dois povos (5,4%). Esse entendimento certamente se dá em razão do fato de que a coexistência entre palestinos e israelenses tem se mostrado cada vez menos possível com o avanço dos colonos israelenses em terras palestinas – a convicção nessa possibilidade de coexistência inclusive diminuiu em 89,5% na pesquisa.
Por outro lado, as quatro principais organizações vistas positivamente são aquelas que lutam em armas. Sintomático disso é que as Brigadas Al-Qassam (89%) e a Jihad Islâmica Palestina (84%) sejam os grupos mais bem vistos pelos entrevistados, com uma avaliação “muito positiva” de 71,1% e 59,9%, respectivamente. É interessante notar que em terceiro lugar estão as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa (80%), ligada ao Fatah, a frente do próprio Hamas (76%). Uma vez que o Fatah em si é aprovado por apenas 23% dos entrevistados, o resultado pode até parecer estranho a princípio, mas a partir dele não restam dúvidas de que os palestinos conseguem diferenciar muito bem aqueles que lutam daqueles que não lutam.
Agressão sionista
Os dados da pesquisa revelam o grau da agressão israelense ao povo palestino. Os moradores de Gaza relatam terem parentes mortos (13,4%) e quase metade teve casas demolidas (47,3%) ou foram despejados (50,5%). A grande maioria não sabe para onde ir caso precisem evacuar de onde moram (83,8%) e quase todos dizem não ter um lugar seguro para ir em Gaza (99,6%). As instruções de Israel não são confiáveis para 90,6% dos entrevistados.
Apesar disso, fica claro também que os palestinos não são apenas vítimas passivas de uma guerra e tomam uma firme posição na luta de libertação de seu país. Se a esmagadora maioria (97,5%) afirmou que nunca irá esquecer o que Israel fez, igualmente 98,3% disse que nunca irão perdoar Israel. Igualmente, o sentimento de fortalecimento nacional foi quase uma unanimidade uma vez que 98% disseram que sentiam um grande senso de orgulho em serem palestinos. Em termos de dedicação, 79,5% se sentiam mais convictos do sonho de obter um Estado palestino próprio e, para 71,1%, aumentou a convicção na restauração de uma Palestina histórica como resultado final do conflito. Quase 3/4 dos palestinos tinham certeza de que a Palestina sairá vitoriosa da disputa com Israel (72,6%), apenas 13,9% disseram que nenhum dos lados vencerá e miseráveis 3,1% opinaram que Israel ganhará.
Resultados corroborados
Outra pesquisa, do centro palestino independente Palestinian Center for Policy and Survey Research (PCPSR ou “Centro Palestino de Pesquisas em Política e Estudos de Opinião”), ajuda a confirmar ainda mais esse apoio. Em uma coleta de dados de setembro de 2023, o instituto demonstrou que 68% acreditam que os Acordos de Oslo prejudicaram os interesses nacionais palestinos e que 63% apoiam abandoná-los. Além disso, quando perguntados explicitamente sobre isso, a pesquisa do PCPSR indica que apenas 32% apoiam a solução de dois estados e que 71% acham essa saída inviável devido aos colonos israelenses que o Estado sionista promove há anos.
A pesquisa do instituto palestino mostra um claro apoio à Resistência Nacional. Por um lado, 58% apoiam a volta de confrontos e Intifadas – 30 anos após o fim da Primeira justamente devido aos citados acordos – enquanto 53% também apoiam uma resistência popular não-armada. Ou seja, independente da divergência quanto aos meios, a maioria não se entregou à ocupação israelense. Ainda, em uma pergunta separada sobre qual a melhor forma de acabar com a ocupação israelense e construir um Estado independente, 53% acredita que seja por meio de ações armadas. Somados aqueles que querem uma resistência, ainda que pacífica (24%), os 77% de palestinos que não desejam se entregar são muito maiores do que os 23% que acham que negociações ou outras formas são uma opção. Diante de seis opções sobre como combater os colonos israelenses, a maioria (45%) optou pela formação de grupos armados ao lado de outros 9% que desejam proteger suas regiões de forma não-armada.
Os palestinos também afirmam claramente quais são seus principais problemas. Entre nove opções, 37% escolheram a ocupação israelense como a principal. Ao contrário da ênfase de pesquisas ianques na alegada corrupção do Hamas, essa opção aqui aparece em segundo lugar no geral (22%), mas significativamente é a quarta prioridade para os moradores de Gaza, onde 13% elencaram o problema contra 29% na Cisjordânia, território que é governado pela Autoridade Palestina. Já entre os “objetivos nacionais vitais”, 37% optam pelo restabelecimento das fronteiras pré-1967 e a construção de um Estado palestino, enquanto 30% escolheram o direito de retornar às cidades em que moravam em 1948. Ou seja, 67% dos palestinos declaram que seu problema principal é a força de ocupação sionista.
Um fato secundário, mas interessante é que, em hipotéticas eleições para presidente, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, ganharia tanto do atual primeiro-ministro palestino Mohammad Shtayyeh (62 a 33%) quanto do atual presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas (58 a 37%), ambos do Fatah. Haniyeh só perde para Marwan Barghouti (60 contra 37%) – um dos líderes das Primeira e Segunda Intifadas – o que certamente não é um indicativo de desradicalização palestina. Embora a maioria (44%) não concorde nem com o Hamas ou o Fatah para representar todo o povo, em outra pergunta o primeiro ficou com 27% contra 24% do segundo. Com relação aos partidos de preferência do povo palestino, se o Fatah ainda concentra 26% contra 22% do Hamas, fato é que os 3% da Jihad Islâmica, os 2% da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) e o 1% da Frente Democrática de Libertação da Palestina (FDLP) dão aos grupos que hoje estão em unidade na luta armada contra Israel uma ligeira vantagem.
Apesar de não especificar quantos foram entrevistados em cada região, o PCPSR abordou 1.270 pessoas e desses é o que mais faz pesquisas regulares, tendo feito duas outras no ano, em março (com 1200 pessoas) e em junho (com 1270). Inclusive, as pesquisas anteriores revelavam que 68% e 71% dos palestinos, nas respectivas pesquisas, apoiavam a formação de grupos armados que não obedecem a AP, como a Cova dos Leões e o Batalhão de Jenin. Nas duas pesquisas, 58% esperam que eles se expandam para outras partes da Cisjordânia, enquanto 86% e 87% não acham que a AP tem o direito de prender os membros desses grupos armados.
Pesquisas ianques enviesadas se contradizem e são forçadas a admitir ‘amplo apelo popular’ a grupos da Resistência Nacional Palestina
Os resultados expressivos das pesquisas citadas acima desmontam os argumentos reacionários de outros estudos que buscaram comprovar, com dados contraditórios, uma suposta falta de apoio popular ao Hamas.
Por exemplo, a pesquisa do Arab Barometer em parceria com a revista ianque Foreign Affairs e financiada pela infame USAID deixou em êxtase todo o monopólio de imprensa alinhado ao sionismo e ao imperialismo ianque. A pesquisa teria revelado que “Moradores de Gaza não confiam no Hamas”, como noticiou o site reacionário O Antagonista, e que “palestinos rejeitam a ditadura do Hamas”, segundo a organização sionista Confederação Israelita do Brasil (Conib) – a mesma que está tentando censurar o jornalista Breno Altmann. A imprensa mais “moderada” no geral foi pelo caminho da pretensa neutralidade e apenas reproduziu o título da Agence France-Presse: “População de Gaza rejeita ‘ocupação’ israelense e ‘ditadura’ do Hamas”.
Fato é que todo o monopólio de imprensa que repercutiu os dados não foi a fundo na própria pesquisa. Por exemplo, um dos dados mais emblemáticos da empreitada – sobre a identificação dos pesquisados com os partidos políticos – não foi abordado por nenhum dos órgãos de imprensa brasileiros. Embora a publicação ianque diga que existe uma “modesta base de apoio” ao Hamas, os resultados indicam que o movimento de resistência islâmico é o segundo partido mais apoiado pelos moradores de Gaza (27%), apenas um pouco atrás do Fatah (30%). E é significativo notar que o terceiro colocado é a Jihad Islâmica Palestina com cerca de 7% – um dado que, inclusive, a Foreign Affairs não faz questão de precisar. Somados, portanto, os dois grupos que hoje compõem conjuntamente as ações da Resistência Nacional Palestina são os preferidos dos moradores de Gaza. Assim, no último gráfico, quase escanteado pela revista, fica patente o apoio da população palestina por aqueles que estão lutando por sua libertação.
Outra informação não discutida pela própria publicação original é ao que se referem os 15% de pessoas em Gaza que preferem “outros” partidos. Afinal, se essa porcentagem preferir outros grupos que também estão em luta armada, como FPLP ou a FDLP, quase metade dos palestinos apoiaria a luta armada. Um dado da própria pesquisa que confirma isso é o constante apoio dado a Marwan Barghouti, um preso político – outro fato não destacado pela revista ianque – desde 2002. Com 32% de apoio na Faixa de Gaza e 35% na Cisjordânia, Barghouti venceria até Haniyeh do Hamas (com 24% e 11%, respectivamente), mas ambos venceriam o capitulador Mahmoud Abbas, da AP (com 12% e 6%). Interessante é perceber não somente como o líder do Hamas venceria o líder da AP nas duas regiões, mas também que Haniyeh teria mais votos onde seu partido governa, enquanto Abbas teria menos votos onde governa.
Por fim, é válido destacar que a coleta de dados foi feita entre 28 de setembro e 6 de outubro, com uma amostra de 790 pessoas na Cisjordânia e 399 na Faixa de Gaza. Enquanto o monopólio de imprensa destacou principalmente os dados sobre Gaza, menos de 33,55% dos pesquisados se referiam a essa região – contra 41,46% do AWRAD.
Além disso, a própria conclusão da Foreign Affairs indica que a situação não era definitiva: “Nossa pesquisa mostrou que as duras medidas de repressão israelense sobre Gaza frequentemente têm levado a um aumento no apoio e simpatia pelo Hamas entre os gazaenses comuns. […] Conforme Israel aumentava seu bloqueio sobre Gaza e os gazaenses comuns sentiam os efeitos, a aprovação do Hamas aumentava”. Considerando que todas condições para aumento do apoio e simpatia pelo Hamas elencados pela revista reacionária foram elevadas após o 7 de outubro, não é impreciso supôr um aumento significativo ao Hamas após o início da operação Dilúvio de Al-Aqsa, como comprovou as pesquisas do ARWAD. Conforme a inexorável lei da luta de classes aponta, “onde há opressão, há resistência” e a Resistência Nacional Palestina cresce a cada dia diante da necessidade de responder a brutal ocupação sionista.
Mesmo outro órgão claramente pró-ianque, o Washington Institute, admitiu, em sua pesquisa, que a maioria dos habitantes de Gaza (58%) veem o Hamas de forma positiva – foram 554 entrevistados, em um número 38,8% maior do que aquele do espaço amostral do Arab Barometer. Ainda assim, há alguns oportunistas que tentam diminuir o dado ao anteceder a quantia com a palavra “apenas”. Na sequência, a matéria do instituto ianque tendenciosamente diz que “metade (50%) concordaram com a seguinte proposição: ‘O Hamas deveria parar de pedir a destruição de Israel e ao invés disso deveria aceitar uma solução permanente de dois estados baseada nas fronteiras de 1967”. Mas, se metade concordou, metade igualmente discordou. Nos dados completos, porém, vemos que, na verdade, uma ligeira minoria (49,5%) concordou com a afirmação em Gaza. Enquanto isso, na Cisjordânia, somente 37,7% dos 512 entrevistados foram favoráveis a tal proposição.
Além disso, se o apoio ao Hamas é considerável, ainda maior é a visão positiva que os palestinos têm de outros grupos armados, como as Brigadas Al-Nasser Salah al-Deen, a Jihad Islâmica e a Cova dos Leões. Com exceção da Al-Nasser Salah al-Deen, todos os outros grupos tinham apoio majoritário nas três regiões do estudo (Gaza, Cisjordânia e Jerusalém). Considerada negativa por 54% dos 506 de Jerusalém, a Al-Nasser era vista positivamente por 55,5% na Cisjordânia e 61% em Gaza. A JIP e a Cova dos Leões eram mais bem vistas, em ordem decrescente, em Gaza, depois em Jerusalém e, por último, na Cisjordânia, com, respectivamente, 70,8%, 64,1% e 63,5%, e 73,7%, 73,3% e 68,6%. Diante disso, é inevitável que, mesmo o organismo ianque conclua que “há um amplo apelo popular para as distintas facções armadas palestinas”.
Assim, mesmo que assumíssemos como verdade um possível descrédito ao Hamas (situação que certamente foi revertida depois do início da operação Dilúvio de Al-Aqsa), fato é que o povo palestino não está rumo ao caminho de abandonar as organizações da Resistência Nacional. É destacável, ainda, que a relativa queda de apoio ao Hamas registrada anteriormente ao 7 de outubro, e acompanhada do apoio a outros grupos que vanguardeavam a luta armada na Cisjordânia, pode estar relacionada ao próprio momento que o Hamas atravessou de preparação para o Dilúvio de Al-Aqsa.
É sabido que, nos últimos dois anos, o Hamas participou pouco de confrontos armados e lançamentos de mísseis contra o agressor sionista, enquanto preparava, junto de outros grupos patrióticos, a operação Dilúvio de Al-Aqsa e dissimulava sua atuação armada. Analistas de monopólios internacionais já trataram sobre como essa postura do Hamas levou a militares sionistas a subestimarem a capacidade de atuação do Hamas, entendendo que a organização estava mais focada em “governar Gaza” que combater Israel. Essa mesma aparência pode ter feito diminuir uma parcela do apoio ao Hamas, em detrimento de outras organizações mais destacadas da luta armada nos últimos anos, como a própria Jihad Islâmica Palestina (que se destacou em combates por mísseis como contra a Operação Amanhecer, entre 5 e 7 de agosto de 2022) e o Covil dos Leões. Por outro lado, a admissão por parte do Hamas de que a organização não havia abandonado a condução da luta armada, anunciada com o deslanchar do Dilúvio de Al-Aqsa e importantes batalhas contra Israel desde o início da invasão terrestre contra Gaza são todos fatores que impulsionam o apoio popular à organização.
Reacionários se dividem entre negação e condenação
Desde a escalada nos conflitos do dia 7, convictos reacionários ou sionistas – como Joe Biden, Anthony Blinken e o presidente da Conib – ou inveterados oportunistas – como Mahmoud Abbas e Luiz Inácio – têm tomado a mesma posição: a de dissociar os grupos da Resistência Nacional do seu povo. Fazem o que já alertava o primeiro editorial do AND pós-7 de outubro a respeito do monopólio de imprensa: “Tentam, em vão, separar o Hamas do povo palestino, mas o povo palestino apoia o Hamas por representar a força que tem provado sustentar de forma irrenunciável a causa da libertação da Palestina”.
Diante dos novos dados, a maioria se cala. Nenhum jornal brasileiro noticiou a pesquisa do AWRAD e os únicos que publicaram vários dados do PCPSR, além do AND, foram jornalistas do The Intercept. Outros precisam criar malabarismos argumentativos para dizer que os palestinos, antes não representados pelo Hamas, agora são todos terroristas facínoras. Fato é que as diferentes táticas de condenação do povo palestino e sua luta adotadas refletem a própria descoesão na frente agressora. Enquanto isso, todas as pesquisas – mesmo as que assim não desejavam – demonstram um amplo sentimento de unidade nacional em prol da luta de resistência pela libertação nacional palestina.
Diante dos fatos, é tarefa dos verdadeiros democratas e revolucionários entenderem a justa revolta do povo palestino e saudarem inequivocamente a contraofensiva começada dia 7. Não fazer isso – por ressalvas pseudo-humanistas de equiparação da violência do colonizador e do colonizado – seria subestimar a capacidade dos próprios palestinos em decidir os rumos de sua luta ou supor que não exista razão para a ação do dia 7. Isso seria subestimar todos esses anos de ocupação e todos os anos de resistência. Subestimar cada mártir, cada pedra atirada, cada criança que cresce lutando e cada Intifada.
Esse texto expressa a opinião do autor.