Camponeses com marcas de tiros vitimados pelo atentado. Foto: Fetraf
A covardia remonta a um longo processo de luta. A comunidade não tem acesso à energia elétrica por situar-se em uma área conhecida como Fazenda Lagoa, reivindicada pelo monopólio da mineração. Lá vivem, hoje, 248 camponeses, em glebas onde produzem alimentos para subsistência e para a venda local, mesmo sem acesso à eletricidade. A Vale, apesar das promessas, segue embargando, na prática, o acesso das famílias a esse direito.
No dia do atentado, segundo contam os camponeses, os pistoleiros, apresentando-se como seguranças privados, foram até o local enquanto os próprios trabalhadores faziam a eletrificação da área. A própria Polícia Militar (PM) estava presente. Mais tarde, entretanto, houve o atentado.
“Nós ficamos totalmente confiantes. Quando foi 18h, 19h fomos fazer a assembleia geral com o povo. Já estava terminando a fase de puxar a energia: os postes todos colocados, fiação. Estávamos agradecendo o povo pela luta, dizendo que aquela era uma conquista do povo pela energia, mesmo sendo um direito de todos às vezes você é obrigado a fazer luta. Daí vieram os tiros. Como à noite não tinha energia, 18h, 19h já é uma escuridão imensa na zona rural. Então, era fogo para tudo quanto que é lado. Tinham muitas crianças, muitos idosos, muitas mulheres, muita gente vulnerável e eles atirando, atirando. Resumindo: eles torturaram todos os trabalhadores que estavam lá. São mais de 20 pessoas feridas”, contou uma representante dos camponeses, Vivia Oliveira.
As imagens mostram marcas de balas de borracha nos corpos e rostos de diversos trabalhadores. Apesar da violência, Oliveira conta que não é a primeira vez que a Vale age com essa truculência contra os trabalhadores.
“Energia é um direito de todos. A Vale ontem colocou mais de 70 homens para atirar nos trabalhadores, para aterrorizar a vida dos trabalhadores e isso é uma injustiça e não é a primeira vez que a Vale faz isso. Ela fez isso outra vez na Fazenda São Luiz com trabalhadores e até hoje eles pagam um preço muito grande por um processo de saúde, bala dentro do corpo ainda. E quem pagou a culpa? Foram os próprios trabalhadores que até hoje estão pegando cesta básica por um processo criminoso da Vale que passa a mão na cabeça deles”.